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Papagaio de pirata

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Há quem dê até a própria vida para aparecer. Conheço um cara que é adepto do bloco “eu mesmo”. Para ele tudo é ele, é o que “eu fiz”, “eu construí”, não existe nada além dele. Não perde oportunidade para discursar, alonga-se nas palavras sempre tendo o cuidado de incluir algumas citações que demonstrem sua cultura. Fulano de tal disse, não-sei-quem declarou, o filósofo grego tal preconizou… e por aí vai.

Há quem faça de tudo para marcar presença junto a poderosos e importantes, embora ele mesmo não passe do suprassumo da não importância. No Brasil há do Beijoqueiro que aparece de repente nos lugares mais inusitados com a missão específica de agarrar e beijar celebridades. A carreira do Beijoqueiro teve início em 1980 quando beijou nada mais, nada menos, que Frank Sinatra. Seus lábios estiveram nas faces de Roberto Carlos, Leonel Brizola, Sara Kubistchek e muitos outros. Tal o compromisso do Beijoqueiro com sua atividade que foi necessário mantê-lo preso quando o papa João Paulo 2º esteve em visita ao país.

Notório, também, o “papagaio de pirata”, alcunha utilizada para denominar conhecido personagem que se dedica a aparecer em companhia de gente importante, sendo ele ilustre desconhecido. Jaime Dias Sabino, o Jaiminho, foi vida afora um papagaio de pirata profissional. Sempre de terno e gravata Jaiminho foi fotografado ao lado de políticos e mesmo carregando a alça de caixão em enterros de celebridades. Era um grande figurante que aparecia em velórios com aspecto consternado, dirigindo-se aos familiares do morto para cumprimentá-los. Embora muitas vezes taxado como inconveniente, Jaiminho conseguiu ser fotografado em palanque ao lado de Brizola e Darcy Ribeiro e outras vezes com celebridades.

Conheço um cara - não sei se ainda está vivo - que no dia da morte de Vinicius de Moraes mostrou-se muito consternado em seu ambiente de trabalho, dizendo que acabara de perder um grande amigo. Ato contínuo pegou o telefone e ligou para o Rio, sendo atendido pela filha do poeta morto com a qual conversou longamente, lamentando a perda do amigo. Infelizmente o telefone no qual o meu conhecido falava - para todos ouvirem, aliás - tinha extensão de modo que se verificou que na verdade ele não falava com ninguém, tratava-se de um monólogo com a intenção de impressionar os presentes.

Mas, Jaiminho, finalmente morreu e teve o seu velório ao qual nenhuma celebridade compareceu. Acompanhado por oitenta pessoas o “papagaio de pirata” foi enterrado, merecendo ser notícia nos jornais. Está vago, portanto, no país, o ofício de intrometer-se ao lado de pessoas importantes para ser fotografado ao lado delas.

Escrito por Ayrton Marcondes

26 outubro, 2013 às 2:08 pm

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