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Hábitos alimentares

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Então apareceu lá em casa o tal Célio, contratado pelo meu pai para pintar paredes internas e externas. Era um sujeito de cerca de 30 anos, moreno, baixo, magro, boa prosa, alegrão, desses que podem passar por muita coisa, inclusive por pintor de paredes.

Quando contratou o Célio meu pai achou que tinha feito ótimo negócio. O pintor ficaria em casa por cerca de um mês com direito a cama e comida, mas a preço mais que razoável pelos seus serviços.

O choque aconteceu n primeira vez que o Célio almoçou em casa: era um glutão, nada o satisfazia. Minha mãe dizia que o rapaz era um saco sem fundo, capaz de ingerir toneladas de comida, sem indícios de que pararia enquanto restasse um único grão de feijão na panela. A coisa era de tal forma impressionante e o prejuízo de tal monta que o Célio não chegou a terminar os serviços para os quais fora contratado: numa brevíssima reunião familiar acertou-se o fim dos trabalhos. A turma da cozinha não dava conta de fazer tanta comida e o que não se pagava ao pintor pelo trabalho dele era em muito superado pelos gastos com a compra de alimentos.

Meu pai dizia que Célio era um gastrônomo. Não creio. Segundo o Houaiss gastrônomo é aquele que aprecia com gosto e conhecimento os prazeres culinários. O Célio comia tudo o que se colocasse à frente dele com voracidade impressionante. Não era exatamente um apreciador de boas comidas, mas um consumidor inveterado e o que mais espantava é que não se sabia para onde ida tudo o que ele comia magro e baixinho que era.

Mais tarde soubemos que o Célio não era qualquer um, tinha fama. Conta-se que quando ia visitar a sogra faziam o almoço só pra ele que comia antes de todos; depois era servido o almoço da família do qual ele não participava. Além disso, o Célio participava de competições do tipo quem come maior número de sanduiches em menos tempo e outras do ramo.

Magreza não é o forte de quem come muito, nisso o Célio era um sortudo. A obesidade é mal crescente em países com economias em crescimento e já as já estilizadas. Gastam-se fortunas em saúde pública com doenças decorrentes da obesidade, daí a preocupação dos governos com campanhas preventivas e esclarecedoras sobre os perigos da doença e cuidados com hábitos alimentares. No segmento da beleza proliferam revistas relacionadas à forma do corpo, quase sempre trazendo opções de regimes milagrosos para emagrecimento. Beleza vende e o público feminino é ávido consumidor de fórmulas para manter a forma e a saúde. Isso sem entrar no campo sempre promissor das cirurgias plásticas que prometem –e também realizam – milagres de rejuvenescimento.

Por outro lado, aos obesos crônicos restam tratamentos que variam entre dietas alimentares, atividades físicas, tratamento de distúrbios de natureza orgânica e cirurgias. Entre os meios atualmente utilizados está o balão intragástrico, uma prótese de silicone preenchida com líquido. Ele é introduzido dentro do estômago e condiciona o paciente à redução da ingestão alimentar porque, ao ocupar espaço, diminui o apetite e proporciona sensação de saciedade.

Pessoas que têm utilizado o balão relatam bons resultados embora devam se cuidar para não retornarem aos antigos hábitos alimentares após emagrecerem. Uma senhora obesa, que de forma alguma pretende fazer cirurgia, está às vésperas de receber o balão com o qual ficará por um período de três ou mais meses. Seus receios relacionam-se aos primeiros quinze dias nos quais estão previstos alguns sintomas indesejáveis. Em todo caso vai valer a pena, ela repete isso muitas vezes, esforçando-se para entrar em sintonia com um sofrimento que será recompensado.

Não sei de quem é a frase, mas popularmente se diz que nessa vida tudo que é bom faz mal ou engorda. Trata-se de exagero, mas que o dito tem as suas implicações, lá isso tem.