Sugismundos at Blog Ayrton Marcondes

Sugismundos

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A Mariazinha era bonitinha, mas não gostava de banho. A mãe a colocava no banheiro. A menina fechava a porta, abria o chuveiro, molhava um pouco o cabelo para disfarçar e saia do mesmo jeito que havia entrado. Cresceu assim. Sem asseio.

Nos meus tempos de faculdade morei numa república onde também residia um certo Valter, ótimo sujeito, exceto pelo fato de não ser afeito à limpeza. Em pleno verão, suores abundantes, o gajo não mudava a camisa preta. Rescendia suor. Ótimo papo, inteligente, leitor voraz, para conversar com ele o jeito era observar certa distância. Depois da faculdade nunca mais o vi. Conhecido comum me disse que o Valter mora em outro estado e enriqueceu. Bom pra ele. Agora quanto à higiene não sei dizer se melhorou.

No início dos anos 70 surgiu na televisão um boneco alcunhado Sugismundo. Esse tal era um porcalhão. Por onde passava aprontava, deixando lixo para todo lado. A intenção de quem produzia os vídeos com o Sugismundo era de, justamente, advertir as pessoas sobre a importância da higiene. Deu tudo errado. O terrível Sugismundo era muito simpático e caiu no gosto popular. A turma simplesmente adorava o Sugismundo razão pela qual foi tirado de circulação. Entretanto, reapareceu uns dois anos depois, na ocasião acompanhado de um filho que fazia tudo certinho. Mas, o erro estava consolidado.

Nem todas as pessoas são afeitas a cuidados higiênicos. Fui apresentado a um cara que é o Sugismundo em carne e osso. O tipo é realmente um desastre. Qualquer coisa que esteja nas mãos dele está fadada a terminar no chão. No sofá, vendo televisão, não se levanta para levar ao lixo a lata de refrigerante e o saquinho de batatas que acabou de consumir: atira-os ao chão. Sem falar no reboliço da cama onde dorme, no papel higiênico fora do recipiente etc. O cara é demais. Escandaliza o pessoal da limpeza.

Num país com escassez de redes de água e esgoto, no qual proliferam favelas e a desigualdade social é chocante, talvez seja demais exigir-se mais asseio das pessoas. Crianças crescem em lugares de esgoto a céu aberto, morando em casebres. Entretanto, campanhas de conscientização sobre o perigo de doenças e a possibilidade de epidemias são sempre benvindas. Agora mesmo a febre amarela, a dengue, a zika e a chikungunya estão em pauta em várias regiões do país, fazendo vítimas e exigindo cada vez mais empenho das autoridades sanitárias.

Escrito por Ayrton Marcondes

18 maio, 2017 às 1:23 pm

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