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Esqueceu-se?

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Falam tanto sobre Alzheimer que a gente fica preocupado quando se esquece de alguma coisa. Lembrar-se de coisas distantes e esquecer-se de coisas recentes já não é bom sinal, indicando arteriosclerose. Acontece com o velhos. Agora, perder progressivamente a memória, apagar tudo, deixar de ser quem você é, extinguir sua personalidade, alienar-se por completo de si e do que tem à sua volta, isso é Alzheimer.

Tempos atrás fiquei impressionado com a entrevista do brasilianista norte-americano, Thomas Skidmore, dizendo ter Alzheimer. Isso foi há dois anos. Na época o escritor morava num discreto asilo no interior e escrevia suas memórias antes que se apagassem.

Assisti ao filme “Amor” com Jean-Louis Trintignant (Georges) e Emmanuelle Rivae (Anne), direção de Michael Haneke. Georges e Anne formam um casal de idosos sofisticados que é surpreendido pela doença. Anne começa por se esquecer de pequenas coisas e o mal evolui.  Trata-se de um retrato terrível sobre o fim, quando nada mais resta a fazer exceto sobreviver às custas de muito sofrimento. Anne deixa de ser ela para desespero de Georges que cuida dela. Tudo se passa dentro do apartamento onde moram. A mesmice dos dias, a tragédia anunciada, a prisão a um mundo que se desfaz devagar e progressivamente, fazem do filme um duro depoimento sofre o sofrimento e a precariedade da vida.

Também assisti a “Para sempre Alice” que traz Julianne Moore no papel da Dra. Alice Howland renomada professora de linguística que descobre ter Alzheimer. Alice começa por esquecer palavras, mas a doença evolui até a perda total de identidade. Julianne Moore interpreta com brilhantismo o apagar das luzes de uma formidável memória e as implicações familiares da evolução da doença. John, o marido de Alice interpretado por Alec Baldwin, acompanha o problema da mulher até que suas necessidades profissionais o obrigam a afastar-se. O Alzheimer é um isolamento que se impõe ao doente que deixa de se comunicar e torna-se completamente dependente. Moore alcança transferir ao espectador a profundidade de seu drama, a perda progressiva e diária do conhecimento. Dirigido por Richard Glatzer “Para sempre Alice” foi contemplado com o Oscar de melhor atriz para Julianne Moore.

Os casos de Alzheimer nos levam a refletir sobre os avanços da medicina e o fato de algumas doenças permanecerem como desafio quanto à possibilidade de cura. Dispõem-se, atualmente, de avançados recursos de diagnóstico que permitem descobrir a natureza de doenças, mas para algumas delas não se observam passos seguros em direção à cura apesar do empenho em pesquisas.

Tem-se falado muito em Alzheimer nos últimos tempos. A doença surge como um fantasma a assombrar as pessoas que envelhecem, temerosas de que venham a ser afetadas por ela. Confesso que assistir aos dois filmes anteriormente citados, embora sejam eles excelentes, serviu para que eu me interrogasse quanto à possibilidade de vir a ter a doença. Repassei na memória os meus ancestrais, perguntando-me se algum deles não teria tido o problema. Como acontece nas famílias em geral, na minha encontrei toda sorte de doenças e causas de morte, felizmente nenhum caso de Alzheimer. Não posso negar que fiquei bastante aliviado ao constatar esse fato.



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