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Por onde anda o Chico?

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Foi um tio quem me contou sobre o Chico. Consta que ele associou-se a um parente na lavoura e foi roubado por ele na divisão dos lucros. Tempos depois, emboscou o parente que voltava a cavalo para o sítio. Um tiro no peito enviou o parente para o caixa-prego; o Chico foi preso, julgado e, na falta de testemunhas, o júri o entendeu como inocente.

Conheci o Chico como ajudante a carregar caminhões com seus poderosos músculos, forte que era. Trabalhava aos gritos, vivia aos gritos, voltando-se o tempo todo para trás porque algo ou alguém parecia persegui-lo. Chamava atenção vê-lo em permanente desespero, amaldiçoando seres invisíveis que não lhe davam tréguas, dia e noite. Paz, talvez, só enquanto dormia na boléia dos caminhões, peito aberto ao sereno da madrugada.

O Chico sumiu há muitos anos, misteriosamente, dizem que levado pelo parente morto que o perseguia. O fato é que desapareceu e nunca mais foi visto. Sua irmã, Dona Virgínia, mulher religiosa e convencida da morte do irmão, debalde procurou pelo seu corpo. No fim desistiu e mandou colocar lápide no túmulo pobre da família com o nome do Chico.

Dias trás visitei o cemitério onde estão enterrados meus pais e passei pelo túmulo onde hoje também repousa Dona Virginia. Vi a lápide meio apagada com o nome do Chico e tive a sensação de que, de algum modo, ele estabeleceu um tipo de pacto diferente com a eternidade e continue vagando por aí, amaldiçoando, xingando quem o persegue, essa a sua condenação.

Escrito por Ayrton Marcondes

24 abril, 2009 às 11:56 am

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Postado em Literatura



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