Ventania at Blog Ayrton Marcondes

Ventania

deixe aqui o seu comentário

As noites de ventania são dolorosas. O vento cortante passa pelas casas e reúne a dor dos homens. É a dor que uiva nas janelas quando o vento passa. A dor sem remédio dos homens. O vento que faz bater as persianas lembra-nos de que somos perecíveis. O vento é um aviso.

Ventou na madrugada. Não pudemos dormir porque sobre nós abateu-se o horror das forças incontroláveis. Temíamos que nossa casa fosse levada. No escuro as crianças choravam. Que Deus é este que nos manda a revolta da natureza a assustar-nos? Que Deus mostra sua força assim tão impunemente?

O velho da casa defronte gritou. A voz estridente do medo foi engolida pelo vento. Maria seguiu no rosário as ave-marias, pedindo clemência ao Senhor dos ventos. Ouviu-se o ruído de telhas arrancadas, estraçalhando-se no chão.

Até o súbito silêncio. Só então pudemos ouvir as ondas do mar arrebentando-se na grande ressaca. Fim do mundo?

A manhã surgiu calada. O dia nasceu nublado e saímos de casa. Por toda parte sinais de destruição. Milagrosamente nossa casa sobreviveu incólume à tormenta da noite.

Reunimo-nos à mesa para o café. Éramos fortes, de algum modo resistíramos.

Maria, ajoelhada a um canto, ainda rezava. Foi a menina quem disse que o Senhor ouvira as preces de Maria.

Escrito por Ayrton Marcondes

2 agosto, 2017 às 12:45 pm

deixe aqui o seu comentário



Deixe uma resposta