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Filme: Minhas mães e meu pai

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O que acontece quando um rapaz de 15 anos de idade insiste em conhecer o próprio pai sobre quem apenas sabe que doou o esperma que o gerou?

Essa situação aparentemente banal serve como ponto de partida para uma trama complexa que envolve um conceito diferente de família. Um casal de lésbicas, Jules (Julianne Moore) e Nic (Annete Bening), que vivem juntas há 20 anos, fez uso do esperma de um mesmo homem, Paul (Marc Ruffalo) para engravidarem. Jules é mãe de Laser (Josh Hutcherson) e Nic mãe de Joni (Mia Wasikowska).

Joni e Laser são dois meios-irmãos, filhos de um mesmo pai ao qual não conhecem, criados por Jules e Nic. As relações estáveis entre essas quatro pessoas complica-se quando os dois jovens decidem procurar pelo pai. A entrada desse novo personagem no cotidiano da família desestabiliza a união de Jules e Nic. Paul é um sujeito interessante, dono de restaurante, que vê com bons olhos a chegada dos filhos cuja existência desconhecia. Para complicar Jules sente-se atraída por Paul que se apaixona por ela. Entre os dois estabelece-se uma relação íntima que acaba por ser surpreendida pela dominadora Nic, na verdade uma espécie de homem da família.

Como seria de se esperar a complexidade dos sentimentos que afloram tende a esgarçar as relações entre as pessoas, com desgastes inevitáveis. É em torno desses acontecimentos que gira o enredo proposto pela diretora Lisa Cholodenko cuja intenção, ao que parece, era de fazer uma comédia. Entretanto, o filme não faz rir, embora a boa dose de humor nas situações criadas. Na verdade o riso do espectador é contido por certo nó na garganta diante de uma situação que envolve a dramaticidade de uma relação comum, mas à qual não se está habituado. Visto de perto, o drama dos jovens que se ressentem da falta de pai sugere que a fuga da forma habitual de família pode ser problemática, sendo necessário muito jogo de cintura para que as pessoas envolvidas se adaptem à realidade que lhes é imposta.

Assim, paira sobre o filme o peso da família tradicional, também ela cheia de problemas, mas instituída como forma de relacionamento habitual. Laser e Joni, ao procurar pelo pai, mais que a um elo de suas existências, correm atrás do que é tradicional. Não são raros os momentos em que os jovens demonstram o seu estranhamento face ao casal de Jules e Nic.  De fato, a união entre as duas não parece tão transparente ou aceitável a Laser que, por mais de uma vez, questiona detalhes do relacionamento.

Talvez realizado por ser mais leve “Minhas mães e meu pai” levanta questões que não resolve, deixando-as em aberto. Há muito de novo e inolvidável no modo de vida de uma família que foge ao padrão tradicional, mas que, nem por isso, deixa de ser uma família. Louve-se no filme a fuga a preconceitos e a liberdade de expressão que propõe reflexão àqueles que não aceitam formas diferentes de relacionamentos.

Por fim, importa dizer que acima de tudo está o amor entre as pessoas. A mensagem do filme parece ser a de que se as escolhas que fazemos nos fazem sofrer ainda assim compensam desde que exista o verdadeiro amor. É ele que mantém a família unida apesar das adversidades as quais, aliás, verificam-se em todas as configurações familiares, tradicionais ou não.