Paulo Borges at Blog Ayrton Marcondes

Paulo Borges

deixe aqui o seu comentário

1968. Recém-chegado a São Paulo eu não passava de um rapazote que, quando o dinheiro muito curto permitia, ia ao Estádio do Pacaembu para ver o Santos jogar. Considero um dos grandes privilégios da minha vida a oportunidade de ter visto Pelé jogar.

Na noite de 6 de março, uma quarta-feira de cinzas, realizou-se, no Pacaembu, um jogo entre as equipes do Santos e do Corinthians. E lá estava eu, no meio de uma multidão que lotava as gerais do estádio – hoje o mesmo espaço é conhecido como arquibancadas.

Naquela noite o Corinthians defrontava-se com um enorme desafio porque há 11 anos não vencia o Santos de Pelé, episódio esse que ficou conhecido como “tabu”. Tinham, portanto, os craques corintianos a missão quase impossível de vencer um esquadrão que terá jogado o mais fino e inspirado futebol de todos os tempos no Brasil.

Foi um jogo e tanto. O 0X0 perdurou até que um jogador recém-contratado pelo Corinthians, Paulo Borges, acertou uma bomba da intermediária, no ângulo direito do gol santista. Esse gol nunca me saiu da cabeça. Borges bateu forte com o pé esquerdo e a bola alcançou as redes do gol onde hoje fica o tobogã, lado oposto aos portões de entrada do estádio. Mas, o mais impressionante, foi o que se viu em seguida: a multidão, até então quieta e preocupada, explodiu numa alegria incontida. A gente simples das gerais realmente entrou em êxtase, jogando para cima o que tinha nas mãos. Foi assim que vi muitas marmitas atiradas para alto, utensílios de gente sofrida que, de repente, ajudavam a extravasar tensões há muito reprimidas.

O Corinthians venceu o jogo por 2X0. Na saída vi inúmeras faces molhadas por lágrimas de alegria pura, comoção geral ante um fato cuja grandeza entraria para a história do futebol. Era o fim do “tabu”.

 Paulo Borges, aquele que ergueu a massa de torcedores levando-os à alucinação, morreu sexta-feira passada, aos 66 anos de idade. Dele trago a imagem de um jovem magro e muito ágil, descendo pelo lado esquerdo do ataque corintiano até o momento mágico em que dispara o tremendo e indefensável chute que resulta em gol. É ali que o deixo, sempre com a bola, preparando-se para o chute, batendo nela com o pé esquerdo, fazendo marmitas voarem e olhos verterem lágrimas de alegria.



Deixe uma resposta