Sorteio das Eliminatórias at Blog Ayrton Marcondes

Sorteio das Eliminatórias

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Assisti ao primeiro jogo da Copa de 70 na casa de um amigo. Até então não tínhamos confiança no time. Quando a Tchecoslováquia fez o primeiro gol nossos temores pareciam confirmados. Depois foi o que se viu, o futebol exuberante da seleção nacional que venceu por 4X1.

É difícil reproduzir o efeito da vitória brasileira naquela noite. São Paulo não era a cidade de hoje e estávamos no auge da ditadura e repressão política. Mas, a cidade explodiu em fogos e buzinaços. Num tempo de alegria breve e muito silêncio o futebol entrava em cena para lavar a alma do povo. Depois do jogo eu e o meu amigo fomos a um bar na Av. Ibirapuera e comemoramos a vitória com muita cerveja. Foi quando conhecemos um senhor que nos deu algumas lições sobre como lidar com o sexo feminino, mas isso já é outra história.

Lembrei-me do jogo de 70 quando vi, pela televisão, o sorteio para a próxima Copa que terá lugar no Brasil. Depois da vitória contra a Tchecoslováquia formou-se a tal “corrente pra frente” com os “90 milhões em ação”. A verdade é que nem todos os brasileiros faziam parte da corrente. Havia deserções entre os tais 90 milhões, população do país na época. De fato, pessoas refratárias ao regime imposto no país pelos militares viam a vitória do Brasil na Copa como instrumento muito útil ao governo. Confesso que ao rapaz que eu era na época escaparam as associações entre futebol, alegria do povo, disfarce da repressão etc. Talvez por isso tenha estranhado muito quando pessoa próxima a mim declarou de forma alguma torcer pela vitória brasileira. Bem eu torci, vibrei e jamais me esquecerei daquela formidável seleção de 70. Torceria hoje acaso vivêssemos a situação do país naquela época?

Certamente que não. Tive essa certeza justamente durante o sorteio realizado pela FIFA no sábado. A verdade é que a atuação da CBF, o modo de agir do atual presidente da entidade e toda a tramoia que envolve a construção de estádios com a participação de dinheiro público, tudo isso e muito mais interfere no encanto do futebol que tanto amamos. De repente parece que de tudo o que se está planejando o que menos interessa é o futebol propriamente dito. Interesses econômicos, conchavos, interferências políticas, ações da cartolagem e até mesmo certo descaso dos jogadores fazem-nos sentir saudades da seleção como expressão nacional de nossa força e capacidade.

Talvez por isso tudo eu não tenha me abalado a eliminação do Brasil na Copa América. Na verdade não dei importância que daria no passado a uma vexaminosa derrota da seleção brasileira. O que me leva a parafrasear o grande Machado de Assis: mudei eu ou mudou o futebol?



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