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Dia dos pais

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Certa vez um amigo me disse que tentava dar aos filhos o que não recebera de seu pai. Referia-se a amor, carinho, atenção e cuidados. Em viagem que fizeram juntos - o avô, meu amigo e os netos – houve um incidente. Meu amigo brincava com as crianças quando seu pai, subitamente, disse que se arrependia por não ter dado atenção igual a ele. Ao ouvir o pai meu amigo se retraiu. Depois, disse-me que não seria agora a ocasião de acertar as coisas. O pai fora ausente, nunca dera carinho a ele e isso sedimentara-se a ponto de tornar-se definitivo. O amigo ressentia-se, entre ele e seu pai as portas estariam para sempre fechadas. Nesse assunto específico relações irreconciliáveis.

Penso que, talvez - ressalte-se o talvez - os pais nascidos na primeira metade do século XX não teriam sido educados de forma a se abrirem em contatos menos formais com os filhos. Pode ser exagero, mas não me lembro de ter presenciado, em minha infância, tantas amabilidades entre pais e filhos de diversas famílias. Não se trata, obviamente, de afirmar que pais e filhos não se amassem. Apenas, não demonstravam, pelo menos em público, a afetividade que hoje vemos a toda hora. Verdade que eram outros tempos, outro mundo. Homens, chefes de família, tinham seu lugar de honra na estrutura familiar. Mulheres na maioria dos casos dedicavam-se a cuidar da casa e dos filhos, situação muito diferente da que hoje se observa, tal o grau de conquistas que o sexo feminino tem conseguido no mercado de trabalho, embora ainda insuficientes.

Eram homens mais empertigados, diferentes dos pais de hoje, esses mais despojados que a todo momento abraçam e beijam as crias.

Não me lembro de um só abraço ou beijo fraterno de meu pai. Éramos e sempre fomos distantes. Durante toda a vida dele não conseguimos alcançar nível de relacionamento semelhante ao que hoje se observa. Verdade que no fim de sua vida meu pai tentou aproximar-se. Mas, era tarde. Homem formado e há muito morando em outras cidades não me empenhei em reconstruir algo de que tanto me ressentia.

Se me arrependo? Não sei. Creio que para pessoas como meu amigo e eu, nascidos na virada dos anos 40 para os 50, certas coisas acabaram pesando demais. Entretanto, a cada ano quando nos aproximamos do dia dos pais, não deixo de pensar naquele homem que foi meu pai. Repasso situações vividas e daria tudo para estar com ele por alguns instantes. Teríamos, talvez, muito a nos dizer. Ou ficaríamos calados, olhando-nos, tentando romper barreiras que sempre impediram que nos abraçássemos.