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Censura e perseguição: de volta aos velhos tempos

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A América Latina sempre foi um território experimental. Aqui as teorias políticas dos países mais ricos e desenvolvidos estabeleceram formas de dominação que se arraigaram na cultura dos povos. Foi desse modo que os nativos passaram de dominados a dominantes estabelecendo-se hierarquias locais ideologicamente comprometidas. De tal situação emergiram governantes, ora caudilhos, ora populistas, quase nunca democráticos, mas que rezaram e rezam numa mesma cartilha de conhecimentos obtidos à meia boca e dirigidos à preservação do poder.

A triste história da América Latina consiste no revezamento de líderes que acenam com propostas democráticas, mas não por inteiro. Isso quando decididamente optam por linhas ditatoriais preservadas através de mecanismos repressivos que incluem a censura, a tortura, a restrição de liberdades individuais e todo um arsenal de medidas bem conhecidas e já vividas pelos povos do hemisfério sul.

Talvez seja possível dizer que Deus, caso exista, não tem tempo para cuidar dos destinos da América Latina. Ou terá Ele, em seu divino cansaço, delegado o controle do continente a algum arcanjo distraído que, tendo outros afazeres, vai deixando para depois a verificação do que acontece no nosso continente.

Se assim for, é preciso avisar ao responsável celeste pela América latina, que a coisa aqui está brava. Acontece que foram necessários muitos anos para que a democracia e a liberdade retornassem aos países do continente. Daí que mesmo não se podendo dizer que está tudo bem, não temos notícias sobre presos políticos, torturas etc. Existem sim, ainda, alguns grupos extremistas como as FARC, que mais parecem continuar existindo por não se encontrar fórmula para que retornem à legalidade. O fato é que, permanecendo na ilegalidade, comportam-se em acordo com o figurino de ações que delas se esperam, mantendo alguns presos e assim por diante.

Mas, o que importa mesmo dizer é que sabemos quanto custa a liberdade e a democracia, já que vivemos sem elas no passado. Isso é mais ou menos como passar fome: mesmo em períodos de abundância quem já teve fome teme passar de novo pela mesma situação.  

O fato é que, nos dias atuais, existem razões para temermos pela não continuidade da liberdade hoje existente. Pode parecer praga, mas a verdade é que neste momento histórico os países sul-americanos de maior projeção estão sendo governados por pessoas que vão tomando gosto pelo poder e passaram a agir nos moldes de governos anteriores aos quais eles mesmos combateram.

É desse modo que antigas sinalizações de perigo reaparecem, avisando-nos que o regime sob o qual vivemos corre sérios riscos. Todo mundo conhece bem a história da centralização do poder, das medidas restritivas tomadas segundo o interesse de grupos dominantes e da prática da mordaça de que se servem os detentores do poder quando passam a confundir seus interesses pessoais com os interesses de Estado. Esses sinais são muito perigosos, são como nuvens negras que anunciam chuvas que de fato acabam desabando.

Não por acaso as coisas acontecem simultaneamente, fazendo-nos lembrar de tempos que o melhor seria esquecer. No Brasil a cúpula que governa o país entrega-se a desvarios de poder, entre eles a corrupção e agora a censura ao jornal “O Estado de São Paulo”; na Venezuela, Hugo Chaves fecha canais de televisão opositores ao seu governo, ataca jornais etc; na Argentina o jornal “El Clarín” recebe a visita de mais de cem fiscais da Receita Federal numa evidente retaliação do governo a críticas que vem recebendo.

Pode ser que alguém discorde achando que não existem motivos para preocupação, mas a América Latina é a América Latina, ela tem um passado terrível e Deus ou o arcanjo por Ele nomeado parecem não estar muito atentos ao dia-a-dia do continente.