2017 julho at Blog Ayrton Marcondes

Arquivo para julho, 2017

Temperamento

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Vai-se conhecendo gente. Muita gente. ”Cada um com o seu peru” - dizia o seu Braz, desaparecido a mais de 50 anos. O que é o “peru”? Seu Braz explicava: é a contingencia de cada um. Cada pessoa vive consoante sua circunstância. Há quem se acomode a ela. Outros passam a vida em guerra. Não aceitam a situação que os cerca.

Mas, quanto ao temperamento? Seu Brás dizia que cada um tem sua herança e educação. O ser humano nasce com sua carga hereditária, mas importa a circunstância em que se desenvolve. Isso explica a natureza de gente muito boa e dos tais humanos animalizados. Humanos animalizados? O sujeito que mata por matar - seu Braz exemplificava. Esses não têm amor à vida, daí não importar a eles tirar a vida de outrem - concluía.

Tem gente boa. Tem gente ruim. Tem gente meio a meio. Cada um com o seu peru. Mas, a maldade que tanto nos indigna não é só questão de temperamento. Esse sujeito que semana passada matou a ex-namorada grávida e arrancou os dentes dela antes de queimar o cadáver, esse cara em que categoria de seres humanos deve ser enquadrado? O moleque que se aproxima de um carro e atira no motorista à queima-roupa, esse que mata irresponsavelmente em que categoria o enquadrar? Adiantará lembrar de sua origem, da miséria que o cercou na infância, das influências negativas que recebeu e que, em conjunto, moldaram seu caráter?

Temperamento participa, mas não define. Vi uma moça contrariada gritar absurdos contra a pessoa a quem atribuía falha grave. A moça perdeu-se em considerações violentas. Pergunta-se: tivesse ela uma arma na mão e estivesse diante da pessoa a quem xingava, atiraria? Certamente não. O temperamento explosivo não a levaria a tanto. Descarregada a ira através de palavreado chulo, diminuiria o tom.

Vai-se conhecendo muita gente, vida afora. Gente boa. Gente ruim. Impressiona o atual crescimento da violência. Pelas ruas circulam pessoas para quem a prática do crime é natural.  Mata-se sem culpa. Temperamento? Na verdade, qualquer explicação, ainda que baseada em temperamento, miséria, hereditariedade, aspectos sócio econômicos e educacionais, resulta simplista. Daí as dificuldades em sanar o problema.