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A lama que corre

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A lama desloca-se devagar. Depois do rompimento da barreira, alcançou o rio e já percorreu 75 km. Agora a mineradora prepara redes de contenção, visando evitar que a lama prejudique o abastecimento de água de cidades a jusante.

Não se fala sobre outro assunto. Os telejornais empenham-se em apresentar novidades sobre o desastre. Grandes emissoras deslocaram para Brumadinho equipes que estão a postos 24h por dia.

Regularmente acontecem informes oficiais. Relatam-se ações de bombeiros e de todo o pessoal envolvido no agora resgate de cadáveres. Cinco dias depois do acidente não se esperam mais sobreviventes.

Há muitas horas os bombeiros se debatem contra um ônibus imerso na lama. Não se sabe quantas pessoas estariam dentro dele no momento em que foi abalroado pelo mar de lama. Próximo dali ficava um restaurante da mineradora que, segundo consta, foi destruído justamente no momento em que muita gente almoçava.

Os responsáveis pela mineradora vêm a público para prestar solidariedade às famílias que perderam entes queridos. Cada uma dessas famílias receberá 100 mil reais a título de ajuda. Não se trata de indenização, garante-se.

De Israel vieram especialistas para ajudar na busca por sobreviventes e cadáveres. No mundo o desastre de Brumadinho é notícia. A imagem do Brasil - o descaso dos governos - mais uma vez é chamuscada.

Devagar vamos nos ambientando com algo de todo inaceitável. A vida tem disso. É preciso continuar. O interesse por tão medonho acontecimento aos poucos cederá lugar para o olvido. Enquanto isso vidas perdidas terão se consumido na lama naquele que pode ser considerado um dos mais trágicos acontecimentos de nossa história.

A busca por culpados começa. O “depois de tudo” há de exigir reparos. Mas nada, absolutamente nada, logrará apagar de nossas memórias aquele mar de lama onde jazem corpos que talvez nunca venham a ser encontrados.

Escrito por Ayrton Marcondes

31 janeiro, 2019 às 11:16 am

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