2012 agosto at Blog Ayrton Marcondes

Arquivo para agosto, 2012

Vírus atacam motores

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Conheço o Juan a alguns anos, antes mesmo do tempo em que ele trabalhava na indústria automobilística. Ele foi estudante de engenharia em escola do interior e quase nunca acordava cedo para ir às aulas. Acabou fazendo o curso bem do jeito dele, os cinco anos em nove, e recebeu o diploma de engenheiro mecânico sem ter motivos para orgulhar-se de sua vida de estudante.

O Juan é filho de um argentino que veio ao Brasil para passear, conheceu uma moça daqui e não voltou ao seu país. Casou-se com a moça - a mãe do Juan – e tocou a vida até que um câncer no intestino o levou desta para a melhor.

É preciso dizer que o Juan na verdade é esse tipo de cara que não precisa da formação que se obtém nas faculdades. Ele é um sujeito intuitivo e pode-se dizer, sem medo de errar, que nasceu com o dom de entender e consertar qualquer tipo de coisa, principalmente motores. Daí que quando, ainda jovem, arrumou emprego na indústria automobilística logo se destacou. Foi ele quem resolveu um problema sério de motor num modelo de carro a ser lançado no Brasil para o qual não se achava saída. O que se sabe é que o Juan não saia dia e noite da fábrica, testando o motor, até que deu um jeito na geringonça.

Na época os americanos ficaram muito entusiasmados como o feito do Juan e decidiram mandá-lo para a matriz da empresa nos EUA. O Juan topou, fez o curso de inglês que a fábrica pagou para ele e desistiu de tudo uma semana antes da viagem programada. “Desistiu” quer dizer: desistiu mesmo porque pediu demissão do emprego na fábrica. Coisa inexplicável, mas que justificou, dizendo:

- Não vou ser empregado dos americanos.

Bem assim, do jeito dele. E nunca mais trabalhou para ninguém, exceto para ele mesmo e à maneira dele. Abriu uma empresa e levou adiante o projeto de trabalhar apenas o necessário para sobreviver, razão pela qual muitas vezes enfrentou e enfrenta dificuldades.

Agora o Juan passou dos 65 anos de idade e estou preocupado com ele. Obviamente, ele utiliza computadores e entende de hardware como ninguém. Entretanto, aconteceu do carro do Juan quebrar, justamente um problema no motor. A coisa seria fácil de ser resolvida se ele não tivesse metido na cabeça que os vírus de computadores estão em marcha para invadir motores de carros e máquinas de todo tipo, paralisando-as. O Juan tem certeza de que o problema do carro dele é causado por um vírus potencialmente invasivo e que deve ser destruído antes que se propague, causando enormes prejuízos às indústrias e às pessoas em geral.

Ontem mesmo conversei com a mulher do Juan e ela me disse que talvez ele esteja enlouquecendo, coisa que, afinal, bem que se poderia esperar em relação a ele. Não sei não. Embora tudo isso ainda esteja muito nublado penso nesses caras que fazem diferença e parecem destinados a descobrir coisas que nem passam pela ideia dos humanos normais. Vai ver que o Juan é um deles e está em plena função para uma grande descoberta que evitará sérios problemas. Não sei não, mas quando o caso envolve o Juan tudo é possível.

Ontem e hoje

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Gosto muito de ler o cantinho de jornal cujo título é “Há 50 anos”. Hoje se divulga que a principal notícia do dia 20 de agosto de 1962 era a de inundações na Colômbia decorrentes de aumento do volume de água dos rios. Mortos, desabrigados e perdas materiais compunham o triste quadro da tragédia colombiana.

Há quem diga que o passado não serve para nada, que a história pregressa não tem utilidade para a interpretação dos fatos do presente. Conheço um professor universitário que, curiosamente, nega qualquer valor ao passado.  Para que perder tempo com fatos que não voltam mais? – pergunta ele. E ele é justamente um professor de História. Eis aí um rebelde inconformado, talvez com o próprio ofício.

O que me atrai nas notícias do passado é a possibilidade de pensar um pouco sobre o modo de vida da época comparando-o com o presente. Assim, as notícias sobre as inundações colombianas me devolveram o ano de 1962 quando eu era apenas um rapazinho preocupado com o rumo que daria à minha vida. De todo modo, 1962 foi um ano inesquecível, bastando lembrar que nós, os brasileiros de então, estávamos ligadíssimos na Copa do Mundo realizada no Chile. O Brasil voltou de lá com o título de bicampeão mundial e foi uma grande festa. Pelé havia se machucado logo no início da Copa, mas Garrincha brilhara destruindo as defesas adversárias com seus dribles impossíveis. Aquela grande seleção de futebol fez história em nosso país atrasado, imerso em dívidas e que, sem que se suspeitasse, caminhava em direção ao golpe que inauguraria o período de ditadura militar em 1964.

Mas, 1962 também foi o ano daquela tremenda encrenca entre os dois polos da Guerra Fria que dominavam o mundo na época. Em 1961 os EUA tinham instalado mísseis na Turquia fato que despertou a reação russa de instalar mísseis em Cuba. A proximidade com os EUA e a possibilidade de ataque a cidades americanas provocaram a reação do presidente John Kennedy que exigiu a retirada dos mísseis. O mundo tremeu diante do perigo de uma guerra nuclear que repetiria, em muito maior extensão, a tragédia de Hiroshima. Acordo entre Kennedy e o primeiro ministro russo  Nikita Krushov  colocou fim ao impasse, mas  a Guerra Fria só terminaria muito mais tarde com a queda do Muro de Berlim.

De 1962 também importa aos brasileiros a grande vitória do filme “O Pagador de Promessas” o qual venceu o Festival de Cannes. Anselmo Duarte, o diretor do filme, voltou com a Palma de Ouro e o interessante é que eu o conheci algum tempo depois. Morava eu em Itu, interior de São Paulo, terra do Anselmo, e era colega da filha dele no colégio local. Certo dia fui à casa dela por conta de um trabalho escolar e lá estava o grande Anselmo com quem não troquei mais que “boa tarde”.

Decorridos 50 anos aqui estamos, neste ano de 2012, que já avança em pleno segundo semestre. É verdade que o Brasil está muito melhor que aquele país de 1962. Entretanto, as notícias que nos acompanham diariamente não são animadoras. A violência desmedida e o julgamento do mensalão não passam de sinalizadores de uma época à qual falta alegria. O futebol, esporte de preferência nacional, passa por momento de pouco brilho. Já não existem grandes craques capazes de apaixonar as multidões. Mas, o pior, é que se vive sob o império da desconfiança. Entretanto, há que se torcer e confiar no futuro, afinal trata-se de tempo novo e aberto a todas as possibilidades, quem sabe a uma rodada de bons acontecimentos, por que não?

A ópera jurídica

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Até então eu nunca tinha visto uma sessão do STF. Imaginava o STF como lugar onde reina a sobriedade, composto por ministros dotados não só de grande conhecimento, mas, também, de desprendimento no momento de julgar. Ao vestirem a toga e assumirem a posição de última instância de julgamento passam eles a exercer o papel de finalizadores de causas não resolvidas e às quais é necessário dar um veredicto final.

Creio que a imagem que fazia do STF foi forjada como cópia daquela exibida em filmes nos quais entra em ação a Suprema Corte dos EUA, sempre mostrada como um tribunal superior e acima de interesses. Talvez por isso me causem estranheza as posições de ministros do STF no momento em que julgam aquele que vem sendo considerado o maior caso de corrupção da história do país, segundo as palavras do Procurador Geral da República. As referências a posições particulares de ministros do SRF - algumas delas encaradas como de provocação ou meio de irritar determinado companheiro de atividade -, o longo tempo de considerações de ministros para enfim esclarecerem o voto a favor ou contra condenações, as declarações paralelas, tudo isso parece turvar o grande julgamento, tornando impossíveis quaisquer previsões sobre os resultados.

Por outro lado há que se considerar que os ministros do STF são seres humanos e quanto lhes é difícil a completa isenção em torno de um julgamento que extrapola a área jurídica por suas conotações e interesses políticos. Não se dúvida do alto conhecimento jurídico dos onze ministros do STF nem da idoneidade deles, mas ao leigo fica a impressão de que talvez tenha faltado a eles algumas conversas anteriores, acordos prévios sobre questões de ordem que talvez facilitassem o andamento dos trabalhos.

Não assisti a todos os pronunciamentos dos advogados de defesa dos réus do mensalão, transmitidos pela televisão em tempo integral. Dos que ouvi ficou-me a impressão, aliás confirmada, de que ali estavam os melhores advogados do país, capazes de promover peças de oratória de grande alcance jurídico, embora a maioria tenha optado por descaracterizar o mensalão transformando-o em atividades ligadas ao caixa 2.

O país aguarda a decisão do STF em relação ao mensalão. É notório o fato de que de tal forma o público foi impregnado pelas repetidas notícias dando conta de atos de corrupção entre membros da classe política que espera-se por punição dos culpados. Fica, pois, o STF em posição singular tendo às costas a opinião pública que deles espera punição dos culpados e absolvição dos inocentes. Mas, no fundo, não se acredita muito em punição, afinal este é o país onde viceja a impunidade e sabido é que peixes graúdos não caem na rede.

A bola está com os onze juízes do STF aos quais cabe uma resposta convincente ao povo brasileiro sobre tudo o que se disse e publicou sobre o mensalão nos últimos anos.

A “privada do futuro”

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Conta-se que um famoso escritor do século 18 detestava fazer cocô. Para evitar o ato poupava-se de comer, ingerindo o mínimo de alimentos necessários à sua sobrevivência. Caso diferente, mas próximo, é o de situações de bulimia nas quais as pessoas provocam o vômito imediatamente após a ingestão de comida.

“Quatro em cada dez pessoas não têm lugar para fazer cocô - isso são 2,6 bilhões de pessoas”. Quem escreveu isso foi Bill Gates que doou US$ 400 mil para oito universidades desenvolverem novas tecnologias para a privada do século 21.

A notícia pode ser lida no jornal “Folha de São Paulo” na edição de ontem. A preocupação de Gates, cofundador da Microsoft e sempre o primeiro na lista dos homens mais ricos do mundo, me fez lembrar as famosas “casinhas” ainda hoje existentes nos interiores desse vasto Brasil. Em geral feitas de madeira elas se localizam a certa distância dos casebres e ali as pessoas se aliviam, de cócoras, num buraco feito no chão, a chamada fossa. O grande problema é que as fezes acabam contaminando o solo e podem contaminar a água, facilitando a transmissão de doenças.

Assim, o dinheiro de Gates foi bem aplicado e surgiram os vencedores do “Desafio Reinvente a Privada” que visava “obter as melhores soluções sustentáveis e baratas para os problemas sanitários de países em desenvolvimento”, como se lê na notícia do jornal. O primeiro lugar ficou com o Instituto de Tecnologia da Califórnia que construiu um vaso sanitário acionado com energia solar gerando eletricidade e hidrogênio.

Diante disso tomo coragem para dizer que esse problema sempre me preocupou. Quando estudante fiz um trabalhinho cujo título era “A Máquina de Fazer e Transformar Cocô” que apresentei a meus colegas de classe. Não me recordo bem dos detalhes, mas a ideia era a construção de banheiros em lugares públicos, conectando as descargas para que as fezes fossem levadas a locais onde seriam transformadas e reaproveitadas. Bem, os meus colegas não levaram a sério a proposta e riram-se a valer fato que, aliás, era o que eu esperava. Na verdade fiz aquilo por tratar-se de algo diferente, embora tivesse em mente que o problema da deposição e encaminhamento das fezes era e é de suma importância. Daí que saúdo Bill Gates por mais essa sua iniciativa. Homem riquíssimo e poderoso destaca-se ele pelo interesse e auxílio a programas que visam a melhoria da qualidade de vida em todas as regiões do planeta. Entretanto, não custa lembrar que o vaso sanitário do século 21 só poderá ser bem utilizado em lugares que possuam redes de esgoto e ai ficamos diante de um grande problema, bastando lembrar que, no Brasil, cerca de 30 milhões de pessoas que vivem em grandes cidades não têm acesso à coleta de esgoto. Esse dado foi divulgado ontem pelo Instituto Trata Brasil e a GO Associados. Se isso acontece em grandes cidades pode-se imaginar a situação fora delas.

A “melhor idade”

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Concordo com a turma que detesta esse papo de “melhor idade”. Há quem se refira a isso com irritação dizendo que a velhice é uma m…, taxando esse período da vida como “pior idade”, etc.

Você está aguardando o momento de embarque num aeroporto e aparece uma mocinha que avisa sobre a prioridade de crianças, deficientes e pessoas da “melhor idade”. Muita gente de mais de 60 anos permanece na fila normal e não se dá o desfrute de gozar a regalia, talvez por não se sentirem  deficientes, idosos ou  sabe-se lá o quê.

Converso com pessoas acima dos 60 e verifico que a maioria delas não está a fim de se entregar. Um amigo meu participa de maratonas e conta sobre pessoas de quase 70 anos que correm bastante. Hoje em dia a expectativa de vida está mais alta e a turma da “melhor idade” está se virando para continuar ativa.

Por outro lado não deixa de ser verdade que o envelhecimento é acompanhado de uma série de restrições que se avolumam com o correr dos anos. Cada ano que passa pesa um pouquinho mais: as juntas não são as mesmas, os exames de laboratório mostram alterações, os movimentos e o equilíbrio podem ser afetados, a força muscular se reduz e doenças aparecem, algumas sérias. Isso sem falar na paciência talvez porque de tanto ver coisas repetitivas o idoso cansou-se de algumas delas. Além do que, como e sabe, a educação está em crise no país, daí que pouca gente confere aos idosos os cuidados e respeito que devem merecer.

Se começamos a falar sobre a vida dos idosos eis que nos defrontamos com a questão da sobrevivência. Suponha-se alguém de mais de 60 anos que pagou vida afora o INSS e agora atingiu o tempo de se aposentar. Os valores das aposentadorias são baixos daí que fica difícil manter o padrão de vida sem trabalhar. O problema se agrava com as inevitáveis necessidades de socorro à saúde porque a dependência do sistema público é difícil e não sem riscos. Quem pode pagar tem planos de saúde os quais, infelizmente, aumentam brutalmente as mensalidades quando o individuo se torna idoso. Isso não deixa de ser estranho porque pessoas pagam planos de saúde durante muitos anos quase sem utilizá-los: quando chegam à velhice e logicamente passam a precisar de cuidados o valor dos planos aumenta. A lógica das instituições responsáveis pelos planos de saúde é a de que se a pessoa vai usar mais tem que pagar por isso. Entretanto, não se consideram os muitos anos nos quais a utilização foi muito baixa. Lógica perversa.

Tenho mais de 60 anos e me sinto ótimo. Administro a minha paciência controlando os meus tímpanos, ou seja, ouvindo apenas o que me interessa e deletando o restante. Continuo com as minhas corridas e assim a vida segue. Uma vez por ano visito o meu médico e tento seguir as orientações que ele me passa. Assim, a vida não é ruim depois dos 60, mas atribuir à velhice o título de “melhor idade” beira a ofensa.

Qualidade de ensino

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Começa a época do ano em que os pais decidem em que escola matricularão seus filhos. Verdadeira feira de oportunidades se abre, dificultando a escolha. O que se quer para os filhos é sempre o melhor que, em termos de ensino, se traduz em qualidade.

Mas, o que vem a ser qualidade de ensino, que critérios utilizar para caracterizar uma escola como de boa qualidade? É bom que se diga, como premissa, que hoje em dia a noção de qualidade tornou-se diferente da do passado. De fato, os jovens de hoje parecem já nascer plugados em componentes tecnológicos e dispõem de formas antes não imaginadas de contatos através de redes sociais às quais pertencem. Afora isso, o mundo mudou demais, sendo impressionante a carga de informações disponíveis ao simples toque de um mouse ou através de inúmeros canais de televisão. A massificação da informação, as possibilidades praticamente ilimitadas disponibilizadas pela internet e o acesso a toda sorte de engenhocas eletrônicas, jogos etc. tornaram a antiga sala-de-aula verdadeira peça de museu, muitas vezes chefiada por professores que não acompanham o modo de ser das novas gerações.

Então, como escolher? O primeiro fator a ser levado em consideração é justamente o bom nível dos professores, ainda que estes não se mostrem perfeitamente adaptados às novidades disponíveis. O fator humano é essencial, sempre o será, situando-se acima de todos os outros. Mas há que se verificar se a escola possui meios de utilização dos novos recursos para compor, juntamente com os professores, o quadro essencial que caracteriza a boa qualidade de ensino. Obviamente não se descartam costumes da velha escola como a educação, a disciplina, o ambiente saudável, a preservação de valores morais e o respeito entre todos.

Entretanto é sempre importante lembrar que não basta a disponibilização de recursos avançados quando não se observa preparo e capacitação de pessoal para utilizá-lo. Há escolas que investem em computadores e outros recursos tecnológicos que na verdade são subutilizados ou nem mesmo usados. Servem tais equipamentos como atrativo em épocas de matrículas, mas permanecem sem práticas durante o curso.

Como se sabe infelizmente o nível do ensino no Brasil deixa a desejar fato preocupante e importante na hora de escolher o lugar de matrícula das crianças. Hoje mesmo divulgam-se dados do Ideb (índice de desenvolvimento da educação básica), mostrando que houve redução das notas do Ensino Médio em nove dos estados brasileiros: Acre, Maranhão, Espírito Santo, Pará, Alagoas, Paraná, Paraíba, Bahia e Rio Grande do Sul. 

A escolha de uma boa escola para os filhos exige pesquisa e muita atenção em relação a efetivos avanços na área de ensino.

Do Uruguai

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Para quem vive no atordoamento das grandes cidades brasileiras Montevideo surpreende. Não que não tenha trânsito: têm e nem sempre os motoristas uruguaios dirigem sem correr riscos. Mas, em tudo se percebe outro modo de ver as coisas, a começar por algo tão esquecido entre nós que se chama educação. De fato, o povo uruguaio é simpático e prima pela educação no trato com as pessoas. A cordialidade com os visitantes, em geral turistas, é digna de nota e não sei dizer se a encontraremos em nível semelhante em outro país.

Verdade que no Uruguai o índice de analfabetismo é inferior a 4% e o ensino, gratuito em todos os níveis de escolaridade, é reconhecido pela excelente qualidade. Aqui se recomenda cuidado com a violência, mas, ao que se constata, nem de longe estamos diante de um quadro igual ao que se observa nos dias de hoje em São Paulo ou no Rio. O que se diz é que o êxodo rural trouxe muita gente para Montevideo e essas pessoas vivem em condições de pobreza. Mas isso é coisa que não se percebe ao circular pelas ruas de Montevideo, capital na qual vive metade da população do país.

Em todo caso é bom ter cuidado. Estava eu tirando fotos na Praça Independência quando uma senhora mudou o rumo de sua caminhada e veio na minha direção. De repente parou na minha frente e me recomendou que ficasse atento com a máquina porque a Montevideo de hoje não é a de antes.

Montevideo me faz lembrar o modo de vida de algumas cidades brasileiras de anos atrás. Os uruguaios admiram e gostam do Brasil “país hermoso” como dizem. Vale a pena visitar o Uruguai, terra de amigos, cheia de atrativos e de muito boa mesa onde se comem carnes das melhores.

Se você está em busca de alguns dias de descanso, sem agitação, mas com muito que fazer o Uruguai é uma ótima opção.

O inferno pode ser aqui

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“O inferno são os outros” - disse Sartre.  Do que se conclui que as relações entre seres humanos são complexas demais, mesmo entre aqueles cuja convivência pode ser considerada boa.

Há muito anos conheci um senhor que vivia com a mulher numa casa situada nas imediações da Av. Brigadeiro Luís Antônio Antônio, em São Paulo. Por razões que não vêm ao caso acabei morando nessa casa por uns bons três meses. Eu chegava tarde da noite e saia muito cedo de modo que não privei de intimidade com o casal. Ainda assim, certa ocasião cruzei com o dono da casa no momento em que chegava. Era ele então um homem de seus 70 anos de idade e estava sentado na varanda, tomando a fresca da noite. Na ocasião conversamos um pouco e ele, sem que eu perguntasse, passou a falar sobre o seu casamento, confessando que deveria ter-se separado da mulher há uns 30 anos. Concluiu dizendo que por não ter tomado a atitude sua vida fora terrível. Agora estavam, ele e a mulher, velhos e não se suportavam.

Mas, as convivências difíceis não são restritas a casais que vivem juntos. Acontece em toda parte, sendo comum em ambientes de trabalho. Há sempre alguém, um chefe, um chefete, um encarregado, a pessoa vizinha da mesa de trabalho, enfim um homem ou uma mulher que para você se tornam insuportáveis. A coisa fica pior quando por razões financeiras ou contratuais você fica obrigatoriamente ligado a alguém de natureza diversa da sua com a qual é impossível o estabelecimento de qualquer sintonia.

Quando menino aprendi que a vida não termina com a morte. Bons recebem como prêmio a eternidade no paraíso sendo que aos maus destinam-se os horrores do inferno. Existe, ainda, uma instância intermediária, chamada purgatório, onde muitas almas cumprem penas até purificar-se e receber a benção de entrada no paraíso. Crianças quem morrem sem o batismo enfrentam as trevas do limbo, lugar que não sei bem como funciona. Disso tudo discordam os que acham que a vida termina com a morte, os espíritas para quem a reencarnação é um fato e fieis de outras religiões que creem em coisas diferentes.

A esta altura do campeonato sinceramente não sei bem no que acreditar. Daí que diante de tanta coisa errada e distorcida prefiro ficar com o dizer de uma tia minha, já falecida. Mulher sofrida para quem a vida não passava de período de purgação neste mundo ela repetia: o inferno é aqui mesmo.

Os fatos que presencio  no dia-a-dia me levam a supor que talvez a minha tia estivesse mesmo certa.

Vitória e derrota

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Há quem ache absurdo alguém passar quatro anos de sua vida preparando-se para competir numa olimpíada. O pior é que num dado momento se reúnem os melhores praticantes de determinada modalidade esportiva num mesmo lugar e passam a competir entre si.  Como grande parte das disputas são individuais, obviamente só um competidor receberá a medalha de ouro e será o melhor entre os melhores, glória não pouca para qualquer ser humano.

Entretanto, nas olimpíadas são os vencedores aqueles que mais chamam a nossa atenção. É atrás deles que correm os repórteres, deles são as principais imagens e são as declarações deles que mais nos importam. É interessante ouvir algo de alguém que venceu uma prova dificílima, uma luta quase impossível de ser ganha e assim por diante. A vitória confere a esses atletas algo de sobrenatural, de ter ido ao limite ou além da capacidade humana, conferindo-se um halo de superioridade a quem a partir de agora entra para a história através de seu magnífico feito.

Do outro lado ficam os perdedores, mais numerosos, aos quais pouco mais resta que algum desabafo, muitas vezes para assumir a própria culpa pelo desempenho abaixo do esperado. A situação fica pior quando o perdedor era uma grande esperança que se viu fraudada na hora da competição.

Assisti ao jogo de basquete entre as seleções do EUA e a da Argentina. É preciso dizer que a Argentina tem seleção muito forte de basquete, classificada entre as melhores do mundo. Jogam bem aqueles argentinos: raçudos, entusiasmados, dando tudo o que podem em busca da vitória. Entretanto, do outro lado, havia uma seleção de qualidade e capacidade indiscutíveis. A Argentina até que segurou bem o jogo até mais ou menos a metade do tempo. A partir daí os norte-americanos começaram a jogar de forma quase impossível e estabeleceram enorme vantagem sobre a seleção argentina.

Confesso que fiquei meio irritado com o que via. De um lado observava-se uma quase brincadeira tal a facilidade nos lançamentos redundados em cestas. De outro, jogadores excelentes, mas nitidamente inferiorizados diante de seus opositores. Ali, na quadra, espelhavam-se bem a vitória e a derrota levada aos seus limites. E era a derrota absoluta que se impunha e me impedia de vibrar com a beleza e a perfeição do jogo da seleção dos EUA.

Lembrança de um “curioso”

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Se bem me lembro aconteceu no cartório quando do registro de nascimento do meu primeiro filho. Você sabe como essas coisas se passam, alguns pais novos ficam junto a um balcão, esperando a vez de serem atendidos. No meio do registro o funcionário do cartório pede que testemunhas assinem o livro. Há quem traga testemunhas, mas em geral ali vale mesmo a solidariedade entre os pais que assinam uns para os outros. Foi assim que pedi a um senhor que assassine o livro de registro como testemunha do nascimento do meu filho.  Estava assinando quando o funcionário do cartório perguntou sobre a profissão dele. Ao que obteve como resposta, isso depois de alguns segundos de indecisão:

- Sou um “curioso”.

Não sei dizer se por esse Brasil afora ainda existem os tais “curiosos”. Para quem não sabe o ”curioso” é um cidadão, em geral habilidoso, que é capaz de fazer um pouco de tudo. Ele conserta, repara, mexe com eletricidade, encanamentos etc., mas não é especialista em nada. Vida afora vai aprendendo na base da experiência, faz um servicinho aqui, outro ali, disso vai ganhando o dinheirinho para o sustento.

Nunca mais vi o “curioso” que testemunhou o nascimento do meu filho. Privei com ele uns poucos minutos e saiu da minha vida para sempre, exceto por ter deixado o seu nome gravado no registro de nascimento do meu filho.

Antes e depois dele conheci outros “curiosos” e posso afirmar que a curiosidade é profissão, embora não reconhecida oficialmente. Obviamente, não estou me referindo à curiosidade comum aos seres humanos que tantas vezes nos leva a intromissões até indesejáveis. Por outro lado deve-se lembrar de que a curiosidade também é positiva e talvez não seja demais dizer que sem ela os inventores seriam tolhidos deum instinto fundamental em suas atividades.

Talvez por isso não soe estranha a notícia de que pousou em Marte o veículo denominado “Curiosity” enviado pela NASA para nos enviar notícias sobre aquele planeta. O veículo se move com energia gerada pelo plutônio, pesa uma tonelada e tem dez equipamentos científicos.

Já vão longe os dias em que se imaginava que em Marte vivia uma civilização avançada e sempre guerreira nas histórias em quadrinhos. O que a “Curiosity” vai procurar em Marte são vestígios de vida, possíveis bactérias e outros componentes do planeta que  matem a nossa curiosidade sobre o que se passa por lá.