2014 setembro at Blog Ayrton Marcondes

Arquivo para setembro, 2014

As decepadoras

escreva o seu comentário

A médica que decepou o pênis do namorado que se negara a se casar com ela até a pouco trabalhava em Minas. Valia-se do regime prisional que permite passar o dia fora. Isso foi revogado e agora ela está presa em tempo integral, cumprindo a pena a que foi condenada. O caso deu o que falar, como sempre impressionando muito a categoria masculina. Acidente de tal proporção é simplesmente inimaginável para os machos em ação por aí. Além do que ninguém está livre…

O problema é que a moda pode pegar. Agora uma mulher acaba de decepar o pênis do ex-namorado por não aceitar o fim do relacionamento. Aconteceu no Rio: a mulher propôs ao ex-namorado o sexo oral, mas na hora presenteou-o com a lâmina de uma faca. E olhe que o cara ainda deu sorte porque os médicos conseguiram fazer o reimplante. Agora a decepadora está presa e vai ser julgada pelo ato repulsivo.

Desde menino ouvi histórias sobre castrações. Havia aquele homem alto e ruivo que se mudara para a nossa cidade e morava sozinho. Nunca me esqueci dele depois que fiquei sabendo que ele mesmo se mutilara. E olhe que o fez por amor. Abandonado pela mulher e não aceitando viver sem ela decidiu-se ao gesto extremo de decepar o próprio pênis. Esse segredo bem guardado por ele acabou sendo confidenciado a um meu parente, daí chegando ao meu conhecimento.

O fato é que fica-se sabendo de casos dessa natureza só quando são noticiados. Há quem diga que a frequência desses casos não é baixa dado que não se fica sabendo sobre a ocorrência deles. Sendo mesmo assim eis aí um problema a ser solucionado, talvez até mesmo exigindo uma campanha de aconselhamento.

Mas, fica aí a lembrança de que neste mundo tudo é possível. Daí, meu camarada, que não custa precaver-se e andar na linha. Se você é desses que costuma trair a sua mulher trate de dormir com um olho fechado, outro aberto porque nunca se sabe o que pode acontecer.

No mais resta dizer que decepar pênis não resolve nada. Trata-se de uma vingança horrível, sentença cruel demais e desnecessária. Além do que o ato de decepar exige frieza e coragem enormes. Portanto, se você foi traída aceite o fim da relação e bola pra frente. Deixe o traste se mandar e viva em paz com a sua consciência. Você, mulher, pode até achar que essa é uma opinião interesseira e, cá entre nós, é mesmo. Mas, lembre-se: não vale a pena.

Por último vale lembrar que a medicina pode ajudar muito em casos de pênis decepados. Implantes feitos com pele retirada do antebraço podem garantir vida sexual normal a pessoas que ficaram sem o pênis. A uretra pode ser refeita e mesmo há casos em que o homem chega a recuperar a sua fertilidade.

A nota baixa

escreva o seu comentário

Não é que o Brasil vai mal na escola? Agora a Agência Moody’s reduziu de estável para negativa a perspectiva da nota de crédito do país.  A justificativa engloba o baixo nível de investimentos e a queda generalizada da confiança dos investidores. Na prática isso representa que o “rating” pode ser rebaixado na próxima avaliação.

Pois é o “rating”. Mas o que é mesmo esse tal de “rating”? Leio na internet que “rating” é “a opinião sobre a capacidade e vontade de uma entidade honrar na íntegra, os compromissos financeiros assumidos”. Indica, portanto, a probabilidade dos compromissos financeiros não virem a ser cumpridos. Enfim, no caso do Brasil os níveis de confiança estão em baixa.

Como não poderia deixar de ser o governo esperneia e se diz surpreso. O Ministério da Fazenda publica que a avaliação da Moody´s não condiz que o andamento da economia do país no segundo semestre. Mas, que fazer quando o PIB virou “pibinho” e a economia do país patina?

Em campanha a presidente prometeu que caso consiga o segundo mandato o atual Ministro da Fazenda será substituído. Mantega está sendo, portanto, fritado, em fogo lento, mas, de tempo programado.

Hoje um colunista da “Folha de São Paulo” escreveu que Mantega não deveria ser substituído porque o ministro fornece assunto para a coluna publicada pelo jornal. A brincadeira é meio sem graça porque a situação não pode continuar no pé em que está. Daí que me arrogo o sagrado direito de cidadão para dar uma sugestão para a recuperação da economia do país. É a seguinte:

Todo mundo sabe que quando alguém vai mal e tira nota baixa a solução é estudar ou aventurar-se nos perigos da cola. Digamos que a essa altura quem comanda a economia certamente não tirará da cartola uma ideia revolucionária para mudar o atual estado de coisas. Então, que tal a cola? Que tal dar uma olhada por esse mundo afora e ver o que algum pais está fazendo e obtendo pelo menos algum sucesso para se livrar da estagnação econômica? Feito isso, escolhido de onde colar, o resto será um vapt-vupt . Aplicam-se aqui as medidas recomendas e não muito tempo depois a Moody´s achará que o país é confiável e o recomendará aos investidores.

Bem sei que dirão que isso é bobagem. Também acho. Mas, pior que isso é continuar achando que tudo está sob controle e o país no rumo certo.

O nosso escândalo de cada dia

escreva o seu comentário

Quando se pensa que todas as falcatruas foram descobertas e nada de novo existe para aparecer, simplesmente acontece. Eis que um ex-diretor da Petrobrás, ao ver seu barco afundando, resolve dar com a língua nos dentes. Trata-se da tal delação premiada na qual o cara prestes a ser enforcado sai pela tangente, trocando dedurações por redução de penas ou mesmo pela liberdade.

Feito isso, o mundo da política estremece. O governo protesta e com razão dado que este é o país no qual quem governa nunca sabe de nada. É mais ou menos como você morasse numa casa suja, mas jamais tivesse notado a sujeira. Já a oposição aproveita-se e cai matando, sempre visando lucros eleitorais com o disparate agora público.

Bem, todo mundo sabe exatamente tudo sobre o assunto acima. O que me espanta é a naturalidade com que recebemos a notícia. Então a corrupção corria solta na maior estatal brasileira e ouço isso com uma pasmosa naturalidade. Coisa normal, não? Coisa esperada, não?

Do pouco que consegui aprender nessa fileira de anos que carrego nas costas restou a convicção de que, infelizmente, o ser humano é dotado de uma incrível capacidade de adaptação. O sujeito acaba se acostumando até mesmo com as desgraças. Mais dia, menos dia, o horror começa a parecer natural. Exatamente isso é o que se passa quando somos submetidos à essa enxurrada de notícias de corrupção. O mundo em que vivemos é assim, assim…

Mas, felizmente o mundo não está perdido. Agora mesmo um esgrimista brasileiro, de 12 anos de idade, restaura a nossa confiança nos seres humanos. Competindo, ele passaria à próxima fase de uma competição importante na qual tentava o bicampeonato. Aconteceu de o juiz dar a ele um ponto que lhe asseguraria a vitória. Mas, o pequeno esgrimista comunicou ao juiz que ele errara ao dar o ponto dado que não houvera o toque no adversário. Anulado o ponto o pequeno esgrimista foi derrotado e saiu da competição.

O exemplo vem de um menino esgrimista. Talvez um ato de tal grandeza possa sensibilizar algumas pessoas cujas trajetórias precisam retornar aos trilhos.

Mulheres traídas

escreva o seu comentário

Mulher traída não perdoa - sentenciava um amigo após a décima rodada de shop.  Os outros, em volta dos copos, balançavam a cabeça concordando. Não sei se ainda é assim, mas em rodas de homens que bebem mulher é o tema principal.

Conheço um cara que era casado e vivia com a mulher e os filhos. Família bem composta, gente boa, laços familiares sólidos. Até que ele se engraçou com uma secretária do lugar onde trabalhava. Verdade seja dita, a tal secretária era dessas mulheres que despertam a atenção dos machos. Desejada por todos, a moça acabou cedendo aos parcos encantos justamente do bom marido, o cara casado, pai e chefe de família.

Dizem que histórias de traição quase sempre terminam mal. No caso do meu conhecido as possibilidades de que a mulher dele tomasse conhecimento da aventura do marido eram praticamente nulas. O problema foi esse “praticamente”. Pois aconteceu de numa comemoração de final de ano a tal secretária aparecer na festa algo estonteante. Diante da força física da moça, a turma que a essa altura já andava meio alta começou a se perguntar que segredos teria aquele cara para tê-la conquistado.

Homens bebendo e conversando em geral se esquecem de onde estão. Tão alto falaram que a mulher de um deles acabou ouvindo a história de traição. Daí à notícia chegar à esposa traída foi uma nada, afinal solidariedade de categoria serve pra isso. O fim da história você pode imaginar: brigas, separação etc.

Quem a pouco tempo esteve na berlinda foi o presidente François Hollande. O mandatário da França teve um caso com uma atriz que se tornou público. A então primeira-dama Valerie Trierweiler não teve outra saída que não a de deixar Hollande. Agora Valerie está dando o troco: sai nesta semana um livro dela no qual traz a público detalhes da vida privada o casal. Interessante que ela ficou sabendo da existência da amante do presidente através de uma notícia publicada numa revista francesa. Ao saber do caso a primeira reação de Valerie foi a de tentar se matar. Ela correu para o banheiro, pegou um vidro de pílulas e só não as ingeriu porque Hollande tomou-o das mãos dela.

Não se sabe que consequências advirão do livro de Valerie. Mas, o caso reforça a opinião corrente entre os homens: mulher traída não perdoa.

Portanto, cuidado cara-pálida.

As cobras

escreva o seu comentário

Cobra é um bicho estranho no qual não se pode confiar. Dias atrás li o depoimento de uma jornalista que foi presa e torturada nos tempos da ditadura. Nua ela foi colocada numa sala escura onde, pouco depois, apareceu um sujeito trazendo uma cobra. A jornalista ficou assim, nua e com uma cobra no quarto, sem poder vê-la.

Relata a jornalista que, trêmula de medo, arranjou-se, evitando movimentar-se porque sabia que cobras são atraídas por movimentos. Não posso imaginar a dimensão do horror experimentado ao se passar por uma situação dessas. Ao ler o relato da jornalista lembrei-me do romance de Orwell no qual a personagem sob tortura é levada a uma sala onde fica a pior coisa do mundo. O que é a pior coisa do mundo? Na verdade ela é diferente para cada pessoa. Trata-se de algo que infunde em você o mais profundo terror. No caso da personagem eram os ratos. Uma gaiola com ratos famintos foi colocada na cabeça da personagem. Embora os ratos estivessem separados da face e não pudessem chegar a ela a personagem pode experimentar o horror no sentido mais puro.

Quando menino morei no interior e era comum circular em meio à mata virgem. Meu irmão rezava uma oração- se não me engano a São Brás - que, segundo ele, protegia contra o ataque de cobras. Certa vez minha tia saiu do banho e ficou presa no banheiro porque entre ela e a porta, instalara-se um urutu cruzeiro.

Leio que cobras podem picar mesmo depois de terem suas cabeças decepadas. Por alguns instantes os reflexos ainda se mantêm e o veneno é inoculado caso a cobra atinja a sua presa. Portanto, cuidado.

A minha infância é povoada por história de serpentes, aranhas e escorpiões. Conheci pessoas que foram picadas por cobras venenosas e morreram por não terem recebido a tempo o soro antiofídico. De todo modo tenho muito medo de cobras. Hoje em dia não andaria irresponsavelmente em matas sob o perigo de ser atacado por um réptil.

Não sei dizer se para mim as cobras seriam enquadradas como a pior coisa do mundo.

Reencontro

escreva o seu comentário

Se não me engano éramos oitenta, embora mais tarde viessem para a nossa turma três ou quatro transferidos. Contra o quê, aliás, protestamos. Depois de às duras penas sermos aprovados num vestibular concorridíssimo, não poderíamos aceitar a vinda de uns caras que sabe-se lá como conseguiram transferir-se. Mas, a briga não durou. Nada como o tempo para soterrar divergências de modo que ao final do curso éramos um só grupo de formandos, prontos e embalados para enfrentar os desafios do futuro.

Não parece mas, já se passaram quarenta anos desde a noite em que vestimos becas e participamos da cerimônia de formatura. Depois daquilo, dos abraços, cada um seguiu o seu caminho. Alguns se mantiveram próximos, mas a maioria dispersou-se. Eis que agora, quarenta anos depois, os antigos companheiros estão se procurando. Querem marcar um encontro no território sagrado da faculdade, renovar afeições, quem sabe despedir-se de vez dos amigos.

A internet- sempre ela - tem facilitado contatos. Verdadeira cascata de e-mails corre de lá pra cá e daqui pra lá.  Velhos amigos finalmente recebem notícias e aos poucos o grupo se reconstitui. Há nesse procedimento um jato incontrolável de alegria. Parece que de repente tornou-se possível recompor o passado, amoldando-o às circunstâncias atuais. Um dos velhos colegas tem-se encarregado de reunir fotografias atualizadas dos antigos amigos para que cada um possa ser reconhecido por ocasião do encontro a ser marcado.

Esse álbum de fotos é de todo modo surpreendente. As últimas imagens que guardamos do antigos companheiros justamente são aquelas dos tempos de faculdade. De modo que de repente somos apresentados a um senhor ou senhora cuja imagem atual nem sempre se sobrepõe à do passado. Amigos de todo dia no passado poderiam não ser reconhecidos em um encontro casual. Os anos pesam. Os anos pesaram.

Mas, nem tudo é festa nessa história de reencontro depois de quatro décadas passadas. Insidiosamente vai-se descobrindo que alguns dos velhos companheiros nos deixaram de vez. Surpreende que numa turma de oitenta dez tenham morrido. Então aquele rapaz, aquela moça, simplesmente desertaram?

Hoje fiquei sabendo sobre a morte do Luíz, companheiro de tantas de cuja amizade tive a honra de privar. Era um sujeito e tanto, ele que perdera a mãe ainda pequeno e fora criado pela irmã. O Luíz era desses caras dos quais se diz tratar-se de verdadeira moça tamanha a sua educação e bons modos. Convivi com ele nos anos de faculdade e não me recordo de dia em que não trocamos uma boa prosa. Estive no casamento dele, conheci sua família… Mas, então, fica-se sabendo que o Luiz está morto. Não sei de que ele morreu, nem quando.

Entretanto, não estou preparado para aceitar a morte do Luíz. Na verdade eu não o vejo há quarenta anos de modo que posso muito bem imaginar que ele continua vivo, andando por aí, quem sabe até ao alcance de um encontro fortuito.

Tenho receio de dizer isso, mas talvez estejamos todos mortos. De tal forma nos afastamos, seguindo as imposições da profissão e da vida, que não parece ter muito sentido reencontrar-nos. Não fosse o meritório esforço de alguns amigos que procuram pelos antigos colegas, eu continuaria achando que o Luíz está vivo e poderia continuar dormindo em paz.