O voo 447 at Blog Ayrton Marcondes

O voo 447

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Acaba de ser divulgado o relatório do Escritório de Investigações e Análise (BEA), órgão oficial francês encarregado das investigações do acidente com o voo 447 da Air France. Segundo o relatório o avião caiu devido a falhas dos pilotos. Eles não teriam adotado os procedimentos corretos após o congelamento dos sensores (sondas) que levaram à perda dos indicadores de velocidade.

No momento em que isso aconteceu o comandante estava descansando e um dos copilotos saiu da cabine para acordá-lo. Enquanto isso o outro copiloto tentou manter o avião no ar, fazendo-o de modo errado. Segundo a BEA os pilotos não haviam recebido treinamento adequado sobre os procedimentos a serem tomados em grandes altitudes.

O diálogo entre os copilotos está na internet.  Constitui-se em tudo o que restou dos mortos do voo 447. As palavras revelam desorientação. Estão no ar, mas perderam as referências. Não sabem se estão subindo ou descendo. Não sabem se o avião está em posição de equilíbrio. A vida escapa a eles e aos passageiros, mas não há percepção disso. O fim os surpreenderá caso tenham tempo para serem surpreendidos.

Foi assim que o Airbus caiu no oceano e 229 pessoas morreram. Após a publicação do relatório a Air France saiu em defesa da tripulação, afirmando que nada permite colocar no banco dos réus a competência de seus integrantes.

Estão aí os pontos de vista da BEA e o da companhia aérea francesa. Mas como teriam se passado as coisas do lado dos passageiros? Em primeiro lugar é bom lembrar que eles não foram avisados sobre qualquer problema com o avião. Twriam percebido que lago não ia bem quando o avião entrou em área de grande turbulência. Então, às 2h da madrugada, o comandante foi descansar, deixando o controle do Airbus nas mãos dos copilotos. Provavelmente a maioria dos passageiros estaria dormindo nesse horário. Nos dez minutos seguintes tudo aconteceu: os copilotos ficaram sem informações e um deles foi chamar o comandante que reapareceu na cabine às 2h11. A essa altura o copiloto já tomara a decisão errada: levara o avião a uma altura de 38 mil pés de onde ele despencou em direção ao mar. Talvez só nesse momento, quando o Airbus começou a cair em grande velocidade, os passageiros tenham tomado consciência real da situação. O que se sabe de concreto é que às 2h14 a gravação foi interrompida.

Acidentes aéreos com vítimas têm algo de fantástico e absurdo. De repente, todas as garantias de segurança prometidas para uma nave tecnicamente avançada e perfeita deixam de existir. A partir daí tudo pode acontecer, inclusive o desfecho fatal. As falhas humanas e mecânicas, a impotência dos passageiros e as circunstâncias da tragédia atraem o interesse geral. Imaginar os últimos e terríveis instantes das pessoas dentro do avião em queda e irmanar-se com a dor dos que perdem entes queridos fazem parte de um contexto no qual se impõe a constatação da brevidade da vida e o aspecto circunstancial da existência.

Todos nós morremos um pouco quando uma grande tragédia acontece. Ela nos sugere aquilo que poderia e pode acontecer conosco, daí o terror e a atração que acidentes como o do Airbus 330 nos inspiram.



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