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As pragas

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Vejo pessoas prometendo-se coisas, mudanças, para o ano que começa. Na TV mulheres se reúnem para promessas em relação ao ano que começa. Uma delas confessa atração irresistível pelo consumismo. Relata morar num apartamento enorme, com muitos e muitos armários, todos eles abarrotados de roupas, sapatos etc. Ainda assim ela sofre de necessidades urgentes de sair para comprar coisas, sendo que na verdade, não sabe direito o que tem em casa. Aconteceu a ela pagar fortuna num vestido e, depois, descobrir um no guarda-roupa, mesmo tecido, mesma cor, mesmo corte. Idênticos.

Outra mulher do grupo fala de seu fascínio pelo mundo do entretenimento. Ela não consegue ficar uma noite sequer em casa, precisa sair para um jantar, o cinema, o teatro ou algo que a distraia. Desde que ela se separou a cerca de um ano a vida se tornou um porre de diversões continuadas que começa cedo, logo depois de acordar, com a busca na internet sobre o que há para se fazer. Dinheiro para tais aventuras certamente não falta a ela.

A terceira é vitimada pelo vício da gula que é um perigo porque faz engordar. Daí que ela se submete a todo tipo de regimes alimentares, afora passar algumas horas do dia numa academia, fazendo exercícios. Ela morre de fome, mas traz a geladeira vazia para resistir às tentações. É louca por doces, qualquer doce, mas a preferência é por chocolate. Na véspera tomou em casa de uma amiga um bolo-sorvete de chocolate admirável, coisa caída dos céus. Uma loucura!

Do grupo a mais quietinha é a quarta mulher que ouve as amigas sem dizer palavra. Na vez dela começa perguntando o que, afinal, as outras fariam no ano que começaria. Ouviu da primeira a intenção de reduzir o consumo, da segunda a promessa de ficar mais em casa curtindo a família, da terceira o juramento de passar a se alimentar como pessoa normal. Só então a quarta disse às amigas que no novo ano pretendia fazer tudo o que nunca fizera porque sempre fora contida e recentemente concluíra que a vida era curta demais para tantos nãos a si mesma. A partir de agora seria pela primeira vez consumista, procuraria todo tipo de entretenimento e comeria o que lhe desse na telha.

Quando a quarta mulher se cala as outras três se entreolham. Ficam mudas até que a primeira, aquela do consumo, diz que pensando bem a última tinha razão, daqui a pouco estarão velhas e de que terá adiantado tanto sacrifício.

O mais provável é que, durante o ano, as mulheres continuem a ser como sempre foram. Pelo que um filósofo que também assistiu ao programa depois comentou que as pragas do mudo vieram para ficar, enraizadas que são na alma das pessoas. Mas, houve quem discordasse dele, começando pelo fato de que como homem tende a ser machista daí não compreender bem as necessidades das mulheres.