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A renúnica do papa

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A renúncia do papa Bento 16 confunde a opinião por inesperada. Na cabeça do povo papas morrem, realiza-se o conclave e dele surge o substituto eleito pelos cardeais hábeis ao voto - é preciso ter menos de oitenta anos de idade para ter direito ao voto de escolha do novo papa. Mas, papas renunciam? E como ficam os fiéis para quem o papa é o substituto de Jesus na Terra?

Fui criado dentro da fé católica. Minha mãe me levava às missas aos domingos que eram celebradas em latim. Aliás, o latim era matéria ensinada nas escolas. Ainda hoje sou capaz de recitar as cinco declinações latinas com exemplos, conforme aprendi na escola pública. Valorizava-se o latim do qual o português é derivado. A coisa era séria. Hoje em dia estão saindo das faculdades professores de português que não têm aulas de gramática normativa durante o curso superior. Muitos preferem ensinar a língua falada ao invés da linguagem culta daí que os alunos deles enfrentarão dificuldades em se expressar corretamente. Agora imagine-se o que aconteceria se alguém propusesse a volta do latim…

O papa tem representação maior do que a teatralidade da posição confere a ele. Ele é o guia de milhões de pessoas em todo o mundo que professam a fé católica. Há na figura papal algo que sugere ligação entre mundos, um sentido de travessia desta para outra vida na qual as verdades da fé se confirmarão. Milhões e milhões de pessoas acreditam nisso daí a figura do papa ser emblemática num mundo onde a fé surge em socorro a tanta confusão, desigualdades e injustiças.

Pelo que não se pode fugir à pergunta: um homem investido em cargo de tão alta envergadura pode simplesmente renunciar? Se pode ou não isso parece não importar porque o fato é consumado: o papa renunciou. A notícia caiu como bomba não só nos meios católicos e terá reflexos, não se sabendo ainda de que extensão.

Por que Bento16 desistiu? Hipóteses são levantadas, valorizando-se a idade avançada do papa que teria saúde frágil, daí não estar apto ao comando da igreja em todo o mundo. Mas, logo esta hipótese foi desmentida por um alto membro do clero do Vaticano que veio a público para dizer que o papa está bem de saúde. Renunciou porque renunciou e é possível que o segredo da sua renúncia pertença só a ele.

Há quem veja na renúncia um gesto de grande humildade porque Bento 16 deixa o poder enorme que detém em suas mãos. Outros atribuem a renúncia a questões políticas derivadas de uma divisão do clero ocorrida pela divulgação de documentos secretos que vazaram no Vaticano.

Enfim, a renúncia do papa está dando o que falar e percebe-se alguma desorientação nos pronunciamentos. Ninguém quer se comprometer aventado hipóteses que talvez jamais venham a ser confirmadas. Mas, o mais difícil de compreender é como alguém que se tornou papa pode desistir de continuar a sê-lo. Não se trata de uma renúncia a cargo político: maior que isso é a ligação do cargo com aquilo que não se conhece, com o poder que emana de uma crença que existe há mais de dois mil anos, poder esse legado por Jesus a São Pedro e dele aos pósteros ao longo de vinte séculos.

Não é o caso de se dizer que vale esperar por alguma explicação porque ela certamente não virá. Um novo papa será eleito e a vida continuará. Se as coisas serão as mesmas na religião só o tempo responderá.