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Muita coisa escrita

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Naqueles tempos em que a TV só engatinhava dependíamos do rádio para informações e lazer. O Rio, então capital da República, contava com rádios poderosas que espalhavam, em ondas médias, curtas e tropicais, suas programações para o país. Noticiários, shows de calouros, programas cômicos, narrações esportivas etc. eram consumidos, diariamente, pelos brasileiros.

Eram também tempos nos quais dava-se mais valor à leitura. Nas pequenas localidades, por exemplo, o tempo poderia ser preenchido pela leitura de contos, romances etc. Nesses lugares os cinemas eram precários. Sessões só aos sábados e domingos com rolos de filmes rodando nas velhas máquinas de projeção. Quando o cinema tinha só uma máquina de projeção havia um intervalo providencial para a troca do rolo de filme. Assistia-se à primeira e segunda partes. No final, mais um intervalo para a mudança do segundo rolo e a exibição do capítulo semanal do seriado.

Mas, lia-se. Os contos de Edgard Allan Poe traziam ao leitor o horror em estado puro, segundo a magia das letras do grande escritor. “Macunaíma”, de Mário de Andrade, introduzia o modernismo naquelas paragens. Nas “Memórias Póstumas de Brás Cubas” o jovem leitor inteirava-se não só sobre o enigma de Capitu como sobre a maravilhosa arte de Machado de Assis. Isso sem falar nos volumes da coleção “Mar de Histórias”, selecionados por Aurélio Buarque de Holanda Ferreira e Paulo Rónai. Nela entrava-se em contato com contos de grandes nomes da literatura mundial, entre outros Voltaire, Defoe, Hebel, Kosztolányi, Gógol, Flaubert, Conrad e Chesterton. E que dizer da obra de Kafka à qual voltamos sempre e tanto nos impressiona?

Pois, todos os livros citados acima - e mais alguns - foram condenados pela Secretaria de Educação de Cultura de Rondônia que determinou fossem eles retirados das escolas. A medida foi justificada por “conteúdo inadequado”. Mas, felizmente, voltaram atrás. Permanece a ameaça.

O fato nos faz recordar o filme “Farenheit 451”, de 1966, dirigido por François Truffault. O filme, baseado em obra homônima do escritor Ray Bradbury, tem como tema um futuro hipotético no qual um regime totalitário proíbe toda forma de escrita. Justifica-se a proibição pelo fato de que leitura e escrita tornariam as pessoas tristes e infelizes. Assim, ninguém pode ter livros em casa. Bombeiros são chamados para queimá-los caso sejam descobertos e o proprietário é preso e reeducado.

Há, de fato, muita coisa escrita circulando por aí. Mas, não se vive num regime totalitário que proíba a circulação de livros. Ainda não.

Escrito por Ayrton Marcondes

7 fevereiro, 2020 às 1:29 pm

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