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A necessidade de mentir

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Dizem que todo mundo mente pelo menos uma vez por dIa. Desde que li sobre isso tenho me policiado. Será que vivo a mentir sem me dar conta disso?

Há gente que não sabe mentir. Conheço pessoas que se traem ao contar uma mentira. Para elas sinais como rubores na face são incontroláveis. Tive um amigo que ficava vermelho até quando dizia a verdade. Por outro lado existem os caras duros que não dizem nada até mesmo sob tortura. E há os que vivem em mundos imaginários, supondo que dizem a verdade sobre ficções que arrancam da própria cabeça.

Ao que parece o homem precisa mentir, ainda que sejam mentiras discretas, mentirinhas. A mulher que trai mente ao marido. Eis aí um caso em que dizer a verdade pode não ser conveniente. Conheço um cara, apaixonado pela mulher, que acabou metendo-se numa traição. Durante viagem conheceu uma mulher no hotel onde se hospedava. Para encurtar acabou passando a noite com ela. O diabo foi que se arrependeu. Atormentado pela culpa confessou o erro à esposa. Tomou. um pé no traseiro e hoje vive separado, embora continue apaixonado.

Mas, que dizer quando se trata de mentira completamente desnecessária? Em pauta o caso do âncora da TV norte-americana que mentiu sobre estar num avião atacado durante a guerra no Iraque. O azar do âncora foi um militar divulgar que não se lembrava da presença dele no tal avião. Então, não teve jeito senão confessar a mentira. A consequência foi suspensão de seis meses sem salários e muitos dizem que esse foi o fim da carreira. Agora,  por que um sujeito de tanta projeção, o Bonner dos americanos, precisava de uma mentira dessas?

Vai saber o que se passa na alma humana. Mas, se é verdade que todo mundo mente, realmente não sei como classificar as pessoas que não sabem mentir. Há muitos anos um rapaz, meu parente, morava numa pensão em São Paulo e foi roubado. Acontece que o ladrão foi pego e o meu parente, juntamente com outros moradores da pensão que foram roubados, foram chamados a uma delegacia para depor. Eram onze da noite quando meu parente me ligou: estava desde o fim da tarde na delegacia e não sabia o que fazer.

Bem, fui socorrê-lo. O ladrão surrupiara dele uma camisa velha. Combinei com ele dizer ao delegado que o roubo fora de pouca monta, assim e dadas tantas testemunhas, pedia para ser dispensado. Treinamos bem a encenação e, quando houve oportunidade, fomos ao delegado. Como combinado eu disse ao delegado que ficaria tudo bem caso o rapaz ao meu lado fosse dispensado. Então o delegado perguntou a ele se realmente não fazia questão da camisa.  Nessa hora olhei para o rosto do rapaz. Suas feições assumiram tom avermelhado e ele declarou:

- Faço questão, sim senhor.

Saímos da delegacia às quatro da madrugada, logo depois do meu parente depor sobre a camisa que fora roubada.