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Bestialidade em Recife

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Alcides do Nascimento Luz foi o primeiro classificado no vestibular da Universidade Federal de Pernambuco, em 2007. O fato não teria chamado atenção se Alcides não fosse filho de uma vendedora ambulante e oriundo de escolas públicas. Na ocasião, Alcides foi entrevistado pelo Fantástico, sendo apresentado como exemplo de superação.

No último sábado Alcides estava em frente à sua casa, na comunidade carente onde vivia com sua mãe. Dois homens se aproximaram dele e, confundindo-o com outra pessoa, deram dois tiros na sua cabeça.

Alcides tinha 22 anos e cursava Biomedicina na Universidade Federal de Pernambuco. A bestialidade dos homens que tiraram a sua vida, interrompendo uma carreira certamente brilhante, é revoltante. Lamentavelmente, estamos habituados à criminalidade que  tornou-se cotidiana. São tantos e horríveis os crimes que acontecem que somos obrigados a fazer vista grossa a eles para sobreviver com alguma paz.   Entretanto, o assassinato de Alcides é triste demais para que o ignoremos.

 De tudo isso sobra essa coisa horrível que amarga os sentidos: a náusea.

A jovem serial killer

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Lactâncio (240 d.c. – 320 d.c.), filósofo cristão, ensinou Retórica em Nicomédia e depois em várias cidades do Império Romano do Oriente. Para Lactâncio a tolerância do assassinato, acontecida em sua época nos horríveis espetáculos do anfiteatro, consistia na mais clamorosa reprovação à moral pública. Escreveu ele:

“Que é tão horrível, tão espantoso e revoltante quanto o assassinato de uma criatura humana? É por isso que a nossa vida é protegida por leis muito rigorosas; é por isso que as guerras são execradas. Contudo, a tradição romana descobriu uma maneira de autorizar o homicídio sem guerra e a despeito de todas as leis: e a volúpia reivindica para si o que é crime”.

O assassinato é um crime horrível independentemente da época em que é praticado. Nem mesmo o notório crescimento desta variante de crimes, verificado atualmente, logra banalizá-la: a opinião sempre reage defensivamente quando homicídios acontecem.

Recebemos diariamente tantas notícias de homicídios que, em geral não nos manifestamos sobre eles. Não se trata, de modo algum, de indiferença: o despudor das ações criminosas nos constrange, a impunidade nos revolta e é a impotência diante dos fatos que nos paralisa. Entretanto, há ocasiões em que o mutismo cede lugar a algum comentário ainda que breve e com o sentido de patentear o nosso estranhamento em relação a naturezas rebeldes e assassinas.

Este é o caso dessa jovem que acabam de prender, num bar, em São José do Rio Preto. Tem ela apenas 17 anos de idade e confessa ter cometido trinta assassinatos, todos eles com arma branca. Segundo os policiais, a esfaqueadora relata seus crimes detalhadamente sem mostrar nenhum remorso ou qualquer emoção: matar pessoas é para ela algo natural, que faz parte do jogo da vida.

Ainda mais interessante é a razão da confissão: a assassina relata que contou tudo antes de fazer 18 anos, ocasião em que passará a ser responsável criminalmente. Sua intenção foi, portanto, zerar a sua dívida com a sociedade porque daqui pra frente as mortes passarão a valer, esse o seu entendimento.

Não é todo dia que aparece um serial killer com uma história dessas. A polícia ainda tem dúvidas sobre a realização de tantos crimes e começa a investigar. Entretanto, fica-nos o relato frio da mocinha, a perversidade da matança em série e as perguntas sobre o tipo de desvio de que ela é portadora e que a levou a atitudes tão grotescas.

Se os crimes forem confirmados e pelo menos parte deles foi inimputável estaremos diante não da autorização, como escreveu Lactâncio, mas de uma legislação perversa que permite o homicídio. E isso é inaceitável.