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Educação: desempenho e recompensa

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educacaoLeio artigo do N.Y. Times no qual se discute a validade de programas de recompensa a alunos por desempenho. Lisa Guernsey, a articulista, relata que, nos EUA, os programas de recompensa estão proliferando e estudantes podem ganhar centenas de dólares por estudar e obter boas notas. Obviamente, não há consenso entre educadores, psicólogos, economistas e empresários sobre a validade dos programas. Da condenação de psicólogos até a afirmação de economistas de que é preciso ultrapassar idéias preconcebidas existe vasta gama de opiniões.

Do Times para a mídia brasileira encontramos um continente de notícias nada boas: professores da rede pública trabalham sob pressão sendo fisicamente ameaçados; escolas mal aparelhadas onde falta até água; baixos salários e professores mal preparados a ponto de excepcional número deles obter zeros em recente prova da Secretaria Estadual da Educação de São Paulo; fraco desempenho dos alunos; e por aí afora.

O ensino é ruim em muitos países e todo mundo sabe disso. Entre nós, a opção por escolas particulares não é só uma questão de preferência: preocupados com os filhos, pais são obrigados a investir em sua formação. Deriva daí o melhor preparo dos estudantes de escolas particulares em relação às públicas e a conseqüente disparidade de aprovações entre as duas categorias em exames vestibulares.

Colocados esses parâmetros e sem entrar no mérito da justiça ou não na adoção de cotas, fica a pergunta: e como andam os nossos estudantes em relação ao desempenho, mesmo aqueles que estão em boas escolas e dos quais se esperam resultados satisfatórios? Seriam eles estimulados caso fossem adotadas recompensas por desempenho?

Para quem é do ramo parece que a crise atual não se resolve com pagamentos. Podemos, sim, elencar aspectos que concorrem para o mau desempenho de muitos alunos como falta de estrutura familiar, despreparo de professores,  ausência dos pais do cotidiano de seus filhos, a parafernália eletrônica disponível que rouba a eles horas de estudo ou simplesmente a miséria. Mas, maior que isso e aliada a toda a problemática do setor, é a estigmatização nacional de que a cultura não vale a pena, de que se pode alcançar sucesso sem esforço e enriquecer com golpes de sorte ou corrupção. Num país em que campeia a impunidade e proliferam exemplos nada edificantes o que se pode esperar da juventude em formação?

Neste Brasil de valores tão confusos é até possível que a oferta de recompensas por boas notas tenha algum resultado satisfatório pela idéia de substituição do hábito e da obrigação pelo ganho inesperado e fácil. Entretanto, caso isso ocorra, talvez os bons efeitos obtidos por essa política não sejam duradouros.

Entretanto, não custa tentar. Nesse sentido a Secretaria de Educação de São Paulo já vem pagando bônus a professores e funcionários pelo desempenho dos alunos. As melhores escolas têm sido favorecidas e a perda do privilégio, ainda que temporária, tem motivado acaloradas discussões sobre patamares de desempenho e direitos adquiridos.

Escrito por Ayrton Marcondes

18 março, 2009 às 2:51 pm

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Postado em Cotidiano



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