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Caminhos da loucura

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O assassinato do cineasta Eduardo Coutinho pelo próprio filho tem motivado a publicação de diferentes opiniões sobre o comportamento das famílias em casos de esquizofrenia. Desde já é bom lembrar que hoje os tempos são outros. Existem locais para internação que diferem em muito dos antigos hospícios com o uso de choques elétricos e outros meios mais agressivos de tratamento.

O grande problema enfrentado pelas famílias nas quais um dos membros é esquizofrênico é o de, justamente, não saber avaliar que tipo de atitude tomar em relação a essas pessoas. Erros de avaliação podem resultar em tragédias como aconteceu a Eduardo Coutinho.

Uma amiga de quem me perdi a muitos anos teve mãe esquizofrênica. Viviam ela e a mãe sozinhas. Em seus tempos de menina a minha amiga foi vítima de toda sorte de exigências disparatadas, entre as quais a de passar dias trancada em seu quarto, recebendo apenas comida que a mãe trazia a ela quando se lembrava. Obviamente, uma infância marcada por situações tão difíceis só poderia resultar em sérias consequências sobre o psiquismo da pessoa a elas submetidas. O resultado foi que a minha amiga durante boa parte de sua vida mostrou-se presa a códigos de comportamento que por vezes beiravam o absurdo. Felizmente, em algum momento após longo tratamento, ela libertou-se e tornou-se a esplêndida pessoa de quem tanto gostávamos. Esse caso me faz lembrar da menina do filme “Carrie, a estranha” submetida às exigências anormais de sua mãe, embora a minha amiga obviamente não tivesse os poderes sobrenaturais de Carrie.

Tive um grande professor de psiquiatria que costumava dizer que “louco é louco” e como tal deve ser tratado. Exagero? Contava ele sobre um professor norte-americano, psiquiatra, que viera ao Brasil e fora visitar um de nossos manicômios. Andava ele numa das alas quando avistou um dos internos ajoelhado, aparentemente rezando. Envolvido pela singularidade do gesto do interno em ambiente tão grotesco, o professor aproximou-se dele e colocou a mão sobre o seu ombro. A reação foi imediata: munido de uma gilete o interno voltou-se bruscamente e, de um só golpe, atingiu a carótida do professor, matando-o.

A lição que se pode tirar da impressionante morte do cineasta Eduardo Coutinho é a de que os casos de esquizofrenia devem ser analisados por gente especializada e respeitada a conveniência de internação quando necessário. Seguimento de casos sem a opinião e cuidados recomendados por especialistas podem resultar em tragédias, como essa que tristemente envolveu aquele que todos concordam ter sido o maior cineasta brasileiro.

Escrito por Ayrton Marcondes

17 fevereiro, 2014 às 12:08 pm

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