2012 outubro at Blog Ayrton Marcondes

Arquivo para outubro, 2012

Conversa interessante

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Enquanto esperamos a advogada me fala sobre um mendigo que viu na rua. Andava ele mal trajado, sujo mesmo, mas segurava na mão um barbante ligado a um saco plástico vazio. Ia contra o vento de modo que o saco balançava no ar. De vez em quando o mendigo olhava para trás, conferia a posição do saco e sorria. Quando terminou o relato a advogada me disse:

- Que beleza é a loucura!

Olhamo-nos sem dizer nada, em acordo. Loucura mansa seria o ideal. Loucura que nos pouparia das lambanças da vida, dos compromissos inadiáveis, de responsabilidades enormes que muitas vezes nem sabemos direito como as assumimos.

Pensávamos nas delícias da liberdade de não raciocinar logicamente, na abstração que o delírio ingênuo e sem nexo poderia nos dar. De repente a imagem do mendigo ganhava proporções mágicas, como se fosse ele arauto de uma nova verdade que, entretanto, desconhecia e absolutamente não lhe importava. O mundo resumido a passos na calçada e ao vai da valsa de um saco plástico, dançando ao sabor do vento.

Conheci um homem que descarrilou como de diz. Chefe de família, responsável, trabalhador, de repente foi tomado pela mania de grandeza. Eu mesmo o encontrei certa vez e ele me deu uma moeda de alguns centavos, recomendando que a guardasse, tomasse cuidado porque se tratava de muito dinheiro. A família só se deu por achada em relação ao problema quando o homem mandou fazer, de uma só vez, dez ternos num alfaiate. E dizer que ele nunca usava ternos…

Às vezes me lembro desse homem, meio aparentado de parentes meus, sujeito lhano e de olhar tranquilo. Algo se operara no cérebro dele, levando-o a outros caminhos manifestos pela mania crescente em seus hábitos. Desde que o conheci me incomoda aquilo que sempre compreendi como fuga, não mais que a adoção de outro discurso, diferente do proferido pelos outros mortais.

Dirão que a loucura é horrível, recomendarão visitas a manicômios para constatar a triste realidade dos insanos. É verdade, é verdade. Entretanto, nesses dias tão tumultuados não consigo deixar de invejar o tal mendigo, guiando e sendo guiado pelo saco plástico no ar, sendo sua última preocupação e dever mantê-lo acima do chão, sempre aproveitando a direção do vento, vivendo ao sabor do vento.

Escrito por Ayrton Marcondes

18 outubro, 2012 às 4:09 pm

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O cafajeste

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Acho que dá para dizer que todo mundo já cruzou com algum cafajeste nessas andanças pelo mundo. Falo de cafajeste mesmo, não de imitadores baratos que mal dão conta do papel. Cafajeste de verdade, tirado a machão, corrente no pescoço, camisa aberta mostrando os pelos do peito. Sempre pronto para o ataque a alguma fêmea desprevenida.

Anos trás, em conversa com uma psiquiatra, ela me dizia que 90% de suas clientes eram mulheres e muitas delas admitiam casos com cafajestes. Uma delas, mulher de 40 e poucos anos, bem de vida, enviuvara e, tempos depois, acertara-se com um cafajestão. O cara era um resumo do inferno: levava dinheiro dela, batia nela, era um grosso na força maior da palavra. Só não moravam juntos porque os filhos dela nem podiam ouvir falar do tal namorado da mãe. A psiquiatra sentenciava: mulher quando bate o desespero da solidão é capaz de muita coisa. Será?

Tenho certeza de que historinhas assim, casinhos terríveis assim, são de conhecimento geral. Puxando a língua de alguém bem pode que ele(a) saque da goela um historinha de arrepiar os cabelos, coisinha como o caso do cidadão que namora a mãe para pegar a filha. E acaba pegando as duas, separadamente, claro.

Pois hoje recebi notícia fúnebre que me levou ao mundo dos cafajestes. Morreu um deles, sujeito terrível e danado como o diabo. Casou-se com mulher bem mais velha que ele, mulher que vivia com a mãe e tinha posses, casa boa, dinheiro, sabe como é. E o cafajeste entrou nesse mundo de conforto, ele um durango, arranjou-se bem, estabeleceu base para ações maiores. Eu o encontrava de vez em quando e lá vinha ele falando bem da minha camisa surrada que era o jeito de chamar a atenção para a camisa dele, de marca, presente da mulher que o vestia qual um príncipe.

Certa ocasião eu o vi meio nervoso, afobado. Contou-me que dava em cima de uma mocinha que resistia muito, não dava mole para ele. Acontece que a mocinha teve o azar de um furúnculo na bunda e ele, o amigão devorador, indicou a ela um médico, amigo dele, profissional de confiança. Agora o cafajeste esperava o momento de ligar para o amigo médico do qual queria descrição do corpo da moça, da bunda dela com a qual tanto sonhava. Aquilo me encheu de raiva dada a baixeza do ato e, ainda mais, imaginando a repulsa do médico quando a pergunta fosse feita a ele. Mas, eu não disse nada ao cafajeste. Se você conhece bem alguém desse ramo sabe que o cafajestismo é a natureza dele, está no sangue, mal incurável. Cafajeste roxo, profissional de verdade, não tem recaída, nem sentimentalismo, vale tudo, qualquer coisa quando uma mulher está sob mira.

Bem, a partir de hoje o mundo tem um cafajeste a menos. Baixa significativa no contingente dos cafas porque o que se foi era membro de elite, dedicado, ativo ao extremo. Entretanto, não me despeço dele sem alguma saudade. Agora mesmo me volta a imagem dele, o terno branco que muitas vezes usava, aquele charme grotesco de um cara que não deixava de ser bonito, o porte elegante acompanhado de maneirismos e palavras certas, decoradas para suas  cantadas.

Não era de todo mau sujeito, apenas um cafajeste, louco por mulheres, certa vez definiu-se assim, consciente que era da inutilidade do bom mocismo.

Escrito por Ayrton Marcondes

17 outubro, 2012 às 2:17 pm

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A saúde do brasileiro

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Quando fiz 60 anos de idade recebi de presente um respeitável aumento na mensalidade do plano de saúde. Acontece que depois dos 60 a possibilidade de utilizar o plano aumenta significativamente, essa a explicação que me deram quando reclamei. De nada valeram os meus argumentos de ter pagado o plano durante 20 anos sem quase nenhuma utilização. Até que alguém me disse que teria sido mais esperto depositar e aplicar todo mês o valor das mensalidades para o caso de no futuro precisar do dinheiro para alguma necessidade relacionada à minha saúde.

Não fiz o que me sugeriram e nem teria feito se tivesse outra oportunidade. Dinheiro vai embora na primeira grande necessidade e eu provavelmente não disporia hoje de recursos para o caso de uma doença grave - um amigo que faleceu recentemente,  vitimado por câncer, gastou o que tinha e o que não tinha em busca de cura para a doença.

Todo mundo sabe que o sistema público de saúde não funciona bem no Brasil. Filas enormes, falta de leitos, atendimento precário etc. fazem parte de um quadro que se agrava sem solução à vista. Hoje mesmo se noticia o caso de uma mulher que recebeu café com leite na veia e morreu. A enfermeira, obviamente despreparada, injetou na veia o que era destinado à cânula para alimentação. Coisa que acontece, mas que simplesmente não pode acontecer porque o prejuízo é monumental: a morte do paciente.

De modo que a solução fica - para quem tem condições de pagar - por conta de um plano de saúde oferecido pelas operadoras que estão no mercado. Acontece que os médicos estão em guerra contra as operadoras que os pagam mal, daí a necessidade de muitas horas de trabalho para alcançar salários que estão longe de ser justos.

Trata-se de um imbróglio de difícil solução. O governo federal quer mais médicos em atividade no país fato que requer mais faculdades de medicina. Entretanto o número de faculdades é já grande e boa parte delas não têm hospitais próprios, daí os estudantes estagiarem em hospitais conveniados. Por outro lado reclama-se da má formação dos estudantes quando se formam. Muitos deles conseguem fazer a residência médica que em todo caso é caminho para formação de especialistas sendo que  que mais falta é o clínico geral. Além disso, as entidades médicas insistem que o problema não está na quantidade de médicos, mas na distribuição deles nas diferentes regiões do país.

Semana passada ouvi a entrevista do Dr. Adib Jatene na qual ele lembrava que o crescimento populacional do Brasil não tem se acompanhado pela geração de recursos para atendimento da população. Além do que a evolução tecnológica e a decorrente possibilidade de novos exames para diagnóstico torna o atendimento muito caro. E de onde tirar tanto dinheiro?

Como se pode notar através dessas rapidíssimas pinceladas o problema é sério e preocupante por que todo mundo tem direito a ser atendido e cuidado em relação à saúde pessoal. Daí que soam estranhas as falas de candidatos a cargos públicos que sempre prometem melhora do atendimento da saúde pública sem detalhar como isso poderá ser feito. E que dizer da moçada que estuda muito para os tão concorridos vestibulares das faculdades de medicina, sonhando com a profissão que momento atravessa enormes dificuldades?

Assunto para pensar e agir com rapidez e precisão.

O barulho que incomoda

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Leio que síndicos de condomínios declaram que o maior problema que enfrentam são as reclamações de vizinhos por conta de barulho. Há pessoas que não suportam que sua casa ou apartamento seja invadido por qualquer ruído vindo de fora. Eu que morei em vários lugares tenho uma lista de reclamações entre vizinhos que muitas vezes chegam a brigas e geram ódios imorredouros.

Há alguns anos me mudei para um apartamento e logo nos primeiros dias começaram as reclamações da vizinha de baixo quanto ao grande barulho que fazíamos. Reclamava ela da algazarra de crianças, do ruído da minha furadeira, do salto dos sapatos da minha mulher etc. De nada adiantou explicar ao síndico que morávamos ali apenas eu e minha mulher, sem crianças, que eu não usava furadeira etc. Ainda assim, a vizinha enviou cartas à empresa administradora do condomínio e, certo dia, recebi uma advertência escrita à qual se seguiu a multa no valor de um mês de condomínio. Eu me tornara um vizinho indesejável, barulhento, incontrolável. E dizer que eu minha mulher saíamos cedo para trabalhar e só retornávamos à noite, cansados e sem tempo e disposição para amolar ou ser amolado por alguém.

As coisas foram se complicando. Tínhamos no andar de baixo uma inimiga que nos odiava e extremamente vigilante, rápida para telefonar à portaria, reclamando até do barulho do chuveiro que dizia ouvir e que a incomodava. Isso durou até que ela, em desespero, passou a ligar diretamente para a minha casa reclamando. Eu a atendi duas vezes e tentei ser educado. Na terceira a minha mulher perdeu a paciência, explodiu com a vizinha, disse-lhe o diabo e não é que depois disso nunca mais recebemos nenhuma reclamação?

No jornal um psicanalista escreve que odiamos no nosso vizinho a beleza dele, as festas que dá, a felicidade que ele tem e nós não temos. Por isso reclamamos. Outra pessoa diz que hoje em dia o stress da vida cotidiana, os ruídos que ouvimos queiramos ou não, criam uma espécie de estado de tensão no qual passamos a inventar barulhos que não acontecem. Um síndico corrobora essa teoria relatando que após receber muitas reclamações de uma senhora sobre ruídos de seu vizinho foi ao apartamento dela, ás 4 da manhã, para ouvir a barulhada. Sentou-se no sofá e, a certa altura, a mulher perguntou a ele se estava ouvindo os barulhos no apartamento ao lado. Diz o síndico que reinava silêncio absoluto e, ainda assim a mulher insistia sobre a balbúrdia que acontecia no seu vizinho.

No prédio onde moro, recentemente instalaram um apito que toca toda vez que se abrem os portões para entrada e saída de carros. Esse apito de advertência a quem está na calçada tem-se tornado verdadeiro inferno, provocando reclamações dos condôminos. Aquilo toca durante a madrugada e não para depois das 6 horas da manhã, acordando todo mundo. Já perguntei ao síndico se não dá ao menos para abaixar um pouco o som do apito de vez que o prédio conta com sinais luminosos que acendem toda vez que um veículo atravessa o portão. O síndico diz que se trata de uma exigência da prefeitura e não dá a mínima quando digo que ando pela cidade e não tenho ouvido som igual em portarias de outros prédios.

Ruídos incomodam e pronto. Na Austrália acaba de ser feita uma pesquisa sobre o ruído mais irritante. Na opinião dos entrevistados o pior é o gerado pela raspagem de uma garrafa com faca. Em segundo lugar ficou o ruído de unhas sobre o quadro-negro das salas de aula.

Não sei não. Cada pessoa tem lá um ruído secreto que mais a irrita. Para mim talvez seja o dos dedos que deslizam sobre bexigas de festas quando cheias. Digo isso, mas recentemente vi uma criança espremendo uma bexiga e não é que não me incomodei com aquilo?

12 de outubro

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Chove nos feriado de Nossa Senhora Aparecida em que também se comemora o Dia das Crianças. O Geraldo que vende queijos curados ao ponto de serem assados não foi trabalhar hoje. Disse-me a filha dele que o Geraldo saiu bem cedo, pegando a estrada para ir a Aparecida prestar homenagens à Santa da qual é devoto. Levou mais de duas horas para percorrer pouco mais de 70 km da Via Dutra que já estava bem congestionada quando o dia apenas amanhecia - a TV mostrou imagens do Santuário de Aparecida, informando que mais de 150 mil pessoas compareceram à cidade no dia do aniversário da Padroeira.

 

Quando menino minha mãe me matriculou num colégio interno em Aparecida. Eram os tempos em que as famílias acreditavam ser o internato essencial para a educação das crianças. No meu caso houve um esforço muito grande da família para pagar as mensalidades do colégio que ficava situado ao lado de um dos grandes seminários para a formação de padres existentes em Aparecida. Fiquei lá dois anos que não posso dizer tenham sido agradáveis. As aulas eram dadas por irmãos da congregação que administrava o colégio. Eram todos jovens e vindos do Rio grande do Sul. Usavam batina, mas não eram padres e, pelo que vim a saber mais tarde, a maioria deles a maioria deixou a congregação com o passar dos anos.

Mas, daquele tempo me ficou o círculo da fé formado em Aparecida. Naquele tempo a igreja da cidade era a Basílica Velha que até hoje existe no ponto mais alto da cidade. À igreja pequena compareciam milhares de fiéis, vindos de toda parte, que se acotovelavam nos horários de missa e formavam longas filas para a visita à Padroeira. A Rádio Aparecida cuidava para que a fé na Padroeira fosse levada às mais distantes regiões do país, disseminando a crença em milagres os quais a todo dia aumentavam segundo relatos de pessoas que vinham para agradecer à Santa.

 

De tudo o que presenciei em Aparecida ficou-me a cerimônia do lançamento da pedra fundamental que daria origem ao atual Santuário de Nossa Senhora. Certo dia nós, os alunos do colégio, fomos até o local onde hoje se ergue o Santuário. Estávamos uniformizados e assistimos ao lançamento ao qual compareceram autoridades civis e da igreja. Na ocasião nem de longe poderia eu supor que aquela pedra fundamental representasse o início da fantástica construção arquitetônica que de longe pode ser avistada no alto de um morro.

 

De Aparecida ficaram nomes de alguns colegas que nunca mais encontrei após os dois anos em que estive na cidade. De vez em quando escrevo em ferramentas de busca da internet o nome de um deles, mas nunca encontrei referências, talvez porque passados pouco mais de cinco décadas a minha memória se confunda e os sobrenomes sejam trocados.

Hoje vi na TV imagens do Santuário de Aparecida e pensei que o tempo passa, talvez rápido demais. De repente me vi menino, olhando uma cerimônia realizada num morro vazio. Fazia calor, a cerimônia demorava-se e eu não via a hora de sair de lá para voltar ao colégio.

Zé Arigó

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Há tempos não aparece no país alguém que chame a atenção por práticas consideradas incomuns, senão inexplicáveis. A discussão sobre mediunidade e paranormalidade não tem estado em pauta embora se façam filmes baseados na doutrina espírita como o mais ou menos recente “Nosso Lar”, baseado no livro de mesmo nome do falecido médium Chico Xavier.

Entretanto, alguns casos atribuídos à mediunidade vez por outra são lembrados, continuando até hoje estranhos, isso para se dizer o mínimo sobre eles. Entre outros se destaca a figura do mineiro de Congonhas do Campo que ficou nacionalmente e internacionalmente conhecido como Zé Arigó. Os feitos de Arigó, descritos por seus biógrafos e por quem o conheceu, são muitos. De fato, nas décadas de 1960 e 1970, Zé Arigó atuou como médico e cirurgião espiritual, operando inúmeras pessoas que chegavam a vir de outros países para serem tratadas por ele. Para que se tenha ideia chegaram a existir linhas de ônibus regulares entre Buenos Aires e Congonhas do Campo. Tamanha era a fama de Arigó que médicos e pesquisadores norte-americanos vieram a Congonhas para estudar o caso.

Zé Arigó era um homem simples e operava fazendo uso de instrumentos rudimentares, Seu bisturi era um canivete com o qual fazia incisões pequenas as quais, mesmo sem cuidados assépticos, logo cicatrizavam e nunca infeccionavam. Existem vídeos de cirurgias de Arigó, alguns deles impressionantes. Mas de onde vinha essa capacidade impressionante?

Consta que Arigó teve um longo período de dores de cabeça e passou a ouvir uma voz que não entendia. Mais tarde conseguiu identificar a voz como pertencente a um médico alemão, Dr. Adolf Fritz, morto na primeira guerra mundial. As cirurgias seriam feitas pelo Dr. Fritz através do médium Zé Arigó.

Quando me formei no curso ginasial recebemos como prêmio uma viagem a Minas Gerais. Visitamos Belo Horizonte, Mariana, Ouro Preto e Congonhas do Campo. Meninos que éramos fomos iniciados no barroco brasileiro. Em Congonhas entramos em contato com a obra do Aleijadinho, o Santuário de Bom Jesus de Matosinhos. Ali pude ver as imagens da Via Sacra esculpidas pelo artista. Naquele tempo era permitido entrar nas capelas e aproximar-se das imagens coisa inimaginável hoje em dia dado o perigo de que sejam danificadas.

Foi durante a visita a Congonhas que pude ver de perto o Zé Arigó. Estava ele em plena ação numa casa simples em torno da qual verdadeira multidão formava uma fila com pessoas aguardando o momento de serem atendidas. Na ocasião com custo aproximei-me da janela que dava para a rua e pude ver o Arigó trabalhando. Tinha ele as mãos sujas de sangue, certamente após realizar uma das suas cirurgias.

Ficou-me essa imagem da qual nunca me esqueci. Alguns anos depois Arigó desapareceu, tragicamente, vitimado em um acidente automobilístico.

Golpe na corrupção

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Por mais que se tente disfarçar, os acontecimentos atuais mechem bastante com a gente. Refiro-me às ações que correm no mundo político, setor da brasilidade que a muito está a exigir profunda revisão.

Sou desses que gostam de ouvir noticiários pelo rádio do carro. Durante esses programas os radialistas baixam o pau nos corruptos nunca se esquecendo - talvez por obrigação - da ressalva sobre gente boa que também milita na política. Mas, tantas são as acusações sobre tramoias e atos de corrupção que os “bons” parecem se perder em meio a essa nuvem escura dentro da qual fica difícil distinguir quem quer que seja. Impossível não se ter a impressão de que a ficha limpa não passa de questão de tempo, durando até que finalmente se descubra algum deslize de algum campeão da moralidade. O caso recente de um senador que se caracterizava por apontar os desmandos dos outros fala por si sobre a extensão dos abusos que raramente vem à tona e só ocasionalmente chegam ao conhecimento do público. Quando a coisa ameaça pegar de verdade bons acordos entre membros de partidos soterram fatos que poderiam resultar em perdas de mandatos etc. (vide CPIs).

De modo que o que ora se passa no STF - o julgamento do mensalão - revela-se bem mais importante que a punição de políticos acusados de corrupção. O que se passa no STF representa a reação da República contra crimes contra ela praticados - entendendo-se República como patrimônio de todos os brasileiros e não palco para cobertura de interesses espúrios de partidos ou, ainda, deste ou daquele político.

De modo que para quem não acredita que um dia, cedo ou tarde, a Justiça acaba sendo feita eis em andamento a prova da veracidade dessa afirmação. E que não se venha dizer que está a se torcer pela condenação de corruptos visando apenas interesses políticos contrários aos deles. Na verdade o que hoje acontece no STF funciona como divisor de águas que nos permite confiar no futuro. Daqui por diante os que se dedicarem à atividade política saberão que, no país, existe a lei que os punirá caso cometam deslizes.

Um novo tempo se abre, o futuro começa agora. Ganham os brasileiros, ganha o Brasil.

Incrições tumulares

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Morte é o fim, mas há que se pensar no que fazer com os restos mortais de quem passou desta para a melhor. A maioria dos mortos é enterrada em cemitérios, mas é crescente o número de cremações. Não sei se você já presenciou alguma cremação. Compareci a uma por ocasião do falecimento da mãe de um amigo. A cerimônia é simples, tocante. No momento final os presentes são levados a uma espécie de teatro onde assistem à despedida do morto que está sobre um palco. Ditas as últimas palavras o caixão é abaixado, lentamente, e desaparece. Simples assim, meio desconfortável para quem está habituado com a cerimônia em cemitérios, com descida do caixão à cova e a terra sendo jogada sobre ele. Pelo menos foi assim que me senti, imaginando que o corpo da pessoa conhecida iria logo depois ser queimado.

Há religiões que não aceitam a cremação. A Igreja Católica é favorável aos enterros embora admita cremações quando não realizadas com intenções materialistas. Em todo caso se alguém quiser ser cremado deve registrar em cartório o seu desejo ou pedir a um parente próximo que requisite o serviço por ocasião do falecimento.

Confesso que não tinha nada contra visitas a cemitérios, na verdade sempre achei interessante observar as inscrições nas lápides nas quais se colocam o nome da pessoa, data de nascimento e de morte, por vezes uma fotografia e uma frase relacionada às saudades dos parentes. Acho admirável o Cemitério da Recoleta, em Buenos Aires, o qual com seus túmulos majestosos tornou-se atração turística da capital argentina. Entretanto, de tempos para cá, passei a não gostar de cemitérios, talvez em função da idade que avança e por me sentir mais próximo do fim que do começo da vida. Vai daí que me pergunto sobre se prefiro vir a ser enterrado ou cremado e, sinceramente, não sei dizer qual a minha preferência de vez que me parece que, uma vez morto, tanto faz o que vier a me suceder.

Mas, falo sobre esse assunto porque a tecnologia avança e ameaça até mesmo mudar as coisas em cemitérios. Acontece que um alemão acaba de lançar a ideia de substituir as tradicionais inscrições tumulares por QR codes. Como você sabe as QR codes são códigos de barras em 2D que podem ser lidos por qualquer celular moderno. Trata-se de um conjunto de barrinhas que podem ser convertidas em texto, no caso dos túmulos em informações sobre as pessoas que neles estão enterradas. Assim amplia-se a possibilidade de utilização desses códigos que já são encontrados em latas de bebidas, banners, camisetas etc. Segundo o alemão a ideia é baratear o preço das lápides.

Caso isso venha a acontecer será interessante no dia de finados ver pessoas, celular em punho, andando nos cemitérios e identificando túmulos por meio dos QR. Cá entre nós isso está mais para cena de filme que para coisa real. Entretanto, neste mundo em que a tecnologia invade todos os redutos, por que não nos cemitérios? Pois já está acontecendo em uma cidade na Dinamarca onde os túmulos de um cemitério estão recebendo QR codes daí os visitantes terem acesso a informações sobre a pessoa que morreu, fotos, vídeos e até arquivos de áudio. O recurso também está sendo utilizado para resgatar informações sobre pessoas que tiveram importância social, política e cultural (a informação é da BBC Mundo).

Ao futuro, então.

Domingo é dia de pescaria oi…

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…e lá vou eu de caniço e samburá - assim começa a marchinha “Pescador” grande sucesso cantado pelo conjunto “Quatro Ases e um Coringa” no carnaval de 1952.  Hoje é sexta, mas no próximo domingo a pescaria tem outro nome, chama-se eleição. Milhares de brasileiros cumprirão a obrigação de comparecer ás urnas  para elegerem prefeitos e vereadores para as Câmaras Municipais.

A briga dos candidatos está boa por aí a afora. Pegando fogo mesmo está a disputa para o cargo de prefeito da cidade de São Paulo onde, de última hora, o Russomano que ainda ocupa o primeiro lugar vem caindo acentuadamente nas pesquisas de voto. Reacendem-se as esperanças de Serra, do PSDB, e Haddad, do PT. Vai dar segundo turno e agora ninguém é capaz de dizer com certeza quais candidatos passarão para a disputa seguinte.

Agora, o difícil mesmo é escolher em quem votar para vereador. Tem de tudo, até candidato que aposta no insólito. Em Santos, por exemplo, um candidato se intitula “Mico Preto” e a propaganda dele gira em torno disso. No vidro de trás dos carros estampa-se um mico pedindo votos aos eleitores. De modo que a não ser para quem conhece pessoalmente o candidato fica o mistério sobre quem seja ele.

Hoje se publica que em Rondônia o “Dirigente dos Cornos” é candidato a vereador. O dirigente é presidente da Ascron (Associação dos Cornos de Rondônia) e avisa: “Corno sim, corrupto não”. Sua plataforma para o caso de ser eleito inclui o “habitacorno”, albergue para dar moradia aos corneados que perdem não só a mulher como a casa onde moram para o Ricardão.

Folclore a parte é bom ir pensando nos homens que serão honrados com o seu voto. O domingo de eleição está chegando, a pescaria mesmo fica para depois.

Filme: Poder paranormal

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Pessoas a quem se atribui a posse de poderes paranormais são sempre muito interessantes. Todo mundo se lembra de Uri Geller, um austro-húngaro criado em Israel. Geller mostrou ser um excelente entortador de colheres com o poder da mente e tornou-se mundialmente conhecido por possuir tal aptidão. Além disso, Geller faz outras coisas incomuns como parar relógios. Com tais atributos Geller se apresentou em vários países desde o final dos anos 60 do século passado quando esteve no famoso programa de Johnny Carson da TV norte-americana.

O fato é que o assunto paranormalidade sempre atrai a atenção e suscita dúvidas sobre pessoas que dizem ter poderes paranormais. Geller foi acusado de fraude e mágicos conseguem façanhas utilizando truques perfeitos, sugerindo que o ilusionismo não tem limites. Mas, será que existem pessoas dotadas de poderes que permitem a elas feitos considerados impossíveis?

A pergunta anterior resume o tema do filme “Poder Paranormal” estrelado por Robert De Niro e Sigourney Weaver, com participação de Cillian Murphy. Weaver faz o papel da cientista Margaret Matheson que ao lado de Murphy (no papel de Tom) dedica-se a desmascarar fraudes, expondo charlatões que se dizem paranormais. Robert de Niro é Sam Silver um conhecido paranormal que se apresenta para grandes plateias, fazendo demonstrações de seus poderes.

Como se vê eis aí um belo caldo cujos ingredientes são um tema sugestivo e atores de primeira linha capazes de desempenhar grandes papéis na telona. Entretanto, o diretor Rodrigo Cortez parece não ter misturado bem os ingredientes, produzindo um filme que, sendo um thriller, ainda assim carece de emoção e suspense. A trama se arrasta e o embate esperado entre a cientista e o poderoso paranormal finalmente não acontece deixando no espectador a sensação de ter sido fraudado por uma história que não foi bem contada.

Acrescente-se que o grande mote do filme que seria a investigação da paranormalidade nem de longe acontece. Ao contrário a paranormalidade não passa de tema central em torno do qual a trama se desenrola e nada mais que isso.

No fim das contas “Poder Paranormal” pode ser classificado como diversão de nível médio. O lado ruim da película é que ao assisti-la torna-se impossível não pensar sobre o material que o diretor tinha nas mãos e a grande obra que poderia ter feito, talvez contando com um roteiro mais elaborado e um pouco mais de criatividade.