2014 abril at Blog Ayrton Marcondes

Arquivo para abril, 2014

Dia de campeão

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Dias atrás assisti ao jogo entre o Real Madri e o Barcelona. Grande embate travado entre os craques que defendem as cores dos dois times. No fim venceu o Barcelona por 4 X 3 numa partida realmente memorável. O toque de bola, a criação de situações possíveis de gols, e a velocidade com que um time leva a bola à área do adversário são realmente espantosas. Eis aí um tipo de jogo no qual o telespectador fica com os olhos colados à tela da TV não perdendo um só instante do que se passa em campo.

Foi depois do jogo entre os times espanhóis que me perguntei sobre o que, afinal, se passa com o futebol em nosso país. Teriam secado as nossas fontes de grandes craques? O desaparecimento do futebol de várzea teria, como dizem, influenciado a queda na geração de bons jogadores? Estaríamos mal ajambrados no quesito técnica, jogando um futebol do passado? Ou a cartolagem estaria mais preocupada em poderes pessoais e negócios do que com aquilo que acontece em campo? E, finalmente, seria que a atual safra de técnicos estaria defasada quanto aos novos esquemas e modos de jogar?

Se um ou todos os itens citados no parágrafo anterior tiverem peso sobre o que hoje se joga nos campos de futebol do país é preciso, com urgência, corrigir (corrigi-los) para que o Brasil volte a ser a potência que sempre foi, mundialmente, no futebol. Aliás, que se diga: mesmo que a seleção nacional vença a Copa a se realizar em junho isso não significará melhora do nosso futebol. É preciso lembrar de que a maioria dos jogadores convocados atua no exterior e está habituada a jogar o futebol que hoje se pratica por lá. Daí que, nesse sentido e apenas nele, a seleção “nacional” não é de fato “nacional” embora constituída por brasileiros natos.

Tempos atrás assisti a uma entrevista de um ex-campeão mundial da Alemanha, hoje atuando como relações públicas do Bayern de Munique. Disse ele que o futebol que hoje se joga no Brasil é coisa do passado. Relatou o grande esforço dispendido na Alemanha que há oito anos, deu início a um processo de mudança da mentalidade sobre os modos de jogar. Tal mudança, radical, foi implementada nas divisões de base para que os meninos crescessem com outro modo de jogar. Trata-se do futebol que hoje se pratica na Europa, consistindo em jogadas mais rápidas, jogo veloz e efetivo que busca sempre a aproximação do gol adversário. Terminou o ex-jogador dizendo-se admirador inconteste do futebol brasileiro que deu ao mundo grandes jogadores. Entretanto, salientou a necessidade de uma mudança radical no futebol praticado no país.

Daí que não me surpreendeu a conquista do Campeonato Paulista de Futebol pelo Ituano no jogo de ontem contra o Santos. Sem ter em seu time nenhum craque consagrado mostrou o Ituano maior coesão e afinação no toque de bola entre os seus jogadores. Um time pequeno, mas armado dentro de suas condições para jogar o melhor futebol a eles possível. Trata-se de um exemplo de organização cujo resultado conseguido deve mesmo ser muito comemorado. Pena que o time será desmanchado porque ao Ituano cabe agora disputar a série D do Campeonato Brasileiro. Muitos de seus jogadores tornaram-se visíveis pelo futebol que praticam e com certeza atrairão o interesse dos grandes clubes.

Pena que seja assim. Da noite para o dia esfacela-se um exemplo do que bem que poderia ser o futuro do futebol do país.

Ladrões de galinhas

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Nos interiores desse imenso Brasil as pessoas que mantém criações de galinhas em seus quintais sabem que é preciso cuidar bem delas. Não é incomum que algum gajo passe a mão num galináceo de vizinhos, tratando de enriquecer a sopa noturna. Furtar galinhas é coisa que faz parte do cotidiano de inúmeros lugares. Portanto, um olho no que estiver fazendo, outro no quintal.

Na cidazinha onde nasci havia todo tipo de gente, inclusive aqueles que sabía-se dedicados ao furto de galinhas. Vivia no lugarejo aquele Hilário, italiano que emigrara para o Brasil depois da Grande Guerra. Verdade que o Hilário era um veterano cuja cabeça não funcionava lá muito bem, consequência de trauma adquirido nas batalhas de que participou. De modo que o negócio do Hilário era comer gatos, pasmem. Vivia ele atrás dos pobres bichanos e, quando os capturava… bem você já imagina o fim da história.

Eu havia me esquecido da existência dos tais ladrões de galinhas até ler na edição de ontem do jornal “Zer Hora” de Porto Alegre o estranho caso de um homem que, certo dia, deu pela falta de de um galo e uma galinha em seu quintal. Avisado de que um rapaz de 25 anos tinha sido visto com as aves o proprietário acabou recebendo-as de volta, devolvidas que foram por quem as furtara.

Esse seria o fim da história não fosse o dono das galinhas ter dado queixa na polícia. Depois disso, seguiram-se várias fases de um processo girando em torno do furto de bens cujo valor estimado era de R$ 40,00. Em primeiro lugar o juíz da comarca aceitou a denúncia do crime embora a defensora pública a serviço do rapaz tentasse trancar o processo baseada no princípio da insignificância. Como o mesmo princípio tentou- se inutilmente trancar o processo no STJ. Degrau por degrau, sempre subindo, não é que hoje o processo chegou ao STF? Quem o recebeu e determinou que não fosse encerrado foi o ministro Luís Fux, o mesmo ministro que vimos participando das sessões de julgamento do mensalão.

Então, o caso do furto de duas aves chegou à mais alta corte do país. O furto aconteceu na cidade mineira de Rochedo de Minas cuja população é de 2,6 mil habitantes. O rapaz que furtou as aves nunca foi preso e o processo será julgado mais à frente no STF. No jornal “Zero Hora” comenta-se o paradoxo da mais alta corte do país que tem pela frente decisões sobre temas como o uso de drogas para consumo próprio, a legalidade do “Mais Médicos” e outros julgamentos relevantes também tratar de furto de galinhas.

Interessante, não?

João de Deus

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Se você ainda não ouviu falar de Abadiania talvez não conheça as atividades de João de Deus. Abadiania é uma cidade do interior de Goiás, distando cerca de 80 km da capital Goiânia. Para Abadiania confluem milhares de pessoas, grande parte delas vindas de vários países. Nessa cidade de pouco menos de 20 mil habitantes e aparentemente desimportante ouvem-se diferentes línguas nas ruas, hotéis e casas de comércio. Mas, por que razão essa gente toda se desloca para Abadiania?

A resposta é simples: para procurar auxílio junto a João de Deus. É por aquele a quem chamam de “John of God” que os gringos atravessam oceanos e vem parar em Abadiania. O mesmo fazem brasileiros vindos de todas as partes do país.

João de Deus criou na ccidade a Casa de Dom Inácio, lugar no qual atende, uma a uma, às milhares de pessoas que o procuram. Atende ele às quartas, quintas e sextas-feiras e são freqüentes os dias em que aparecem no lugar mais de 1,5 mil pessoas. Auxiliado por seguidores João de Deus logrou montar um sistema eficiente e organizado de atendimento. Entretanto, tal é o fluxo de pessoas que recomenda-se chegar cedo: João de Deus começa a trabalhar às 8 da manhã mas, uma hora antes, o lugar, aliás  amplo, já se encontra lotado.

No que consiste o trabalho de João de Deus? Ele é um grande médium que tem o dom de receber espíritos curadores de doenças. São suas palavras: “Eu não curo ninguém. Quem cura é Deus, que na sua infinita bondade, permite a entidades que me assistem proporcionar cura e consolo a meus irmãos. Eu sou apenas um instrumento em Suas mãos”.

Se você não é espírita ou não acredita em nada disso, simplesmente visite a Casa de Dom Inácio e veja com os seus próprios olhos o que se passa por lá. Presenciará um ambiente onde predomina grande energia positiva gerada pela fé das pessoas que procuram João de Deus. Assisirá a cirurgias realizadas bem à sua frente sem o uso de anestésicos; encontrará centenas de pessoas sentadas e de olhos fechados em salas de meditação; ocasionalmente poderá ver alguém trazido em cadeira de rodas levantar-se; e poderá se surpreender com alguma mensagem transmitida a você por João de Deus no momento em que for atendido por ele.

Talvez pessoas mais céticas possam apresentar outras explicações para o que acontece na Casa de Dom Inácio. Seria plausível pensar-se num lugar predestinadopé um  homem escolhido para gerir estranho fenômeno energético cuja natureza nos escapa. Ainda assim, estaríamos longe de compreender e explicar acontecimentos impressionantes cuja ocorrência desafia toda a lógica comum.

Que se diga: João de Deus trabalha arduamente e não cobra nada das pessoas que o procuram. A Casa de Dom Inácio sobrevive de doações espontâneas. Ao final da manhã é fornecido, gratuitamente, um prato de sopa a todas as pessoas presentes. Além disso, a Casa de Dom Inácio mantém na cidade um local onde diariamente são fornecidas refeições a um grande número de pessoas carentes.

De minha passagem por Abadiania fica a imagem de um sueco que pediu para relatar em público a sua história pautada pela existência de um tumor cerebral. Auxiliado por uma tradutora que vertia do sueco para o inglês contou-nos ele que o grande tumor que se desenvolvera na sua cabeça fora considerado intratável pelos médicos de seu país. Sem que os remédios fizessem efeito e desesperado o sueco deslocou-se até Abadiania onde foi atendido por João de Deus. Ao retornar à sua terra submeteu- se a novos exames, sendo constatada grande redução do tumor que a cada dia melhora. Disse-nos ele que os médicos consideraram o caso impossível daí ter ele retornado ao Brasil para agradecer.

O caso acima é apenas um entre milhares ocorridos na Casa de Santo Inácio desde sua fundação por João de Deus, em 1978. Talvez para você que lê esse texto tudo isso não passe de ficção. Pois caso você tenha algum problema de saúde complexo em pessoa de sua família ou, talvez, em você mesmo quem sabe o João de Deus possa ajudá-lo.

João de Deus é conhecido em muitos países. A apresentadora de TV Oprah Winfrey esteve em Abadiania para ver de perto o trabalho de João de Deus. Não custa destacar que não se trata de algum um tipo de comércio muito lucrativo calcado no abuso da fé das pessoas. Você não paga, é muito bem tratado e o problema que o trouxe a Abadiania talvez venha a ser resolvido.

A Copa vem aí

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Paira sobre o entusiasmo dos cronistas esportivos densa nuvem de incerteza. Para além da competição em si aguardam-se os acontecimentos que cercarão a realização da Copa do Mundo no país. Sabe-se de antemão que, infelizmente, o grande evento esportivo acontecerá num país que não se preparou devidamente. Obras inacabadas, acessos viários complicados, transporte aéreo deficiente, aeroportos aquém da demanda e outros problemas cercam a realização do maior evento do futebol mundial.

Dias atrás o governador do Rio Grande do Sul declarou alto e bom som que se soubesse do modo de agir da FIFA, jamais teria concordado com a realização do campeonato mundial no Brasil. Estamos, de fato, sob a ditadura da FIFA que figura como uma espécie de poder a parte dentro do país. São inúmeras - e caríssimas - as exigências que devem ser cumpridas dentro de prazos cada vez mais exíguos. A menos de dois meses do início dos jogos estádios estão por terminar suas obras e entornos dessas mesmas praças de esportes talvez nem mesmo cheguem a ficar prontos a tempo. O tal padrão FIFA passou a ser detestado por parte da população que se pergunta por que o mesmo não se exige dos serviços públicos de atendimento à população.

Gastos mirabolantes em obras que, depois da Copa, não terão grande utilidade. Destaca-se a construção do estádio de Brasília a custos surpreendentes e inaceitáveis. Cresce a indignação e esperam-se manifestações. Radicais e depredadores declaram que estarão em ação e a polícia prepara homens especializados em luta para combater possíveis arruaceiros.

Por outro lado a imprensa estrangeira não perde a oportunidade de bater duro na imagem do país. Trata-se da realização da Copa do Mundo naquele país do samba onde nada funciona direito. Por traz desses comentários traços da antiga e malfadada crença de superioridade sobre os habitantes das regiões tropicais. Há um indisfarçável ranço nas críticas desabridas tais como as recomendações de governos a seus cidadãos que pretendam vir ao Brasil para assistir a Copa.

Obviamente, não há nenhuma novidade no que está escrito acima. Todo mundo sabe disso, não? Mas o que devemos pensar a essas alturas, nós que amamos tanto o futebol? Creio que aí deve passar a valer o tal relaxa e goza. Agora não adianta mais não se colocar contra a realização da Copa no país porque o fato é irreversível. Resta-nos torcer para que as coisas se passem da melhor maneira possível, de preferência sem agressões e vítimas. Quem sabe, também, para que o Brasil venha a ser o campeão.

E que não se esqueça da maior vantagem: passada a Copa pelo menos teremos a satisfação de ver desaparecer do noticiário os nomes de Valcke e Blatter. Isso não é pouco, não. Pena que continuarão por aí os políticos que se empenharam e conseguiram trazer a Copa de 14 ao país.

Abrindo negócio

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Não sei se por coincidência, mas semana passada estive com duas pessoas cujas intenções são a de abrir negócios. Uma delas é um ótimo sujeito que vai abrir um bar com a intenção de, depois, transformá-lo num restaurante. Ele tem pouco mais de 40 anos de idade e disse que pretende deixar alguma coisa para seus dois filhos. O negócio seria, portanto, via para garantir o futuro dos meninos que agora estão cursando o ensino médio.

Como acontece com gente que não tem experiência em abrir comércio o homem de quem falo prepara-se para ir, com a mulher dele, ao SEBRAE que realiza um bom serviço de orientação e aconselhamento para a abertura de novas empresas.  Espero que tenham muita sorte no empreendimento que estão por realizar. Coragem e determinação são características que não faltam a eles.

A verdade é que ninguém pode ficar parado. O país passa por fase complexa. Especialistas apontam erros na política econômica, havendo quem preveja dias difíceis pela frente. Corre que o governo maquiará a situação, segurando preços, até as eleições. Depois delas a água represada deverá romper os diques e sabe-se lá como as coisas se passarão.

Mas, não falo sobre isso com o futuro proprietário de um bar. Não há que desanimá-lo, nem antepor dúvidas em relação ao projeto dele. A partir de certo momento passamos a comentar as enormes cifras de dinheiro envolvidas em negócios não bem explicados realizados pela Petrobrás que, a cada dia, parece afundar-se numa grande trama de denúncias. São dinheiros inimagináveis, mirabolantes, que nos fazem perguntar se cifras de tal magnitude realmente existem. E como não dizer do desconforto ao receber notícias sobre a realização de negócios tão absurdos, justamente nós - os tais contribuintes - que a cada mês gememos ao recolher uma das mais altas taxas de impostos do mundo?

Talvez por isso muita gente sonhe com a “sorte grande”. Que tal um prêmio da Megasena ou até mesmo um bilhete inteiro premiado da Loteria Federal? E se é para abrir negócio por que não um desses serviços da internet que fazem milionários da noite para o dia? Pois é.

O sucesso de um empreendimento depende de uma série de fatores. Partir de uma boa proposta não significa que tudo vá dar certo. Conheço gente que tentou sair da vida de empregado e se deu mal, retornando ao emprego. Outros se deram mal, mas persistiram e acabaram dando certo.

Essa coisa toda mais parece um jogo. Pena que tenha consequências tão dramáticas sobre as nossas vidas.

Mulheres perigosas

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Não sei se você tem entre suas qualidades e defeitos a capacidade de odiar. Dizem que o ódio é ligado ao amor: quem ama muito, também pode odiar muito.

Conheci um sujeito que certo dia comprou um revólver de brinquedo para dar ao filho. Ao chegar em casa viu a mulher na cozinha e, por brincadeira, apontou o revólver para ela e disse: já descobri tudo, melhor você me contar.

Desesperada e apavorada a mulher relatou que o traia, sim, tinha um amante, sim, e por aí foi. O marido pego de surpresa não soube o que dizer. Descobriu-se corneado por puro acaso. Separou-se da mulher, mas gostava dela. Consta que tempos depois aceitou-a de volta, mas sobre isso não tenho certeza. Ele não desfilava no bloco dos que odeiam irreversivelmente.

Mulheres e homens podem ser possessivos. Há casos de casais que se amam e acabam não dando certo porque entre eles cresce o ciúme ou avalanches de sentimentos de posse. Um amigo me disse, certa vez, que mulher quando tem raiva é pior que homem. Mulher tem vermelho nos olhos – disse ele. Respondi que isso era bobagem. Para mim homens e mulheres podem ser igualmente propensos a crise de ódio e mesmo atos de vingança. Mas, as mulheres estão em desvantagem, vejam-se os horrorosos crimes praticados contra elas por homens que simplesmente não aceitam o fim de seus relacionamentos. Crimes dessa natureza ocorrem com frequência como atestam os programas de televisão que abordam o assunto.

O que não significa que o contrário também possa acontecer. Ontem foi presa uma mulher condenada a seis anos de prisão. O crime? Bem, ela se casaria em três dias não fosse a súbita e inexplicável desistência do noivo. Inconformada ela e o pai contrataram dois marginais com a missão de decepar o pênis do rapaz que se recusara ao casamento.

Consta que no momento da ação os marginais avisaram ao pobre sujeito que o estavam cortando a mandado de sua ex-noiva. Mas, essa não teria sido a primeira vingança da mulher que, segundo se noticiou, anteriormente ateara fogo na casa e no carro do ex-noivo.

A mulher e o pai foram condenados por lesão corporal gravíssima. Seus advogados dizem ter surgido uma prova nova que os inocentará. Quando ao ex-noivo revela-se que ele prefere o anonimato.

Moral da história: cuidado! Pode acontecer de você, homem, relacionar-se com uma mulher cuja filosofia seja a de “se não for meu, não será de ninguém”. E facas cortam mesmo, acredite.

Para ser santo

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Hoje é o dia em que, finalmente, o jesuíta José de Anchieta ascenderá à categoria de santo. Ao assinar a santificação de Anchieta o papa Francisco incorporará o terceiro santo brasileiro à grande galeria de santos da igreja.

Desde que me entendi por gente e frequentei as cerimônias católicas me perguntei por que existem tantos santos europeus e tão poucos latinos. Certa vez perguntei isso a um padre e ele me explicou que para a canonização são necessárias a fé cristã e dois milagres reconhecidos com tal. Essa resposta me fez pensar que talvez entre os europeus houvessem pessoas melhores, de tal forma dotadas que receberam a graça de operar milagres. Talvez em nossas terras tivesse se gerado um povo no qual as qualidades cristãs não tivessem medrado. Não se trataria, portanto, de descuido da Santa Sé, mas de práticas calcadas na realidade.

A isso se acrescente o fato de que só viemos à luz há pouco mais de 500 anos. Bem antes a humanidade já pelejava na Europa, construía igrejas e discutiam-se filosoficamente os problemas que cercam a existência do homem. Sendo o nascimento de Jesus o ano zero de nosso calendário teriam os europeus muito mais tempo e cultura para gerar figuras santificadas entre os seus.

Deixando de lado essas dúvidas mais ou menos heréticas vale dizer que em boa hora o nosso valoroso José de Anchieta é santificado. Torna-se ele santo após longa espera de decisão pela Santa Sé que achou por bem abrir mão de milagres porque consta que o jesuíta nunca operou nenhum deles.

Para nós José de Anchieta sempre será um homem de extraordinária energia que teve força e coragem para se embrenhar naquele Brasil recém descoberto, pregando a fé cristã e participando de momentos importantes de nossa história como a fundação do Colégio de Piratininga que deu origem à cidade de São Paulo. Chegando ao Brasil em 1553 teve diante de si uma terra a ser desbravada e uma população indígena a ser catequizada. Aplicou-se ele com tanto amor e dedicação à sua missão que passou a fazer parte da história do país em seus primórdios.

Então o Brasil passa a ter seu terceiro santo. Não sei se hoje esse acontecimento será motivo para comemorações, nem mesmo se o santo Anchieta conta com fiéis como acontece, por exemplo, com o Frei Galvão de Guaratinguetá. Mas, em se tratando de Anchieta o que realmente importa é fato de ele merecer a distinção que hoje recebe. Afinal, o jesuíta foi dos primeiros a trilhar os caminhos que hoje percorremos sem nos darmos conta das dificuldades enfrentadas e superadas no passado.

Dentro da Gaiola de Faraday

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Os professores de física ensinam que se uma corrente elétrica atravessa um corpo metálico ela passa somente pela superfície externa dele. Esse é o princípio da Gaiola de Faraday que, entre outras coisas, explica porque você não é atingido quando um raio cai no seu carro.

Muita gente se pergunta sobre o que acontece quando raios caem em aviões em pleno voo. Isso pode acontecer durante uma tempestade. Então você está ali na sua poltrona, com o cinto afivelado, quando de repente ouve um estrondo. Calma, não aconteceu nada, o avião não vai cair, foi só um raio. O avião funcionou como uma Gaiola de Faraday e a eletricidade trazida pelo raio percorreu apenas a parte externa dele.

Certa vez estava eu num voo em direção ao nordeste. Ao meu lado viajava uma moça bonita com a qual não me atrevi a puxar assunto. Íamos assim, calados, cada um lendo a sua revista quando se ouviu um estouro que assustou os passageiros. Logo em seguida falou o comandante, recomendando aos passageiros que ficassem sentados e com os cintos afivelados.

Você sabe como as coisas se passam na cabeça da gente numa hora dessas. Não há como não se pensar no pior. Turbulência e explosão e você dentro de um avião lá nas alturas! Pois não demorou nada e ouviu-se outro estrondo. Nesse momento a moça bonita ao meu lado agarrou-se ao meu braço, talvez achando que chegara a nossa hora, morreríamos num desastre aéreo.

Se há uma coisa terrível quando se está numa situação perigosa é essa de o tempo demorar a passar. Dois minutos são uma eternidade quando se está atravessando uma zona de turbulência. Mas, a situação em que estávamos finalmente passou e as coisas melhoraram. Só então o comandante explicou que aquela barulheira toda fora provocada por raios que atingiram o avião.

Mas, valeu o preço pago pelo susto. A partir daí eu e a moça passamos a conversar e nos tornamos amigos. Tão amigos que marcamos um jantar na capital do nordeste para onde eu viajava a trabalho.

Naquela época eu vivia sozinho de modo que me considerei sortudo pelo fato da moça ter aceitado o meu convite. Na noite da sexta-feira - a combinada - liguei para ela e não fui atendido com satisfação ou pelo menos com alguma vivacidade. Explicou-me ela ser mulher casada e não saber dizer o que lhe dera na telha ao marcar um jantar comigo. Desculpou-se e as coisas ficaram assim.

Até hoje não sei dizer se essa história de fato aconteceu. Tempos depois vi numa revista de circulação nacional uma foto da moça com quem que sentara no avião. Da certeza de que era ela parti para a dúvida e nunca cheguei a nenhuma conclusão. De uns tempos para cá tenho pensado que talvez eu tenha inventado essa história. Eu teria estado num avião que funcionou como Gaiola de Faraday e, assustado, fechei os olhos e inventei uma linda moça ao meu lado só para me acalmar. Quando ao tal jantar, talvez eu tenha acrescentado esse final depois.

De todo modo nada disso importa. Numa época em que se discute se o nosso mundo e nós mesmos não seríamos seres virtuais, criados em computador por um programador de uma civilização avançada, que importância teria uma dúvida entre a realidade e a ficção?