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Um time de homens

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Na cerimônia de posse um time de homens: nenhuma mulher. Respiravam-se andrógenos. No conjunto a turma assemelhava-se a uma daquelas defesas fechadas de time do interior: algo confusa com todo mundo atrás para garantir o resultado. Nada de eufemismos. O negócio era pegar pesado, acabar com os adversários. Assim, um a um os ministros foram empossados. À frente deles um baixinho maneiroso, cheio de sorrisos, quase saltitante. Mais parecia uma criança no momento de apagar as velinhas do bolo de aniversário.

Apagou-as com relevo. À frente de dois pequenos microfones o novo presidente foi se abrindo. Tinha classe, isso se percebia. Gerado em forno diferente dos de seus antecessores mais parecia um pequeno mágico de cuja cartola, de repente, poderiam sair coisas inesperadas.

Mas o novo presidente recolheu-se. Preferiu mostrar-se simples, sem afetação. Hábil fez e desfez no uso de maneirismos cultivados em longa trajetória parlamentar. Era um sujeito curtido na rinha das disputas e acordos aquele que se dirigia ao país, aparentando magnanimidade.

Era o Temer. No discurso falsamente improvisado foi dizendo justamente aquilo que se queria ouvir. Pôs luz em aspectos duvidosos, garantindo respeito a acordos já estabelecidos. Segurou firme no leme da Lava-Jato agora verdadeira instituição. Acenou aos desvalidos com a continuidade dos programas sociais a serem aprimorados. Chamou todos ao trabalho para vencer a crise, pedindo união. Foi leve, direto, preciso, enfim fez o papel do político exigido pela hora.

Dará certo ou não: são outros quinhentos. Mas, alavancou-se alguma esperança naquele bando de homens de terno que, de repente, substituíam faces das quais estávamos cansados. Deu para lembrar de que aquela gente não pisava no palácio do governo a mais de uma década. Talvez por isso se mostrassem tão eufóricos. Desembarcavam no poder como um bando de exilados, subitamente devolvidos à sua terra.

Era, sim, um time de homens atrás de um baixinho muito discreto e feliz.

Escrito por Ayrton Marcondes

13 maio, 2016 às 5:56 am

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