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A Casa Azul

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Mil vezes me perguntei: afinal, o que nos atrai na busca de sinais da passagem pela vida de celebridades da arte e da escrita? Por que tantos homens participam do concurso anual no qual o vencedor é o melhor sósia de Ernest Hemingway?

Então Diego Rivera e Frida Kahlo viveram nesta casa, a Casa Azul. Aqui estão pertences deles, objetos, os pincéis de Rivera imóveis porque a mão do mestre já não os tocará. Olhamos para os pincéis e não nos furtamos a pensar que pertenceram a Ele, parecem permanecer à espera Dele, quem sabe? Mas o que importa é que os pincéis guardam o tato de Rivera, talvez o último, às vésperas de deixar o nosso mundo. Pintaria ainda  ele então?

As fotos de Frida. Os dizeres dela transcritos nas paredes, aquele em que confessa que não ouvirão dela sobre o sofrimento de amar um homem como Rivera, alguém já teria ouvido as margens de um rio reclamarem da água que entre elas corre livre?

A cama onde dormia Rivera, o quarto de Frida. E Trotsky que morou na Casa Azul depois de fugir da Rússia sob Stálin? Trotsky? Mas não era ele que na Revolução Russa… O Trotsky Comissário do Povo para a Guerra. Mas, Trotsky morou aqui, dormiu nesta cama. E que importa isso?

Que importa se todos estão mortos e o que deles restou são as obras que nos emocionam? Então por que estou aqui, dentro da Casa Azul na qual viveram? Que vim fazer aqui nesta manhã depois de chata viagem de metrô e andanças por ruas desconhecidas até achar a Calle Londres, 247?

Talvez o que nos obrigue a uma aventura dessas seja a constatação de que os mortos existiram de fato, foram humanos como nós, humanos prodigalizados com dons raros que os diferenciaram. Mas eram de carne e osso como nós e confirmar isso nos faz mais humanos. As fotografias nas paredes os tornam mais próximos. É preciso devassar a intimidade das personagens da Casa Azul para que possamos seguir adiante.

Talvez por isso seja impossível evitar a visita à Casa Azul, perseguindo sombras que a cada momento identificamos.

Escrito por Ayrton Marcondes

25 junho, 2016 às 9:56 am

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