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Notícias de Manaus

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Um amigo que mora em Manaus reapareceu de repente, cheio de novidades sobre a capital do Amazonas. Ele está aqui só por alguns dias, visitando parentes e amigos. A febre dele em falar sobre “aquele outro mundo” chama a atenção. Em tudo o que relata não dispensa comparações com a região sudeste, essa última incomparavelmente melhor na opinião dele, a começar pelo clima:

- Lá a temperatura média é de 36º. Com essa temperatura e a grande umidade o calor torna-se insuportável. O suor desce pelo pescoço, a camisa fica sempre molhada. Acostumar-se a isso é difícil.

O meu amigo é um homem prático e suas atividades estão ligadas ao setor da construção civil. Reclama do péssimo atendimento no comércio de Manaus que atribui à falta de educação coletiva. Acrescenta que, entretanto, Manaus é uma terra de oportunidades: quem tiver dinheiro para investir e quiser enfrentar o calor que não perca tempo: Manaus é o lugar certo e quem se aventurar, trabalhando bem, ganhará muito dinheiro.

No mais o meu amigo fala sobre a violência que é grande, o custo de vida muito alto e destaca a beleza da Amazônia, o fabuloso encontro das águas, os passeios pela selva e assim por diante. Critica os políticos locais e a falta de estradas. A estrada federal, BR 230, está intransitável e, segundo diz, o transporte de passageiros e cargas só se faz por avião ou barco; além disso, afirma, não há interesse na melhora das estradas porque políticos importantes são donos do sistema de transporte por via aquática.

A referência à BR 230 – a Rodovia Transamazônica - me devolve à época do regime militar, do sonho de Brasil Grande. Obra projetada durante o governo do então presidente Emílio Garrastazu Médici a Transamazônica era mostrada como grande avanço de integração das regiões norte e nordeste com o restante do país. Com todos os percalços da construção a rodovia foi inaugurada em 1972 e até hoje fica intransitável em épocas de chuva nos longos trechos não pavimentados.

Assunto que me leva ao ufanismo de 1970 incrementado pela conquista da Copa do Mundo naquele ano. E ao programa televisivo do Amaral Neto, o Repórter, cuja intenção era mostrar a grandeza e a riqueza do Brasil. Caía bem numa época de repressão em que o governo militar empenhava-se num projeto desenvolvimentista. Hoje seria de uma chatice incomensurável. Amaral fazia apologia das riquezas do Brasil e não se pode negar uma abordagem ecológica do país, embora muito conservadora.

Ao fim da conversa pergunto ao meu amigo por que, com as críticas que faz, ele ainda vive em Manaus. Ele responde que se casou por lá, ganha bom dinheiro e que só sente mesmo falta é de mulher bonita. Para ele aqui no sudeste a gente vê muita mulher bonita em locais públicos. Pela ótica dele as amazonenses são feias.

É um cara interessante esse, desgarrado de sua região e ainda sob o impacto da inevitável diversidade do país. Está-se acostumando no norte e pelo jeito não volta mais. Entretanto, precisa pensar que não está amarrado daí ter o retorno sempre em mente. Mas não volta, não volta mais não.

Salvem a onça-pintada

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photo_13738_20090828A onça-pintada (Phantera onca) está desaparecendo em biomas brasileiros como a Caatinga e a Mata Atlântica. Quem dá o alerta é o Cenap (Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Mamíferos Carnívoros). Segundo esse órgão ligado ao Ministério do Meio Ambiente o problema é crítico na Caatinga onde se estima existirem 365 animais, divididos em cinco áreas, sendo que apenas metade deles encontra-se em idade reprodutiva. Segundo pesquisadores, na Mata Atlântica existem no momento somente 170 indivíduos maduros. A situação é melhor no Pantanal do Mato Grosso e na Amazônia.

Segundo notícia foi publicada pelo jornal “O Estado de São Paulo” no dia de ontem, as causas apontadas para a diminuição da população de onças são o desmatamento e a falta das presas.  Outro grande fator a afetar o desaparecimento das onças é a perseguição que elas sofrem por parte de fazendeiros dado atacarem os rebanhos para se alimentarem.

Ao leigo pode ocorrer perguntar: e daí, o que muda num mundo sem onças? Deixando de lado a importantíssima perda de patrimônio genético ligada à extinção da espécie destaque-se o importante papel da onça-pintada em seu papel de predação dentro dos ecossistemas em que vive. Predação é a destruição violenta de um indivíduo – a presa -por outro – o predador. A predação é muito importante porque serve como fator de regulação do tamanho das populações de presas. Isso quer dizer que sem predadores as populações de presas crescem muito, acarretando sérios problemas aos ecossistemas cujo equilíbrio é alterado.

Assim, a redução ou o desaparecimento das onças-pintadas têm reflexos sobre os ecossistemas onde elas vivem. No Pantanal, por exemplo, a onça-pintada alimenta-se de animais herbívoros como a anta, o cervo-do-pantanal e a capivara. Uma diminuição do número de onças resulta no crescimento das populações das suas presas, os herbívoros, que passam a consumir as pastagens com prejuízo dos rebanhos criados nas fazendas. Por esse motivo a perseguição dos fazendeiros à onça pelo fato de ela matar o gado têm como consequência  a redução das pastagens que servem de alimento ao mesmo gado.

É preciso considerar que cada bioma tem as suas próprias características, sendo habitado por comunidades de seres diferentes. Segundo informam os pesquisadores que estudam as populações de onças, na Caatinga o fato de tatus e porcos-do-mato serem consumidos por parte da população humana acaba gerando falta de presas para as onças, contribuindo para a sua extinção.

Existem propostas para evitar o desaparecimento das onças-pintadas. Uma delas é a interligação de regiões onde atualmente vivem populações desses animais isoladas umas das outras. Há quem recomende investimentos na Amazônia onde ainda existem regiões de mata virgem nas quais as onças sobreviveriam e se multiplicariam. Propõe-se, também, pagar aos fazendeiros pelo gado perdido por ataques de onças para que eles deixem de matá-las.

A onça-pintada é o maior felino das Américas. De hábitos noturnos, predadora, chega a pesar 135 kg e é encontrada em biomas brasileiros nos quais está ameaçada de extinção. Urge proteger a espécie e evitar o seu desaparecimento.