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Quem é essa aí, papai?

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Mata-se por ciúme, mata-se por amor. Nenhuma lei logra impedir que apaixonados percam a sanidade e tomem atitudes limítrofes. Acontece todo dia. Quem assiste aos programas policiais da TV está careca de ouvir as mais loucas histórias, na maioria das quais o agente da morte em geral é o homem. O sujeito não aguenta a separação. Ela não quer mais saber do cara. Ele se desespera. Então parte para o absurdo, a desconexão entre o normal é o patológico. A nuvem que cobre a sanidade leva-o ao ato extremo. Depois foge ou se entrega. E conta a história com detalhes, quase sempre sem arrependimento: era preciso matá-la.

Deus quando fez o homem plasmou em seu espírito a sensibilidade para a dor. Dor de amor dói. Dor de ciúme dói. Saber que o ser amado é cortejado por alguém é dramático. Ser traído é terrível. Mulheres traídas sofrem e podem chegar a gestos extremos. A dor do amor é horrível. Lacera a alma. O fim de uma relação para quem não o deseja é lacerante.

Ele era dentista e viera para o lugarejo com a mulher e o irmão. A mulher era uma loira escultural, de belos olhos. O irmão um safado que corrompia as moçoilas do lugar. Da casa onde moravam os três contavam-se barbaridades. Dizía-se até que o irmão traia o dentista com a mulher dele. Formavam um trio absurdo, diabólico.

A casa ficava no alto de uma colina. Certo dia mulher desceu com sua mala, atrás dela o dentista. Pedia a ela que não partisse. Ela irredutível. Rosto impassível seguia em direção ao ponto, ele sempre atrás. Quando o ônibus chegou ela não se despediu. Então o dentista se alterou, lágrimás hescorrendo implorou para que ela não fosse embora.

O dentista era um homem alto. Enquanto o ônibus se afastava curvou-se em desespero. Até cair de joelhos, quase encoberto pela poeira levantada pelo ônibus. A imagem desse homem ajoelhado, chorando, sofrendo o horror do amor perdido nunca me saiu da memória.

Amor e ciúme tratam todos os seres humanos do mesmo modo. Ricos e pobres, negros e brancos… Ninguém escapa. Daí a beleza do gesto da cantora Ivete Sangalo que, ao ver do palco onde se apresentava o marido de papo com uma mulher, perguntou: quem é essa aí, papai?

A bela Ivete não deixou pra depois. Não saiu do ritmo, seguiu cantando. Mas, deu o recado.

Escrito por Ayrton Marcondes

17 janeiro, 2016 às 1:51 pm

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