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Limites da paixão

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Você viajaria a um país onde se realiza a Copa do Mundo para apenas ficar perto do estádio em que a sua seleção atuará? Pois é o que se vê nessa invasão de hermanos que vêm para acompanhar os jogos da seleção de seu país. O detalhe é que a maioria dos torcedores que chegam não possui ingressos para os jogos. Trata-se de uma romaria movida exclusivamente pela paixão.

Estamos falando de cerca de 100 mil argentinos que viajam em veículos automotivos, percorrendo milhares de quilômetros sem nenhuma possibilidade de assistirem às partidas de seu time. Semana passada a invasão se deu em Porto Alegre. Agora está se dando em São Paulo onde a seleção argentina jogará amanhã, no Itaquerão. As autoridades preocupam-se com o lugar onde esses milhares de torcedores poderão assistir à partida dado que somente no Anhangabaú dispõe-se de telão para retransmissão dos jogos da Copa.

Confesso que no sábado muitas vezes me perguntei por que, afinal, eu me submetia àquela sessão de tortura que foi acompanhar o jogo do Brasil. No último minuto da prorrogação o Chile mandou uma bola no travessão superior. Depois vieram os pênaltis. Confesso que vi os pênaltis meio escondido atrás do sofá como se o móvel servisse de anteparo entre o que acontecia na TV e a minha situação de puro desespero.

Não comemorei quando o jogador chileno errou o pênalti que garantiu a classificação do Brasil. Estava exausto, nervoso, chateado comigo mesmo. Bastaria um click no controle remoto para fugir a toda aquela situação. Mas, o coração estava preso, amarrado às chuteiras daquela turma de onze craques que vestiam o uniforme da seleção nacional. Trata-se da maldita paixão que nos torna irracionais e imprevisíveis. Por ela sofremos e, pior, não conseguimos sair da prisão que momentaneamente nos enclausura.

Portanto, não há que se estranhar essa invasão argentina à qual assistimos com olhos muitas vezes críticos. O diabo é que somos iguais, às vezes menos ou mais iguais, mas sempre iguais, capazes de loucuras em nome de uma paixão inexplicável. Entretanto, essa paixão tem seu lado positivo: ela nos faz sentir humanos, dependentes, irresponsavelmente engajados numa aventura de resultados imprevisíveis.

O futebol é uma arte irracional, que nos converte em seres muitas vezes irracionais. Os jogos nos afastam do mundo em que vivemos e nos irmanam a nossos semelhantes. Na hora do gol deixam de existir toda sorte de preconceitos: tornamo-nos momentaneamente os iguais que vivemos a afirmar que somos, os irmãos sofredores a quem interessa apenas a vitória. E dizer que essa loucura dura até o momento em que o apito do juiz encerra o jogo e somos devolvidos à realidade de nossos dias.

Escrito por Ayrton Marcondes

30 junho, 2014 às 4:53 pm

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