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A moça da capa

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O fechamento das capas de revistas envolvem aspectos variados, não sendo incomum que, quase na última hora, um novo acontecimento obrigue o pessoal que trabalha no setor a mudar tudo. É nesse ponto que começa a correria, tema bastante explorado em séries televisivas cujas tramas envolvem o jornalismo.

Há uns tantos anos publiquei um livro cuja capa requereu a participação de profissionais bastante criativos. Eram duas pessoas interessantes que marcaram comigo horário incomum de trabalho: onze da noite em um bar.

Cervejas a parte, a conversa girou em torno do conteúdo do livro. Na medida em que falávamos, os dois faziam desenhos que me apresentavam, perguntando se era isso ou aquilo etc. Ao lado da mesa uma cesta de lixo que ia sendo cheia de papel até que, lá pelas quatro da madrugada, chegou-se a uma forma final daquela que seria a capa.

Jamais me esqueci desses dois criadores, pessoas de outra latitude, que operavam em vácuos diferentes daqueles da minha vidinha ordenada de então. Soube, depois, que a eles competia a realização das capas de uma revista semanal de grande circulação no país.

Falo sobre capas porque ontem estive, casual e rapidamente, num lugar onde, a certa altura, um conhecido cochichou no meu ouvido, avisando que acabara de entrar no recinto a Capa do mês da Playboy. Distraído como estava, quando ele me disse isso imaginei uma capa enorme, de papel, chegando, coisa obviamente, absurda. Não demorou nem um segundo para que eu entrevisse, com o canto dos olhos, a moça esbelta que neste mês aparece na capa da revista masculina.

A essa altura não adiante negar que é impossível não dar uma olhadinha na figura só para conferir. Vem à cabeça tudo o que se diz sobre a irrealidade das fotos de revistas de mulheres que aparecem nuas, tratadas que são as fotos através de programas sofisticados que apagam manchas da pele, uniformizam rugas, acertam curvas e assim por diante. Então, estava ali, em carne e osso, a moça como se tivesse saído das bancas para dar uma volta no mundo real, obviamente vestida, fato deplorado pelos machos de plantão. Aliás, refiro-me a eles, aos machos de plantão, porque os presentes foram tomados por indisfarçável frenesi, descambando para mal disfarçados cochichos, certamente todos eles de teor avaliativo.

Dirão que homem é isso mesmo, não adianta disfarçar, o sujeito pode ter a mulher mais bela do mundo que na hora H não resiste a uma olhadela, homem é bicho que não presta… Pois, que digam. Agora que me perdoem os rabugentos e rabugentas, mas quem é que resiste a um simples olhar de certificação, de obtenção de dados para arquivo, de testemunho de um momento de talvez esplendor na vida de alguém, ainda que o momento seja de nudez, aliás o que tem isso?

O único comentário que cheguei a ouvir foi o de uma senhora. Ela disse a outra senhora que a acompanhava que a moça era representante de um tipo de beleza. Então me lembrei de minha mãe que tinha classificação própria para beleza. Na classificação de minha mãe, alguém pertencente à categoria “um tipo de beleza” não era dessas coisas não, ficava no mais ou menos, no muito barulho para alguém não tão especial.

O que achei? Ora, eu me diverti com o frenesi das pessoas e até com o modo simples e simpático com que a “Capa da Playboy” respondeu ao cerco de olhares que a tornaram alvo exclusivo de atenção.

- Mas, da moça, o que você achou, ao vivo e a cores ela corresponde ao esperado?

- Ah, isso não vou dizer não, não respondo não, pára que não sou besta.

Escrito por Ayrton Marcondes

8 dezembro, 2010 às 1:41 pm

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