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Cemitérios

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Há quem passe ao largo deles. Mas, muita gente se demora a perder o vínculo com as pessoas queridas.

Na vida agitada dos dias atuais nem sempre tem-se tempo para reverenciar os mortos. Damo-nos conta disso quando comparecemos a um velório. Então trata-se de contato direto com a morte do qual não se pode fugir.

As circunstâncias do velório são devastadoras. Talvez por isso as pessoas aproveitem-se da oportunidade para reencontrar-se e falar sobre diversos assuntos. As conversas de velórios na verdade representam fuga à realidade da presença da morte. O que se quer é não pensar na própria vez de estar lá, no lugar do morto do dia, dentro do esquife que em pouco será fechado para sempre.

Dentro do caixão, inerte, está o falecido. Olhamos para a pessoa e nos damos conta de que deixou misteriosamente de existir. Lembramo-nos da pessoa viva, de suas lutas, suas falas, seus amores, seus ódios, suas disputas, do amor dela ao que possuía, das bebidas de que gostava, das músicas que ouvia… Mas, para quê? Teria apessoa pensado alguma vez que no fim tudo daria em nada, que da vida nada levaria, que em pouco ela seria passado e dela quase ninguém se lembraria.

Pois é, velórios são devastadores. Eles nos fazem ponderar sobre os nossos limites e o fato de que mais hora, menos hora, chegará a nossa vez. Mas, importa dizer que a vida é mais forte. Saímos do velório compungidos, entramos no carro ainda reflexivos, mas isso não dura.

Na medida que damos as costas à morte a vida nos ocupa com força e de novo estamos em nosso meio, o dos vivos. Então voltamos a experimentar a deliciosa sensação de eternidade, de obstáculos a transpor, de batalhas a serem vencidas.

Não importa que o que passamos a sentir não seja completa verdade. Fora do cemitério a vida é quem manda.