a matraca em “O alienista” at Blog Ayrton Marcondes

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Fake news

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A moda dos “fake news” segue adiante, confundindo as pessoas. Por vezes torna-se muito difícil separar o joio do trigo, a verdade da mentira. Deturpar as palavras de alguém virou rotina. Eis que o que teve seu discurso deturpado vem a público para desmentir o que não disse. Mas, é tarde. A fake já se espalhou a muitos crédulos passam a tê-la como verdadeira.

As redes socias são pródigas na divulgação das fakes. Alguém publica alguma coisa e, rapidamente, o texto é copiado, chegando a centenas de grupos. Acontece da fake ser tão bem elaborada, oportuna, que a adotamos como verdadeira. Daí os transtornos provocados.

Os meios de comunicação, em geral jornais, abrem sessões nas quais publicam desmentidos sobre “fake news”. Em épocas eleitorais as fakes são muito úteis para a condução dos mais desavisados a votos impensados. Há quem se eleja por conta de publicações favoráveis e nem sempre verdadeiras. Há candidatos que são muito prejudicados.

Mas as fakes sempre existiram, embora não tivessem esse nome. Em “O alienista” Machado de Assis descreve o modo de divulgação de notícias na cidade de Itaguaí. A coisa era feita através de um homem que percorria a cidade com sua matraca. Nas palavras do escritor:

“De quando em quando tocava a matraca, reunia-se gente, e ele anunciava o que lhe incumbiam, - um remédio para sezões, umas terras lavradias, um soneto, um donativo eclesiástico, a melhor tesoura da vila, o mais belo discurso do ano, etc.”

E Machado conta sobre um vereador da cidade sobre quem constava ser perfeito domador de cobras e macacos. Havia quem jurasse tê-lo visto com cascavéis dançando sobre o seu peito. Como o vereador mantinha sua fama? Machado explica dizendo que ele “tinha o cuidado de fazer trabalhar a matraca todos os meses”.

Enfim. Não sei se todos já ouviram o ressoar das matracas. Dos meus tempos de menino, no interior, lembro-me das matracas soando nos dias da Semana Santa. Um coroinha da igreja, devidamente trajado com sua túnica, seguia pela rua, matracando. Era um modo de lembrar aos mortais sobre os perigos do pecado e a importância da fé.

Cada época tem suas fakes, variando o meio de divulgá-las. O hábito de mentir também pertence ao homem.