As Cataratas do Iguaçu at Blog Ayrton Marcondes

As Cataratas do Iguaçu

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Na casas de meus país havia um livro sobre curiosidades.  Continha informações consideradas indispensáveis a um cidadão de cultura mínima. Era um tempo no qual não se podia fazer feio caso algum desconhecido propusesse um tema para conversa. Em casa me diziam: leia, adquira conhecimentos, evite passar vergonha diante de estranhos. Preservava-se a cultura.

Nos ermos em que vivíamos, na passagem da década de 50 para a de 60, os livros eram grande fonte de informação, aprendizado e distração. A televisão ainda engatinhava e o sinal de vídeo era bastante limitado. De modo que só nos restava mesmo ler. Livros e jornais chegavam dias depois de sua publicação. Seu Brás assinava o Correio da Manhã do Rio que chegava a ele com dias de atraso. Mas ele o devorava, fervorosamente. E não se esquecia de recortar os quadrinhos do “Mutt e Jeff” os quais me dava após ler o “Correio da Manhã”.

No livro sobre curiosidades havia um memorável capítulo sobre as sete maravilhas do mundo antigo. Ali me inteirei sobre o Farol de Alexandria, o Colosso de Rodes e os outros cinco. O assunto me fascinava porque se referia a terras e épocas distantes. De modo que eu sabia detalhes sobre cada uma daquelas maravilhas.

Em julho de 2007 foram anunciadas, em Lisboa, as sete maravilhas do mundo moderno entre as quais o nosso Cristo Redentor. Ao lado dele a Muralha da China, o Taj Hamal e outras. Não sei qual o critério para a escolha. Talvez as maravilhas se restrinjam àquelas realizadas pelo homem. Mas, e as naturais? O mundo tem lugares belíssimos, tantos que seria difícil selecionar sete entre eles. Entretanto, a nenhuma lista de maravilhas naturais poderiam faltar as cataratas o Iguaçu cuja beleza é estonteante. Seguir pelas trilhas nas cataratas brasileiras e argentinas representa o contato com o maravilhoso. Ali o homem apequena-se diante da monumental volúpia das águas incansáveis que se projetam num show de cores e luzes. O Diabo anda solto nos redemoinhos de águas turbulentas que se curvam ante a magia do Criador que as engendrou. Ao observador resta entregar-se diante de tamanha beleza. São momentos nos quais a interação entre homem e natureza completa-se, deixando-se de lado a utopia da vida agitada em sociedade. As cataratas fazem renascer nos que têm o privilégio de visitá-las a simbologia primitiva que ligou o homem ao ambiente natural ao qual se adaptou.

Seguindo trilhas nas cataratas e inspirado pelo ambiente natural lembrei-me de José de Alencar. “0 Guarani” talvez tenha sido o primeiro romance que li. Nunca me esqueci do terrível Loredano que inferniza a vida de Ceci e Poti. Alencar foi um mestre da descrição, embora hoje me pareça excessivo e um pouco cansativo. Na primeira página de “O Guarani” Alencar descreve o trajeto sinuoso de um rio que finalmente nos diz ser o Paquequer. Trata-se de uma esmerada descrição nascida da pena de um mestre.

As cataratas são assim, encontro de forças que nos falam de perto. Despertam evocações, lembram-nos de que somos seres ligados à natureza que, em geral, desprezamos. A beleza das cataratas nos faz lembrar de que somos humanos, animais diferenciados, dotados de inteligência, construtores do mundo, ainda assim dependentes do meio que naquela região do Brasil se expõe com força e beleza.

Escrito por Ayrton Marcondes

24 setembro, 2016 às 11:04 am

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