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Velhice

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João Gilberto tem 86 anos e uma ordem judicial autoriza o arrombamento da porta do apartamento onde ele vive, no Rio. A filha de João quer ver como está o pai e provê-lo dos cuidados necessários.

João, que nos proporcionou momentos de êxtase vida afora, chega ao fim, melancolicamente. Personalidade complexa, virtuose, venerado por plateias em todo o mundo, eis que para João parece não mais haver nada mais que aguardar o momento da morte. De nada adianta a ele dizermos que continuará vivo para sempre, cantando em nossos aparelhos sonoros. O tempo não perdoa.

Uma senhora a quem conheci em plena força e beleza hoje se apresenta alheia a tudo e a todos. Resta a ele vigor físico, mas o Alzheimer apagou suas memórias. Mulher ativa, inteligente, perspicaz, ensinou literatura nas universidades. Quis a sorte que seus prodigiosos conhecimentos fossem sepultados no apagamento de seus circuitos neuronais.

Vejo, no jornal da manhã, a fotografia de um político a quem acompanhamos ao longo de sua carreira. Lembro-me de seu aspecto jovial. Era um sujeito galante, até bonito. Perto dos 70 anos quase não se o reconhece. O tempo cuidou de acentuar os traços de seu rosto, agora envelhecido. Já não tem o viço de antes, continua na ativa, mas não é o mesmo.

A velhice chega para todo mundo. Confesso ter imaginado que eu seria poupado desse constrangimento. Por que também eu? De todo modo aviso: não estou gostando.

Não sei se para todos, mas não é fácil aceitar a chegada da velhice. De repente o passado se torna mais longo que o tempo que se tem pela frente. O organismo começa a sucumbir à passagem do tempo. Dores, sintomas, visitas a médicos, medicamentos… O esforço por manter-se em forma, os dribles na imagem que vemos no espelho.

A vida, como tudo, tem um fim. Espero morrer com saúde.

Escrito por Ayrton Marcondes

10 abril, 2018 às 11:05 am

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