Manhã de domingo at Blog Ayrton Marcondes

Manhã de domingo

deixe aqui o seu comentário

Domingo de maio. Manhã como a do poema de Cassiano Ricardo: nítida como um caco azul de garrafa no muro.

Um senhor pergunta à vendedora de flores a direção da praia. Ela se volta e aponta o mar alvíssimo. Um homem observa, calado, capas de revistas com mulheres nuas expostas na banca de jornal. Duas moças passam com cães enormes que mal conseguem segurar. O motorista de táxi dorme na direção de seu carro enquanto espera um passageiro que tarda a aparecer. Na orla da praia velhos e moços exercitam-se, aspirando o ar puro da manhã.

Os sinos de uma igreja próxima dobram chamando os fiéis para a missa. As badaladas evocam outros sinos, inclusive os da igreja barroca de São Francisco de Assis, em São João Del Rey, em cujo cemitério repousa Tancredo Neves, velando pelo Brasil.

É nesse mundo de calma absoluta que um motoqueiro avança o sinal vermelho e atropela uma idosa. De repente, tudo começa a se mover depressa, pessoas se agitam, há trânsito, buzinas ecoam e mesmo o mar parece empalidecer.

Agora os sinos já não dobram e um desenho escarlate impregnou-se no asfalto, emoldurando tristemente a cabeça da mulher morta.

Escrito por Ayrton Marcondes

17 maio, 2009 às 2:24 pm

deixe aqui o seu comentário

Postado em Cotidiano



Deixe uma resposta