2015 maio at Blog Ayrton Marcondes

Arquivo para maio, 2015

Mamãe

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Ela ali, ao meu lado, diante do famoso neurologista que nos fazia a gentileza de atendê-la. O caso é que o neuro era pai de um meu quase amigo a quem eu pedira o favor de falar a ele sobre a doença de minha mãe. Mas, o neuro estava em férias e foi só pela insistência do filho que apareceu no consultório.

Obviamente, não havia dinheiro para pagar o favor que ficou mesmo como gentileza, humanidade. E minha mãe lá, quieta, a boca torta, repuxada, consequência de mais um dos AVCs que sofrera. Falava com alguma dificuldade, sabe como é quando a parte motora não responde na velocidade certa as ordens enviadas pelo cérebro.

Daquele fim de tarde ficou o momento em que o neuro fez perguntas à minha mãe e, respostas dadas, ele me disse: como é inteligente essa mulher, poucas veze tenho visto inteligências desse porte.

Ela era assim, inteligente, obstinada, guerreira, severa, sofrida. A formação primária não a impedia de ler jornais e revistas, além dos noticiários do rádio, porque naquele tempo o que se tinha em casa era só o rádio. E havia aquele senso de família dela, senso que justificava até trazer para viver na nossa casa minha tia e os filhos dela que não tinham para onde ir, aliás coisa que contribuía para puro desespero de meu pai.

Minha mãe tinha atração natural pela cultura que a ela faltava. De todo modo insistia na educação dos filhos que a todo custo deveriam virar gente formada. Assim, aos seis anos eu já sabia ler e escrever um pouco, tanto que ela me levou ao grupo escolar para ver se a diretora não me matricularia direto no segundo ano, porque o primeiro eu já fizera em casa. Não foi possível e ela acabou se conformando.

Como disse, minha mãe era severa. Nos tempos atuais as crianças gozam do benefício de não poderem apanhar, mesmo dos pais. Em criança sobrevivi a belas surras, algumas delas pelas mãos de minha mãe, outras recebidas no grupo. As pancadas faziam parte do “endireitamento” das crianças que se tornariam educadas e bons cidadãos. Não se falava na tal pedagogia do medo hoje tão execrada.

Eu poderia ficar aqui, enchendo páginas de lembranças sobre a minha mãe que tanto lutou para que eu viesse a ser aquilo que ela sonhara. Certamente estou longe de atender ao nível dos sonhos dela, mas posso dizer que, afinal, não devo tê-la decepcionado muito.  Então deixo-me levar por esse turbilhão de coisas vividas que me passam pela cabeça e pondero sobre como a vida passa depressa e a paisagem humana que nos cerca muda sem que nem sempre nos demos conta disso.

Acontece todo ano, no mês de maio, quando se celebra o dia das mães. Então minha mãe se ergue de sua tumba e se torna onipresente no meu pensamento. Mais hora, menos hora, eis-nos nas nossas conversas, como a do dia em que fomos à consulta com o neuro.

Impossível esquecer minha mãe, impossível ignorar o que ela foi e o tanto que fez por mim. Nessas horas que me separam do domingo das mães bate uma saudade danada daquela mulher que me amava tanto.

Escrito por Ayrton Marcondes

8 maio, 2015 às 12:46 pm

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Funeral chinês

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Cada povo segue ritual próprio segundo os costumes da região que habita. Quando criança assisti a funerais de imigrantes japoneses vindos para o Brasil antes da Segunda Guerra. Os japoneses hortifrutigranjeiros viviam numa colônia na qual mantinham os hábitos de suas regiões de origem. Não sei se é assim no Japão, mas os japoneses da colônia a que me refiro tinham por tradição colocar sobre a terra que cobria o caixão grandes quantidade de alimentos. O ritual incluía cantos e a comida deixada no cemitério. Consta que os alimentos serviriam ao morto durante a longa travessia ao outro mundo.

Os norte-americanos costumam se reunir para uns comes e bebes após o enterro de um membro da família. Comparecem amigos, conhecidos, vizinhos, enfim pessoas que de algum modo relacionavam-se com o morto. O costume parece estranho a quem, como os brasileiros, recolhem-se às suas casas, chorosos pela perda de entes queridos.

Agora noticia-se que o Ministério da Cultura da China resolveu interferir nos funerais realizados em certas partes do país. Acontece que nesses funerais realizam-se performances de stripteases, alguns deles até envolvendo cobras. Mês passado circularam fotos nas quais uma stripper tirava o sutiã na frente de crianças que participavam de um funeral. Diante de casos como esse o Ministério decidiu acionar a polícia para coibir tais práticas. Pessoas têm sido presas sob acusação de espetáculos pornográficos.

É de se imaginar a cena de um caixão no qual repousa o morto em torno do qual exibem-se mulheres nuas realizando suas performances. Devem os chineses ter lá as suas razões para permitir práticas dessa natureza. Sinceramente, não consigo imaginar uma ligação consistente entre funerais e strip-teases. Segundo uma agência chinesa “trata-se de uma armadilha da vida moderna em que vaidades e esnobismo superam tradições”.

Como dizia o poeta: “mundo, mundo, vasto mundo”.

Como nos filmes

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A existência de seres extraterrestres é mistério que desafia gerações. A probabilidade de que exista vida fora da Terra é reforçada pela pergunta: por que nesse imenso universo só aqui teria surgido a vida?  A partir daí geram-se hipóteses entre as quais a da possibilidade de vida em outra dimensão, diferente da nossa.

O fato é que muita gente espera que dia desses sejamos surpreendidos pela chegada de alienígenas. Se serão bons ou maus, amigos ou não, se movidos pela vontade de colonização do planeta, se guerreiros ou pacíficos, disso tudo não se faz a menor idéia. O que se imagina é que sejam dotados de tecnologias muito avançadas tanto que suas naves seriam capazes de viagens incríveis que permitiriam a chegada deles ao nosso planeta.

Também é fato que  se acredita no empenho dos governos em esconder provas sobre alienígenas. Os alienígenas teriam existência mais que comprovada sendo de propriedade dos governos provas cabais desse fato. Naves alienígenas acidentadas teriam caído na Terra e seus ocupantes fotografados. Caso famoso é o Roswell no qual uma nave teria caído no Novo México/EUA em julho de 1947. Segundo se ralata na ocasião o governo dos EUA teria recolhido alguns dos nossos visitantes.

Em recente encontro de ufólogos mostraram-se fotos de alinígenas recolhidos pelos EUA naquela ocasião. Trata-se de slides cuja autenticidade é comprovada. Os alienígenas das fotos são seres pequenos e de aspecto humanóide. Chama a atenção o fato de serem muitos semelhantes aos alienígenas apresentados nos filmes de ficção. Interessante como os criadores de obras ficcionais teriam imaginado seres extraterrestres como de fato seriam…

Não sei se você acredita ou não na existência de alienígenas. Mas, que caso existam estão demorando demais para dar as caras no nosso mundo sobre isso não existe nenhuma dúvida.

As circunstâncias

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O Roberto - a quem chamávamos Robertão - partia do princípio de que todo homem e suas atitudes deveriam ser analisadas a partir das circunstâncias. Nada de novo nisso dada a saturação desse ponto de vista nas mãos de vários pensadores. Entretanto, o Roberto insistia em que de nada vale uma teoria se não a utilizarmos na prática.
Assim, para ele deveríamos sempre partir das circunstâncias que cercaram uma ocorrência para buscar a verdade no acontecimento. Se argumentávamos que sob esse ponto de vista o agente de uma ocorrência não poderia ser responsabilizado por ela o Roberto dizia que mesmo a responsabilidade ficava sob júdice, isso é na dependência das circunstâncias.
A conversa sempre descambava para os lados da liberdade ndividual, coisa na qual o Roberto não acreditava porque o homem sempre agiria em acordo com circunstâncias que o levariam a tomar decisões apropriadas ou não ao momento. A liberdade existiria na escolha da decisão a tomar, sempre precedida pela circunstância.
Obviamente, nunca se chegava a um acordo de modo que após dez rodadas de chope, não havendo solução, pedía-se a décima primeira para o aclaramento das idéias.
Verdade que o bom Roberto viveu num mundo bem diferente do atual. Não chegou ele a conhecer a internet, nem fazer uso de celulares. O máximo tipo de controle sobre os cidadãos estaria no sonho do Grande Irmão do Orwell. Naquela época seria inimaginável que mesmo primeiros mandatários de países pudessem ser investigados por meios eletrônicos.
Ontem me vi diante de um caso no qual talvez se aplique o modo de pensar do Roberto. Um rapaz voltava de uma festa e errou o andar de seu apartamento no prédio em que morava. Obviamente estava bêbado. Tocou a campainha, forçou a porta e nada. Foi à portaria, retornou ao andar, insistiu até que o proprietário abriu a porta. Então o rapaz entrou no apartamento e recebeu tiros do propritário, um ex-policial aposentado, vindo a falecer.
Eis aí um caso no qual um homem teria reagido segundo a circunstância da invasão de seu domicílio. Para o Roberto inexistiria livre-arbítrio na ação. Foram os dois, assassino e o rapaz morto, vítimas de uma circunstância para a qual não restaria outra solução.
Na internet a notícia é acompanhada de opiniões dos internautas. Quase todos dizem que o ex-policial não teria outra alternativa ao ver sua casa invadida por um estranho em plena madrugada. Apenas um dos internautas fala sobre o fato do ex-policial ter aberto a porta após ver o rapaz através do olho-mágico. Outros destacam que nesses tempos de violência a reação do policial foi normal.
Pelo que me lembrei de um rapaz que, certa feita, praticamente invadiu o meu apartamento. Encolerizado, acusava-me ele de ter surrupiado o pneu velho que usava na garagem para evitar a colisão do carro com a parede. Aliás, não teria sido aquele o primeiro pneu que eu surrupiara. Assim, convertido em ladrão de pneus velhos, vi-me numa situação difícil. Obviamente, nenhum argumento faria sentido ao rapaz tão certo estava do que dizia. Acabei colocando-o para fora na base da gritaria e alguns empurrões. Mas, até hoje me pergunto no que teria dado aquela situação caso eu tivesse um revólver. O rapaz estava dentro da minha casa, assustando a família e completamente ensandecido. Vai saber.
Mas, afinal, as circunstâncias encerram o assunto?