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Ruas vazias

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Dia das mães. Tarde fria, céu encoberto, ruas vazias em São Paulo. Para onde foram todos?  Ando pela rua onde fica o Instituto Biológico, região próxima ao Parque do Ibirapuera. De repente, de uma travessa, saem três sujeitos com ares de poucos amigos. Arrepio-me. Eles vêm na minha direção, em sentido contrário ao meu, na calçada.

Trata-se de situação inusitada.  Não há ninguém por perto, nenhum som e raciocino que nada poderá me salvar. Ponho a mão no bolso da calça, apalpo as poucas notas de dinheiro que talvez venham a servir como passaporte para que eu continue vivo. Repito as instruções dadas pela polícia: não discutir, entregar tudo e, principalmente, não reagir.

Agora os três estão bem perto. Não têm mesmo eles jeito de gente pacata. Aquele do meio, mais velho, será ele o chefe? Estarão armados? Corro perigo de morte?

Num minuto os três estão bem à minha frente. É agora, penso. Entretanto, os três homens me ignoram. Passam por mim sem se dar conta da minha presença. Prosseguem, conversando animadamente.

Depois que passam, reparo que estou suando frio. Não se interessam por mim? Adivinharam que trazia comigo pouco dinheiro e não valeria a pena uma abordagem? Ou, simplesmente, não seriam bandidos?

No restante do trajeto até a casa onde vou almoçar com familiares eu me recrimino pelo mau juízo em relação aos três homens. Vestiam-se com simplicidade, é verdade. Tinham certo jeito arrogante de quem está no comando do pedaço e podem fazer o que lhes der nas telhas. Mas, não eram bandidos e me ponho a pensar na grande pressão que a violência excessiva faz sobre nós. De fato, não ouvimos coisa diferente que uma montanha de crimes terríveis que nos deixam de queixos caídos. A maldade humana parece ter-se extravasado ao limite de nossa tolerância. Daí que cada pessoa pode, pelo menos potencialmente, ser um inimigo, alguém determinado a nos atacar.

Tudo isso me passa pela cabeça, mas nem assim me perdoo pela enorme fraqueza e julgamento precipitado.

Aconteceu ontem. E era o “Dia das Mães”, o mundo parecia em paz, exceto por alguns instantes, no meio da tarde, numa rua deserta, na minha cabeça.

Escrito por Ayrton Marcondes

14 maio, 2012 às 12:40 pm

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