2013 junho at Blog Ayrton Marcondes

Arquivo para junho, 2013

A lógica do medo

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Fui a uma festa realizada no bairro do Morumbi, em São Paulo. Eram seis horas da tarde e já estava escuro neste mês de junho. Na Avenida Giovani Gronchi, logo depois do Estádio do Morumbi, o trânsito se complicou porque se realizava uma obra no asfalto. Dentro do carro me senti acossado pela muitas notícias sobre crimes que acontecem no Morumbi. Na minha cabeça estava numa região sem lei, à mercê de bandidos que quebram os vidros dos carros, levam o que querem e muitas vezes atiram e matam só para se divertir.

Obviamente, tratava-se de um exagero. Ou não? E se de repente um marginal surgisse ali, revólver na mão, e me escolhesse como vítima de suas pretensões assassinas? Foi esta a primeira vez em que pensei sobre a real necessidade de ter vidros blindados no carro. Com a blindagem há mais segurança, o problema é o alto custo da instalação.

Por outro lado também pensei que, na verdade, não cabia a mim a prevenção de um possível crime. Os impostos são arrecadados para que prefeituras, governos estaduais e federais cuidem, entre outras coisas, da segurança. No trânsito parado e exposto ao acaso de uma agressão tornei-me um contribuinte ainda mais descontente com o destino do dinheiro que pago em impostos.

Depois de algum tempo, morosamente, o trânsito fluiu. Cheguei vivo, participei da festa e voltei para casa feliz porque a sorte me favorecera. Que se entenda bem: a segurança pessoal hoje em dia está ligada à sorte de não ser escolhido como vítima pelos ladrões.

Acontece que o que está escrito acima não é nenhum exagero. É desse modo que as coisas se passam e ao cidadão resta manter os olhos bem abertos e contar com boa dose de sorte. Na capa da revista “Veja – São Paulo” desta semana está escrito em letras garrafais: BASTA! Informa-se que o número de mortes após assaltos cresceu 74% neste ano.

Mas, como colocar um paradeiro nessa onda crescente de criminalidade? Há quem atribua a atual situação desigualdade social. Pessoas vivem em condições precárias e sem acesso a bens básicos. Falta-lhes tudo, recursos, formação, comida, saneamento, cuidados com a saúde etc. Desse meio onde a precariedade é a regra emerge boa parte dos marginais sem escrúpulos que andam por aí. Obviamente, isso é importante, mas não é tudo.

E as tais experiências bem sucedidas no combate à criminalidade levadas a cabo em outros países? A tolerância zero que resultou em redução do crime em Nova York não poderia ser aplicada aqui? Ou algum outro tipo de experiência realizada com sucesso no exterior?

No trajeto até o Morumbi tive contato com a lógica do medo embutida em nossas mentes. Acuados diante de algo maior que a nossa capacidade de reação, seguimos temerosos de que esta seja a nossa vez de cruzar com o crime. Esse medo restringe a liberdade individual e reclama por medidas efetivas para que se possa andar por aí em segurança.

Ah, o Brasil!

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Sabe qual a diferença entre a equipe econômica do governo e um time de futebol? Bem, no time de futebol quando um cara joga mal é substituído…

A inflação vai comendo por fora os dinheiros do povo. A política econômica do governo é ruim e o país perde bons negócios no exterior. O PIB virou “pibinho” e a doença parece que pegou tanto que não se consegue prever altas significativas. A indústria está em baixa, o consumo também. Puxaram o freio de mão. O Banco Central elevou a taxa de juros e o assunto rende na mão de analistas que escrevem sobre o que há de vir.

As consequências dessa doideira toda são muitas, afinal a economia do país afeta e muito o bolso da gente. Mesmo nas pequenas coisas se percebem os tentáculos da inflação e o desajuste da economia. Olhe, por exemplo, o que me conta um amigo. Ele tem o hábito de, toda manhã, tomar café na padaria. Faz isso porque mora num apartamento pequeno e não quer fazer barulho para acordar a mulher. Ele se levanta mais cedo, deixa a mulher na cama e sai de fininho para o café na padaria.

O meu amigo tem por hábito toda manhã tomar uma xícara de café e um gole de conhaque português. Depois disso fuma um charuto e só então o dia começa de verdade para ele. Acontece que até ele pagava oito reais pela dose de conhaque português. Sábado passado, na hora de pagar, o caixa da padaria cobrou dez reais. O meu amigo reclamou e ouviu que o reajuste havia sido feito por conta da inflação, alta do dólar etc.

Economistas e analistas do exterior se perguntam por que o governo não muda a equipe econômica cuja política para o país visivelmente não está dando certo. A presidente da República fecha-se em copas, durona como ela é. Mas, agora surge uma novidade: pela primeira vez a popularidade da presidente caiu em quase dez por cento.

O meu amigo, muito bravo com o novo preço da dose de conhaque, disse que torce para que a popularidade da presidente caia ainda mais. Ele acha que só diante da reprovação popular a presidente se conscientizará de que é preciso mexer na equipe econômica. Se não - ele avisa - vamos perder esse jogo e nós sabemos bem qual será o fim dessa história.

Os algozes

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Não sei há quanto tempo acontece, mas a linguagem futebolística incorporou definitivamente a palavra “algoz”. No Houaiss ”algoz” é classificado como substantivo masculino cujo significado é “carrasco, executor da pena de morte ou de outras penas corporais (como tormentos, açoites etc.)”. Em sentido figurado a palavra aprece como “indivíduo cruel, de maus instintos; atormentador, assassino”.

No futebol é “algoz” aquele(s) que provoca(m) a derrota de seus adversários em campo. Paolo Rossi foi o “algoz” da seleção brasileira derrotada pela Itália na Copa do Mundo de 1982. Rossi fez os três gols italianos, contra dois anotados pelos brasileiros que foram eliminados da Copa. Ronaldinho Gaúcho é “algoz” do Grêmio, time de Porto Alegre. A seleção da França é considerada “algoz” da seleção do Brasil dado tê-la derrotado na final da Copa do Mundo de 1992. Aliás, a França é mesmo “algoz” do Brasil, tendo eliminado a seleção nacional em três Copas do Mundo.

O ASA de Arapiraca foi “algoz” do Palmeiras derrotando o time do Parque Antártica de modo vexatório na Copa do Brasil de 2002. E por aí vai. Seleções, times, jogadores e até técnicos são candidatos a se tornarem “algozes” desde que inflijam grandes ou seguidas derrotas a seus adversários.

Como se vê o “algoz” do futebol no máximo pode se equivaler como sinônimo a “carrasco”, obviamente sem tortura ou morte. Mas, o que impressiona é o modo como jornalistas esportivos cada vez mais fazem uso do termo “algoz”. Futebol é paixão, competição explícita, disputa por cada centímetro do gramado onde duas equipes se enfrentam. O noticiário dos meios de comunicação estimula as rivalidades, buscando trazer maior empolgação aos jogos. È assim que as multidões são atraídas para os estádios e o futebol permanece como atração perene.

O futebol fez e fará novos algozes porque isso faz parte da natureza do jogo. O Uruguai derrotou o Brasil em pleno Maracanã na final da Copa do Mundo de 1950 e este fato provocou uma das maiores comoções coletivas de nossa história. Até hoje se fala no gol de Ghiggia, ponteiro da seleção uruguaia que meteu a bola dentro do gol do goleiro Barbosa do Brasil. Ghiggia foi o grande “algoz” do Brasil, o maior de todos. Ele decretou a continuação do derrotismo brasileiro que só viria a cair por terra quando da vitória da fabulosa seleção de 1958 na Suécia. Ali nascia para o mundo Pelé e um longo reinado de conquistas brasileiras.

É preciso fazer justiça aos algozes. Eles são responsáveis por boa parte das nossas ilusões. Sem eles o futebol não seria o mesmo, nem teríamos de quem sentir verdadeiros ódios por ocasião das nossas mais marcantes derrotas.

Saúde aos “algozes” do futebol.

Nos tempos dos palmtops

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O problema de espaço em casa é terrível. Sou dos caras que demoram a se desfazer de velharias. Decorre desse fato a formação de um pequeno museu no qual se destacam peças de tecnologias superadas que hoje não têm nenhuma utilidade.

A começar por duas boas máquinas fotográficas não digitais que precisam de filmes para funcionar. Hoje em dia as máquinas digitais permitem que sejam tiradas centenas de fotografias, sendo possível se ver na hora o resultado das tomadas. Não faz muito se pagava bom preço por filmes de 12, 24 ou 36 fotos e o melhor era mandar se fazer um copião antes de revelar apenas aquelas que tinham ficado boas. Tudo isso demandava dinheiro, trabalho e tempo. Profissionais ainda usam máquinas desse tipo, mas eles são profissionais e revelam as fotos que tiram.

A minha primeira máquina digital foi uma Casio que demorava uma eternidade para processar a foto. Dias atrás eu a descobri dentro de um armário, um pouco embolorada, mas ativa. Sinceramente, tive vontade de jogá-la fora, mas, como?

Hoje em dia a estão na moda os ultrabooks, sucessores dos notebooks ainda em uso no mercado. O primeiro computador desse tipo que tive foi um laptop comprado no Paraguai. Para a época era uma maravilha que gravava os dados num disquete. Quanto a desktops tive vários a começar pelo velho CP 500 da Prológica, isso num tempo em que peças de computador eram compradas de pessoas que as contrabandeavam.

Quanto a impressoras comprei muitas, algumas nem sempre capazes de imprimir os acentos dos processadores de texto. Está em casa - ainda - uma primeira impressora colorida - uma EPSON - que chegou ao Brasil no meu colo quando voltei de uma viagem à Nova York. E que dizer dos scanners que me roubaram tantas noites de sono para configurá-los aos computadores? Ainda tenho um deles que já não funciona com as novas versões do Windows. Questão de falta de drivers adequados porque os fabricantes apostam na obsolescência obrigando-nos à compra de novas linhas de produtos.

Tenho em casa vários fones de ouvido, um diskman, dois MP3 players e mais alguns “gadgets” que foram sonho de consumo no passado. Mas, falo sobre isso porque descobri entre as minhas velharias um palmtop que me foi muito útil no passado. Nesse palmtop era possível adaptar-se um tecladinho dobrável que permitia a digitação de textos etc. Aconteceu-me estar trabalhando num livro e minha mulher insistir que precisávamos de alguns dias de férias. Resisti por algum tempo, mas acabei concordando. Num hotel de Caxambu trabalhei junto da piscina como meu palmtop. Não era lá dessas coisas para se escrever, mas dava para o gasto, pelo que fiquei muito grato a essa pequena preciosidade tecnológica.

Hoje em dia um palmtop situa-se a quilômetros de distância de um tablet, daí não haver sentido em manter um deles em casa.  Entretanto, não consigo me desfazer dele nem de outros “gadgets” que ocupam espaço precioso em meu escritório. Tempos atrás cheguei a juntar sobre a mesa todos eles, mas desisti na hora de colocá-los no saco de lixo. Talvez os mantenha porque em dado momento fizeram parte da minha rotina diária e me serviram para alguma coisa.

As coisas estão, portanto, nesse pé. Inconclusas. Esses “gadgets” já não servem para nada, foram superados pela voracidade dos avanços tecnológicos. Não sei bem que destino dar a eles, mas creio que acabarão seguindo o destino inevitável que, mais cedo ou mais tarde, os aguarda.

Você tem algum “gadget” que já caiu em desuso?

Onda de estupros

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Não sei dizer se hoje, proporcionalmente, acontecem mais estupros que no passado. Talvez pelo crescimento da população humana e a rapidez de tráfego de informações recebamos mais notícias sobre casos de estupro. Casos horrorosos, aliás.

Na tabela de países com mais estupros divulgados a Índia ocupa lugar de destaque. Homens indianos com frequência surgem na mídia, responsabilizados que são por estuprar mulheres. São ataques brutais que consistem de estupros coletivos praticados por homens que não se importam com o destino das mulheres que estupram. O caso de um estupro praticado por seis homens contra uma mulher dentro de um ônibus, atirando-a para fora depois de usá-la como se fosse um boneco gerou protestos na Índia e em todo o mundo. Embora a adoção de leis mais duras os estupradores indianos parecem não ter-se intimidado: ontem mesmo divulgou-se o caso de uma turista americana que pediu carona a três indianos e foi estuprada por eles durante o trajeto até o local onde se hospedava.

Há pouco tempo recebemos notícia de estupro de uma turista dentro de uma vã de transporte. Aconteceu no Rio. O caso levou à descoberta de que os mesmos marginais tinham estuprado outras mulheres, sempre dentro da van. Localizados e presos os estupradores até pareciam pessoas normais. Bandidos perigosos, isso sim o que eles são.

Hoje se divulga que numa cidade situada a 400 km de La paz, capital da Bolívia, um estuprador foi enterrado ainda vivo por um grupo de mais de 100 pessoas que bateram muito nele antes de jogar a terra sobre o corpo. O rapaz linchado era acusado de estuprar e matar uma mulher de 35 anos de idade. Foi jogado na cova com os braços amarrados, de barriga para cima e sobre ele depositaram o caixão da mulher estuprada. Cena terrível, sequência de uma barbaridade que provocou a ocorrência de outra.

Há muitos anos fiquei muito impressionado com o depoimento de uma atriz durante entrevista. Ela era na época atriz de uma novela de televisão. Mulher muito bonita, atraente, relatou ela ter parado o carro numa rua próxima ao local onde participaria de uma filmagem. Ao descer do carro foi abordada por um sujeito que a levou à força a um terreno baldio onde a estuprou. Falou ela sobre a dimensão do trauma que se seguiu a começar pela imediata necessidade de um banho como a purgar o corpo e tirar de si a marca do hediondo crime a que fora submetida.

O número de estupros que não chegam a ser divulgados é enorme. Boa parte de mulheres estupradas optam pelo silêncio. O caso do médico famoso que estuprava suas pacientes só veio a público porque uma delas decidiu acusá-lo. Só depois disso as demais criaram coragem para vir a público e a afirmar que a mesma coisa tinha acontecido a elas.

Lembro-me bem de uma senhora muito chegada à minha família que vivia, com os filhos, separada do marido. Era uma mulher alta e séria que trazia na face marcas de sofrimento. Não fora feliz em seu casamento dado o fato do marido, homem inteligente e bem sucedido, ser bastante estouvado. Certa vez um parente me contou que a desgraça dessa senhora começara justamente no dia em que se casara. Eram os tempos em que as moças se casavam sem ser instruídas adequadamente sobre práticas sexuais. Aconteceu a ela que o marido a atacou na primeira vez com ferocidade, estuprando-a. O trauma decorrente desse ato teria consequências sobre o psiquismo da moça e pesaria sobre ela vida afora.

Num período em que a violência assume proporções alarmantes os casos de estupro exigem atenção redobrada. Animais bestializados andam à solta por aí, cometendo barbaridades. É preciso cercá-los, prendê-los, apená-los, puni-los.

Jogo de paciência

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Tem aquele joguinho de cartas do computador que se chama paciência. Para mim tratava-se um jogo só, mas vi num tablete da Apple que se podem baixar variedades de paciência. Para quem curte jogos de cartas talvez interesse a informação.

Não gosto de jogos, envolvendo ou não o uso da minha paciência. Quando surgiu o ATARI um amigo me convidou para jogar com ele. Perdi todos os jogos, creio que por pura falta de habilidade. Muito tempo depois testei uns jogos de computador e deu no mesmo: falta de habilidade com o teclado ou o mouse. Então comprei um joystick e, depois, um volante para joguinhos de corrida de carros. Nunca conseguir ir em frente naquele Need For Speed, pelo menos no computador. Tenho vontade de experimentar um jogo nesses novos consoles como o Playstation, isso só para tirar a teima. Dizem que num jogo desse tipo os controles são mais perfeitos e mesmo um cara sem jeito pode se dar bem. Seria uma vitória para mim pelo menos terminar um jogo de corrida de carros no Playstation.

Minha avó punha cartas sobre a mesa e jogava paciência. Os parentes se reuniam nas noites para o buraco ou a víspora. Passavam horas naquilo, divertiam-se, discutiam, apostavam baixo e ganhavam ou perdiam merrecas de moedas. Nunca participei. No fundo acho que nunca tive mesmo paciência para jogar.

Fui a cassinos algumas vezes quando no exterior. Num navio perdi algum dinheiro nas máquinas. Nunca me aventurei nas mesas, apostando fichas em números. As roletas sempre me pareceram implacáveis e presenciei gente perdendo bastante dinheiro nelas.

Acho que devo acrescentar à minha falta de habilidade para jogos o fato de não confiar na honestidade das máquinas de cassinos. Quando estudava no colégio um professor de matemática deu uma aula sobre o cálculo das probabilidades e disse que nos cassinos máquinas, roletas etc eram ajustadas para aumentar as probabilidades de ganho da casa. Pois é, certas coisas que ouvimos grudam na cabeça da gente e não saem.

No início da década de 70 do século passado arranjei um emprego que viria a ser a minha salvação. Até então não carregava nada nos bolsos, era um cara duríssimo. Por essa razão devia algum por ai afora e esperava, ansiosamente, pelo primeiro e salvador salário.

No dia do pagamento fui ao Departamento de Pessoal e recebi um cheque no qual estava escrito um número que para mim era um sonho. Não que fosse muito, mas para quem não tinha nada… Pois aconteceu, antes de sair do prédio para ir ao banco, encontrar-me justamente como meu chefe imediato, o cidadão que me dera o emprego, aquele mesmo que me contratara e de quem dependia o meu futuro na empresa.

O meu chefe ficou muito feliz em me ver todo contente com o meu cheque e logo me intimou a acompanhá-lo até a sala dele. Quando me sentei o chefe foi logo dizendo que precisava de um favor, qual fosse que eu emprestasse a ele o cheque que tinha no bolso. Percebendo o meu desespero ele me garantiu que em poucos dias me devolveria o dinheiro, aliás, até me daria um pouco a mais por conta de uns jurinhos…

Não houve como fugir. Ali, naquela sala, meu castelo desabou inteirinho, não sobrando pedra sobre pedra. Dei o cheque ao homem e sai de lá sem saber como faria para viver até o mês seguinte quando receberia novo salário.

Se o meu chefe devolveu o dinheiro? Ah, sim, uns três meses depois, nada de juros. Mas, foi só muitos anos depois, quando eu nem mesmo trabalhava mais naquela empresa, que vim a saber a razão do confisco do meu salário pelo chefe: o cara era um tremendo viciado em jogo, jogador profissional. Consta que acabou perdendo tudo o que tinha na mesa de jogo e teve um final de vida bastante complicado.

Por essas e outras não reclamo da minha falta de paciência para me meter em jogos. No máximo me arrisco a uma partidinha de paciência no computador, umas três vezes ao ano. Não passa disso. Acho que ainda bem.

Insetos são iguarias

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Você já viu uma correição-formiga? Trata-se de uma expedição da qual participam milhares de formigas carnívoras. Elas marcham em bloco, verdadeiro lençol negro que avança devorando tudo o que encontram pela frente. Na que presenciei as formigas ocuparam um gramado e o desespero dos animais que encontraram no caminho era visível. Insetos, aranhas, gafanhotos e até sapos pulavam loucamente, tentando escapar à fúria da massa negra e corrosiva que seguia em frente sem que nada pudesse impedi-las.

Formiga é um bicho danado, todo mundo sabe disso. Num prédio onde morei houve sério problema com a fiação porque as formigas infiltraram-se nos conduítes. As formigas são organizadas, trabalham muito, cada uma tem a sua função dentro da sociedade em que vivem.  Tipo do bicho cuja população  só cresce.

Policarpo Quaresma, o personagem de Lima Barreto, deu-se mal em seus empreendimentos agrários por conta das pragas, destacando-se a saúva.  Aliás, a saúva sempre foi ameaça para a agricultura daí ser tão combatida. Entretanto, eis que não mais que de repente o mundo se volta para a alimentação com insetos. Formigas, gafanhotos e outros insetos assumem a condição de iguarias, sendo também valorizados pelo alto teor proteico que conferem  à alimentação humana.

Está na “Folha de São Paulo” de hoje longa entrevista de um repórter que andou pelo mundo experimentando pratos com insetos. Ao ler fica-se sabendo, por exemplo, que a saúva do Amazonas é uma iguaria dado o seu sabor incrivelmente bom.

Sempre olhei com certo enjoo aqueles pratos de cozinhas orientais dos quais fazem parte insetos. Sinceramente, essa coisa de comer formigas, cigarras e sei lá o que mais não me convence. Vi muita gente se deliciar ao ingerir formiga-içá, fêmea cujo abdômen avantajado tem lá seu sabor quando consumido frito em óleo. Consta que Monteiro Lobato atribuía status de caviar à farofa de içás. Índios comem insetos e as formigas se constituem em tira-gosto apreciado em várias partes do país.

Talvez se um dia tudo der errado no mundo só nos restem os insetos como fonte alimentar. Não me lembro de onde li, mas alguém escreveu que se um dia o mundo acabar e restar apenas uma árvore ressequida, sobre um de seus galhos estará um inseto. Eles são os seres mais numerosos do mundo e acredita-se que sobrevivam à presença do homem no planeta.

Eu quero ser índio

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Você se lembra daquela música da Rita Lee cuja letra dizia ”Se Deus quiser. Um dia eu quero ser índio. Viver pelado. Pintado de verde. Num eterno domingo.” Pois, pensando bem, eu quero ser índio. Parece loucura, mas não é. Quem sabe tinha razão o Rosseau com aquela história do bom selvagem. E dizer que hoje em dia os índios nem mesmo são mais selvagens de verdade. Dizimados, expulsos das terras deles, trazendo na pele marcas dessa doença chamada verniz da civilização, os índios andam por aí, reclamando. Há quem veja neles um bando de safadinhos que se socorrem da condição de índios para viverem sem trabalhar. Há quem não consiga entender que o índio precisa de espaço que pertença a ele para pode vagar floresta adentro. Coisa de índio, dizem.

Fato é que no mundo de hoje a vontade que a gente tem é a de pedir para sair pela porta dos fundos. Discretamente, pintado de verde, disfarçado de floresta, sem que ninguém perceba. Tem gente demais no mundo, não darão pela falta de uns poucos. Mas, para onde ir? O negócio seria sair da Terra e viver em Marte. Acontece que os cientistas avisam que o problema de Marte é a quantidade de radiação, incompatível com os nossos terráqueos organismos. Na verdade a coisa de radiação melhora quando se desembarca em Marte, o problema maior é a exposição durante a viagem que dura cerca de um ano.

Bem, ninguém esteve ainda em Marte, que se saiba. Os marcianos também não nos visitaram, exceto nos filmes onde se mostram perigosos, sempre em missões de conquista da Terra.  Marciano é um cara belicoso. Quem sabe tenham razão aqueles que acreditam na existência de várias dimensões no universo. Por exemplo, na Terra podem viver outros seres - além dos humanos, animais, plantas e seres que conhecemos -  mas nós não os vemos porque estão em dimensão diferente. Marte que nós vemos através de telescópios parece desértico, mas em outra dimensão não acessível aos nossos sentidos existem lá grandes metrópoles. Será?

Por tudo isso, pela indefinição geral, o negócio talvez seja mesmo apelar para ser índio. Olhe que corre por aí um caso que já está dando o que falar. A Polícia Federal reúne provas de que um líder indígena do Amazonas, líder dos índios apurinã, na verdade não é índio. Ele teria fraudado documentos para conseguir o RG indígena. Esse líder indígena muito conhecido, figura habitué em cerimônias oficiais realizadas em Brasília das quais participou o  ex-presidente e participa a atual presidenta da República.

O líder indígena nega ter fraudado documentos. Os membros da tribo apurinã não sabem o que dizer. Mas, caso seja verdade, eis aí o caso de um sujeito que mudou de tribo - digo sociedade – e até agora pelo jeito se deu muito bem.

Quem sabe o melhor mesmo seja virar índio.