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Fonte da Juventude

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Um senhor de cerca de 80 anos embarcou num avião em Hong Kong e, horas depois, desembarcou em Vancouver, Canadá, transformado num jovem de 20 anos de idade. O fato chamou a atenção e o jovem foi preso pela polícia de fronteira. Depois, foi encontrada uma mala com um kit de disfarce que incluía uma cabeça de silicone e uma espécie de máscara para o pescoço.

Após ser preso o jovem declarou que buscava proteção de refugiado. O fato, caracterizado pela polícia como “um caso incrível de ocultação”, desperta a saborosa ideia de transformação, verdadeira fonte de juventude em ação durante uma viagem área. Seria algo como um idoso embarcar e ao desembarque ter retornado à sua juventude. O agente da transformação bem poderia ser uma nuvem portadora de combinações desconhecidas de compostos químicos que, uma vez aspirados, rejuvenesceriam. Simples assim, absurdo assim, mas milagre que se transformaria, rapidamente, em grande negócio, sendo que as companhias aéreas não dariam conta das enormes filas de velhos dispostos a pagar altos preços para o embarque.

Histórias sobre a existência de fontes da juventude sempre existiram. Consta que o conquistador espanhol Ponce de Leon foi o primeiro a aportar na Flórida, isso antes de 1500. Depois, Ponce se embrenhou no continente atrás da Fonte da Juventude que, ao que se sabe, nunca encontrou. Acabou sendo morto por uma seta envenenada durante um ataque de índios à sua expedição.

Histórias envolvendo coisas impossíveis existem, muitas delas preservadas pela tradição oral, outras tendo como berço obras de ficção.  Bastante interessante é o caso de um cidadão peruano que, numa noite de intensa neblina, parou num posto de gasolina para abastecer o carro. Após abastecer, tirou do bolso o dinheiro que não foi aceito pelo frentista por tratar-se de moeda estrangeira. O peruano protestou, estava em sua terra, o Peru, como poderia ser de moeda estrangeira o dinheiro dele? Foi então que, atordoado, tomou consciência de que, na verdade, encontrava-se num posto de gasolina, no México. O fato, comprovado pelos documentos apresentados, placa do carro etc, permanece inexplicável sendo que se atribui a fatores presentes na grande nuvem de neblina o transporte instantâneo de um país a outro.

Se o fato anterior é verídico ou não, isso pouco interessa. Em torno dele gira a aura do impossível, daquilo que fere as leis da física e apela para o desconhecido. De nada adianta ponderar sobre aspectos práticos porque no mundo dos acontecimentos fantásticos a lógica é outra.

 Que me faz lembrar de uma aula de um antigo professor de literatura, grande apreciador da obra de Kafka. Certa vez, referindo-se ao texto de “A Metamorfose”, o professor disse:

- Não existe em literatura melhor introdução a uma narrativa fantástica que aquela que Kafka colocou em “A metamorfose”. Na primeira linha ele diz: “Numa manhã, ao despertar de sonhos inquietantes, Gregório Samsa deu por si na cama transformado num gigantesco inseto”. Então, é isso aí: ou o leitor aceita que um homem possa acordar transformado num inseto e segue lendo o texto, ou o abandona de vez.

Creio deva ser assim a postura que devemos ter diante de fatos inusitados. Basta aceitar a possibilidade, não precisa acreditar. Aceito que o peruano possa ter sido levado dentro de uma nuvem para o México, não preciso acreditar nisso; aceito ser possível o rejuvenescimento condicionado por fatores inexplicáveis. Ponto.

Outro professor - esse algo lunático, vidrado em Roma e titular de latim - sempre dizia aos seus alunos:

- Mente aberta, mente aberta.

Ele repetia isso enquanto respondíamos a perguntas formuladas sobre as declinações latinas, ventus, venti, rosa, rosae, os leitores mais velhos hão de se lembrar delas. Desse professor trouxe comigo pouco latim, mas procurei manter a proposta de ter sempre a mente aberta.

Escrito por Ayrton Marcondes

6 novembro, 2010 às 6:50 am

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