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Ernesto Sábato

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Morreu o argentino Ernesto Sábato, reconhecido internacionalmente como grande escritor. Interessante o fato de que ele não se considerava escritor de ofício. Físico nuclear de formação, com passagem pelo MIT, professor universitário em seu país, Sábato deixou a profissão para escrever e pintar.

Como em outros casos não importa muito se Sábato se considerava principalmente escritor ou não: escreveu livros importantes como “O Túnel”, “Abadon, o exterminador” e “Sobre heróis e tumbas”. Antes disso, participou ativamente de movimentos comunistas e, anos mais tarde, presidiu a Comissão Nacional sobre o Desaparecimento de Pessoas. De sua participação investigativa sobre crimes ocorridos durante a ditadura argentina surgiu o livro “Nunca Más” que viria a impulsionar o julgamento de militares ativos durante o período ditatorial.

Dos livros de Sábato o que me é mais caro é “O Túnel”. Aqui chamo a atenção para o fato de que o efeito de um livro sobre seu leitor depende de características circunstanciais da vida desse leitor e daquilo que ele busca naquele dado momento. Se lermos o que se escreveu sobre “O Túnel” veremos que muito tem-se destacado a tendência existencialista do Autor e o temário da incomunicabilidade e da solidão. A personagem principal, Juan Pablo Castel, é um assassino confesso que matou a única pessoa que podia compreendê-lo e a quem amava. Castel narra em primeira pessoa e está preso a um labirinto de reflexões gerado por sua obsessão insana. O título do livro nasce da constatação de que os homens criam túneis para levarem suas vidas, fato que impede encontros e os sentencia à irrevogável solidão. Resta, portanto, o sofrimento, a obsessão e a perda de sentido da vida.

Mas não foi esse cunho existencialista o que me impressionou na época da leitura de “O Tunel”. Embora soubesse de antemão do grande elogio de Albert Camus ao livro de Sábato, desde a primeira página prenderam-me o modo narrativo propriamente dito e os recursos técnicos utilizados pelo Autor. Afinal, um romance cuja primeira frase é “Basta dizer que eu sou Juan Pablo Castel, o pintor que assassinou Maria Iribarne” não deixa de estabelecer com o leitor um pacto diferente porque, de antemão, parece desfazer-se o mistério da ação a ser narrada. Trata-se de uma história na qual o narrador é confiável e declara seu crime, mas que, ainda assim, o leitor é conduzido dentro de um labirinto que, em certos momentos, o leva a indagar se o crime realmente aconteceu. Talvez por isso o livro de Sábato tenha me impressionado mais pelo aspecto narrativo que pelo seu conteúdo profundo relacionado à obsessão e solidão. Para o leitor que fui à época da leitura de “O Túnel” o aspecto narrativo foi o que mais me atraiu no livro.

A Sábato aconteceu o mesmo que a Aldous Huxley que faleceu no mesmo dia em que John Kennedy foi assassinado, daí sua morte ter passado despercebida. Ernesto Sábato desaparece no momento em que as atenções estão voltadas para a morte do terrorista Osama bin Laden. Talvez, passado esse período, tenhamos novas resenhas e reedições dos livros de Sábato.