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As férias vem aí

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O agente de turismo mostra fotos de lugares distantes, paradisíacos. Indecisos, ficamos entre um destino e muitos outros; quando escolhemos um deles passamos aos hotéis e, de novo, ficamos em dúvida.

Temos poucos dias para sair um pouco, não podemos errar. Ponderamos sobre custos e benefícios afinal quase nunca saímos, então que tal o hotel cinco estrelas, merecemos, não?

Conversamos mais através de olhares que por meio de palavras. Ela quase não contém o seu entusiasmo. Estamos enfim prontos para fechar quando ela decide refletir mais um pouco, talvez descansássemos mais se fôssemos para um desses resorts em praias do nordeste, precisamos de sol e umas caipirinhas para por os nervos em ordem, olhe que o ano foi muito difícil.

O agente interrompe o que está fazendo no computador, cancela o pacote já quase fechado e fica olhando para nós com uma imensa cara de interrogação. Há pessoas esperando lá fora, muita gente viaja nessa época do ano e nós dois aqui embaçando, demorando demais para tomar uma decisão.

Entramos no mundo dos resorts e a primeira coisa que vemos é uma foto de entardecer com uma barraca de praia onde se vendem iguarias e uma moça de maiô que não olho muito porque ela está atenta e sempre diz que privilegio coisas que têm algum erotismo. Depois falamos sobre os hotéis e estamos prontos para optar por um quando o vendedor descobre que as reservas estão esgotadas, nessa época do ano o movimento é grande, os senhores que me desculpem, mas calma, temos outras opções.

Sobre a mesa há uma foto de criança recém-nascida. O agente percebe que estou olhando para a foto e sorri dizendo que é a filha dele, agora com três meses. Ela pergunta ao vendedor se a criança está dando trabalho e ele, muito alegre, diz que se trata do melhor trabalho do mundo, nada paga isso de ter uma criança em casa, ainda mais quando se trata do primeiro filho.

Estou assim, esperando, enquanto ela pergunta sobre outras opções de viagens. O celular vibra no meu bolso e penso que talvez seja alguém precisando de mim, alguém que vai me tirar daqui, dessa imensa indecisão. Enfio a mão no bolso, pego o telefone, mas ele parou de vibrar, talvez nem tenha vibrado de verdade porque o que eu queria é me livrar disso tudo, nem que fosse falando sobre um assunto absurdo com alguém que nem mesmo conheço.

Quase uma hora depois o vendedor mostra sinais de impaciência que depressa evolui para irritação. É quando digo a ela que o melhor é ir para casa, pesquisar na internet, pensar melhor e voltar quando tudo estiver decidido. Ela faz mais algumas perguntas, o agente responde com má vontade e enfim nos levantamos e saímos, indo ao encontro aos olhares furiosos das pessoas que aguardam a sua vez.

Há alguns anos pensamos em fazer uma viagem de férias para conhecer um pouco do mundo fora da cidade em que moramos. O problema é que nunca conseguimos decidir para onde ir, daí que ficamos aqui, trancados em casa, eu assistindo aos programas de televisão, ela lendo revistas de viagens e traçando roteiros que poderemos fazer nas próximas férias.

Escrito por Ayrton Marcondes

31 outubro, 2009 às 9:56 am

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