Volte a bordo at Blog Ayrton Marcondes

Volte a bordo

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- Volte a bordo, caralho!

A expressão acima, ordem dada raivosamente pelo capitão da Capitania dos Portos ao comandante do navio Costa Concordia está sendo citada em todo o mundo. Na Itália ela estampa camisetas. E o capitão, Gregorio de Falco, é considerado herói na Itália, fato que o deixa perplexo. Falco garante que nada mais fez que executar o seu serviço como, aliás, faria quem estivesse no lugar dele.

Não se fala noutra coisa que não no enorme navio tombado nas águas do Mediterrâneo. O comandante, Francesco Schettino, continua em prisão domiciliar e declara que, na verdade, escorregou no momento em que auxiliava passageiros, indo parar dentro de um bote. Assim, segundo diz, não teria abandonado o navio. Além disso, o erro humano de aproximar-se muito da costa vem suscitando muitas explicações, todas elas coincidindo com a culpa de Schettino.

Mas, volto a esse assunto por conta de uma foto, hoje publicada, tirada do espaço que mostra o Costa Concordia curvado no mar. Trata-se de uma foto em preto e branco que dá o que pensar. Nela o acidente em que o navio foi envolvido é visto com olhos não humanos, diretamente do espaço. É como se, de repente, nos déssemos conta de que tudo o que se passa entre nós é observado de fora, de além das nossas circunstâncias.  Existem, fora da Terra, olhos que nos vigiam, um Grande Irmão que provavelmente anota num caderno tudo o que se passa durante a trajetória humana em nosso planeta.

Eu nasci e cresci num planeta enorme, muito grande mesmo.  Nos meus tempos de menino -então frequentava os bancos escolares - citar a Europa significava falar sobre quase outro mundo, muito distante, inacessível. Que dizer então sobre a Ásia e a Austrália? Tudo longe demais, tão distante que talvez não fizesse mesmo parte do mundo em que vivíamos.

Depois o mundo foi, progressivamente, se tornando menor. A evolução da tecnologia, o desenvolvimento dos países do terceiro mundo, a velocidade das informações, tudo isso que se esconde sob o manto daquilo que se chama globalização tornou o mundo acessível e notoriamente menor. Essa intimidade instantânea que desfrutamos com acontecimentos ocorridos em qualquer parte do globo reduziu o mistério dos povos e tornou o mundo acessível demais, por outro lado cada vez mais difícil de entender dada a diversidade de hábitos e comportamento dos diferentes povos.

É esse mundo pequeno diante do imenso universo no qual está inserido que nos trás a fotografia tirada do espaço, mostrando o Costa Concordia naufragado.  Talvez existam mesmo olhos no espaço observando-nos, talvez, também, ouvidos que ouçam um súbito herói, capitão, gritar a um comandante que abandonou o navio deixando para trás passageiros:

-Volte a bordo, caralho!



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