2010 agosto at Blog Ayrton Marcondes

Arquivo para agosto, 2010

Rubem Braga

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Quando nada ocorre para escrever e o pensamento parece embotado o melhor é correr os olhos nos títulos de livros enfileirados na estante. Pega-se um ou outro, folheia-se, leem-se alguns parágrafos e, sem que se perceba, de repente o mundo é outro, entra-se no universo acolhedor da literatura.

Lugar seguro esse, não tão calmo, mas seguro. Aqui uma pitada de Cervantes, ali um poema de Borges que vale reler mil vezes. Mais à frente um conto de Cortázar, isso sem esquecer Shakespeare que envia Macbeth, espada em riste e sobre o seu cavalo, entrando pela janela. Há também Faulkner e Hemingway, as poesias de Drummond, a capa com o nome de Pirandello e a Morte Rubra que de repente é lançada diretamente das páginas de um conto de Poe.

Circulando entre livros, apartado da realidade para sobreviver dentro da ficção topa-se com Rubem Braga. O livro é velho, alguém riscou a capa, provavelmente foi comprado em algum sebo. Trata-se de uma coletânea com os melhores contos de Rubem Braga, assim os consideraram aqueles que os colheram em outros livros do cronista e os puseram nesse, preparando-o para esta manhã obtusa em que se busca alguma coisa sem saber bem o quê.

Abre-se o livro numa página ao acaso, aí está o tal casal no ponto de ônibus, o casal da “vida estreita”, noutra página o menino que faz perguntas ao vendedor de passarinhos, mais à frente o caso do homem que passou seis dias trancado com a amada, sem atender telefone. Vai-se passando de uma crônica à outra, absorto, esquecido da hora de sair para o trabalho, pensando se afinal a realidade não passa de uma invenção maldosa de alguém que tinha muita raiva dos homens. Isso dura até que dois carros batem na esquina, o barulho interrompe a leitura justamente quando um narrador encontra um par de luvas femininas atrás de uma pilha de livros. É quando, muito irritado, você sai à janela e começa a gritar, dizendo que as pessoas não devem bater carros, é preciso ler Rubem Braga e coisas assim.

Não demora a que você repare que ninguém o ouve. Então você volta aos livros, desconfiado de que talvez você não seja real e tenha saído das páginas de uma crônica do Rubem, você personagem dele, feito para esta manhã cinza e fria, para o enredo em que um cara não tinha o que escrever e se perdeu olhando para os nomes dos livros da sua pequena biblioteca.

Escrito por Ayrton Marcondes

19 agosto, 2010 às 12:02 pm

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O Sabor da Vida

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O instigante título “O Sabor da Vida” foi escolhido pelo escritor Gilberto de Mello Kujawski para enfeixar em livro uma coletânea de ensaios realmente saborosos. O livro é datado de 1999 razão pela qual, vez ou outra, conduz o leitor a reflexões sobre acontecimentos circunstanciais daquele ano. Mas, isso pouco importa porque o que pulsa nos ensaios de Kujawski é uma revisita à inteligência, expressa em considerações sobre temas variados e sempre interessantes. 

No ensaio que abre a coletânea, cujo título é “Ensaio sobre o Ensaio”, Kujawski diz a que vem sua escrita. Definindo o ensaio e distinguindo-o de outras formas de literatura, o autor nos recorda de que a tradição ensaística, tão comum no país até a década de 60, praticamente deixou de existir, abatido que foi pela especialização intelectual e científica. Explica-nos Kujawski que o ensaio sintoniza-se com a livre expansão da inteligência e nutre-se de ideias gerais as quais, por natureza, distanciam-se de especializações e engajamentos doutrinários.

É a partir dessas premissas que Kujawski desenvolve sua ensaística, focando temas hoje infelizmente relegados a segundo plano, dada a condução apressada e literalmente engajada da crítica que tem sido praticada no país. O que se observa em cada página é a mestria do autor a dividir com o leitor o sabor do texto que se insinua em considerações que nos convidam à reflexão sobre temas propostos e sempre abordados com grande lucidez.

Pode-se dizer que há um pouco de tudo em “O Sabor da Vida”. Há ensaios em que Kujawski se detém para esclarecer temas com frequência confundidos como a fundamental diferença entre erudição e cultura; outros trazem de volta ao leitor personalidades como Miguel de Unamuno, Fernando Pessoa e Sartre, destacando-se nessas leituras o vasto conhecimento do autor sobre filosofia e literatura; há o impressionante ensaio “A vida das imagens” no qual o autor recorre a Roland Barthes e Emile Zola para projetar luzes poéticas sobre o significado e função da fotografia; ao lado de incursões sobre o sempre atual maio de 68 figuram textos de cunho político, destacando-se a globalização e o poder supranacional; noutro ensaio a definição de intelectual é estampada, enfatizando-se ao algum ridículo da condição as benesses da inteligência e do talento.

Como um grande rio cujas águas são engrossadas por afluentes poderosos, os ensaios de Kujawski encorpam-se para desaguar num último que justamente é o que nos fala sobre o sabor da vida. Nele o leitor encontra-se com um final feliz no qual o autor serve-se dos sentidos do paladar e olfato para relacionar o interesse pela boa mesa, a sensibilidade enfim, com o encanto da vida e a intimidade com o saber. A esse ponto não esconde Kujawski o seu amor pelas pequenas coisas que contribuem para dar sentido à vida, fatores que aguçam os sentidos e conduzem o homem à plenitude da condição de ser pensante.

Essas considerações, ligeiras demais para retratar obra de conteúdo variado, interessante e profundo, visam convidar os leitores ao livro de Kujawski. Vale dizer que, infelizmente, o movimento editorial brasileiro é pouco atento a obras desse gênero, daí a pouca divulgação de trabalhos como este de Kujawski. É pena. “O sabor da Vida” não é apenas um livro que se lê com prazer: suas páginas são um convite ao exercício da inteligência, têm caráter informativo e, em muitos momentos, mostram-se didáticas ao trazer à tona conceitos com frequência confundidos.

Obra para ser lida e refletida, assim é “O sabor da Vida”.

Os dinheiros para a Copa-14

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Não é verdade que o povo brasileiro seja desligado, ou no mínimo desatento, como se proclama por aí. Prova-o a pesquisa do Datafolha segundo a qual 57% da população desaprovam o uso de dinheiro público para a reforma de estádios para a Copa de 2014.

A notícia chega em boa hora e confronta-se com certo ufanismo tresloucado que corre solto nos meios oficiais e não oficiais. De repente o Brasil está crescendo, deixando sua condição terceiro-mundista fato que gera sentimento de que aqui tudo se consegue, versão nova da famosa “terra em que tudo dá”.

A verdade é que a poderosa FIFA encosta o país na parede e está a exigir muito mais do que, por exemplo, cobrou da África do Sul. Nada serve, o país não está se preparando segundo os combinados, o atraso nos preparativos é grande, a ladainha é longa. Embora haja muito de verdade em tudo isso, o fato é que não escapa aos brasileiros a noção exata das urgências que temos, das prioridades para emprego do dinheiro público. Estão aí os problemas de segurança, do saneamento, da saúde, da educação e, embora sempre empurrada para debaixo do tapete e maquiada por estatísticas nem sempre confiáveis, a pobreza é uma realidade.

Isso não quer dizer que não devemos realizar a Copa do Mundo ou que os brasileiros não a mereçam. O que incomoda é o artificialismo, o ufanismo de autoridades pulando e chorando de alegria com a escolha do Brasil para sediar a Copa, atitudes essas que, pelo visto, foram embaladas mais pelo entusiasmo que por dados concretos. Veja-se nesse sentido o caso de São Paulo, estado mais rico da federação que corre o risco de não ter jogos da Copa porque não possui estádios que respondam às exigências da FIFA.

Todo mundo sabe que Copa do Mundo é um grande negócio, que leva e traz muito dinheiro. Há que se considerarem os possíveis lucros, a projeção do país pela realização do grande evento e outros fatores. Entretanto, ao se propor a candidatura do país, o mínimo que se esperava era a responsabilidade diante de realização de tal magnitude. Afinal, não se tem por aqui a infra-estrura necessária, a começar por aeroportos que deem conta do movimento que há de vir.

No fim, espera-se por algum milagre e atitudes de consenso. O que não dá é para mais uma vez apelar-se para o tal “jeitinho brasileiro” o qual certamente será acompanhado de prejuízos palpáveis.

A boa notícia é que, desta vez, a população está atenta.

Machado de Assis: o homem e a obra

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O tema é recorrente e atravessa décadas, sugerindo que jamais poderá ser devidamente elucidado: como explicar a obra machadiana em confronto com o homem Machado de Assis?

As biografias de Machado tendem a vê-lo sob dois ângulos: o primeiro se atém a vida do escritor propriamente dita, lida através de depoimentos de seus contemporâneos e fatos conhecidos sobre a sua existência; o segundo é o que alia às características anteriores a trajetória das personagens dos romances de Machado de Assis. No primeiro destaca-se a obra de Mário de Alencar, filho do escritor José de Alencar, que privou do convívio de Machado no final de sua vida. O último Machado, viúvo e solitário, teria abandonado, pelo menos em parte, a sua notória reclusão e deixado transparecer a Mário de Alencar o aspecto humano que se escondia sob a face pública do escritor. No segundo evidencia-se o esforço dos biógrafos em suprir lacunas de períodos desconhecidos da vida do escritor com passagens da vida de suas personagens.

Em ensaio, de 1954, sobre Dostoievski, Olívio Montenegro lembra que, para André Gide, “raramente um autor de romance chega a fundir-se com tanta naturalidade nos seus personagens como Dostoievski”. Continua Montenegro dizendo que se constitui em grande problema para a crítica indagar se o homem é inseparável do artista, ou pelo contrário, se a arte esconde o homem. Sobre esse assunto afirma Montenegro:

Não se acerta, por exemplo, em concordar o acento divinamente lírico, a doçura de um tão suave misticismo da poesia de Verlaine, da sua poesia inefável de “Sagesse” com a desordem que se via no homem com a sua concupiscência e seus excessos de boêmio; da mesma maneira que não se identifica o sólido senso pedagógico nem os pensamentos desinteressados e vivos que se encontram no “Emílio” de Rousseau, com o selvagem egoísmo do homem que manda para a roda todos os filhos; nem por outro lado se encontra uma fórmula para conciliar em Bacon o cortesão e o filósofo, ou em Rafael o grande libertino e o pintor de Madonas.

Que me perdoem pela lembrança, mas talvez os mais jovens não tenham notícia sobre a roda, lugar onde eram colocados os nascidos indesejáveis sem que os pais fossem identificados. Essas crianças, acolhidas por entidades beneficentes, eram adotadas por famílias que desconheciam a origem delas. Vale citar que o fato de Rousseau enviar os filhos para a roda, citado por Montenegro, me era de todo desconhecido.

Não será este o espaço adequado para aprofundamento da discussão sobre o perfil de Machado de Assis relacionando-o à obra que nos deixou. O homem Machado legou à posteridade, talvez propositadamente, um perfil enigmático de si mesmo. Em vida ele não passou de um funcionário público bem comportado cuja rotina consistia em ir de casa ao trabalho com passagens pela Livraria Garnier, na Rua do Ouvidor, ao fim do expediente. Na livraria reunia-se com alguns amigos e mais ouvia que falava, reservando-se o direito de sair quando o tema eram assuntos picantes, política etc. Alguns biógrafos insistem em caracterizá-lo como mestiço e epiléptico vendo nessa condição êmulos para a obra que ele escreveu. Outros não o perdoam pelo aspecto nada pictórico de sua obra, dado que não se empenhou em incluir a natureza do país em seus romances. Todos concordam no fato de que Machado era um sujeito retraído, mas nem por isso deixando de ser gregário: de seus esforços nasceu a Academia Brasileira de Letras à qual presidiu.

O mulato pobre que circulava pelas ruas do Rio de Janeiro em pleno império regido por Pedro II tornou-se um grande intelectual e deixou obra ímpar, ainda hoje insuperável. Se não se aventurou pessoalmente, o fez através de suas personagens que passaram a fazer parte do cotidiano dos brasileiros como se fossem seres reais. Bráz Cubas, Capitu, Quincas Borba e tantos outros se incorporaram à cultura do país e mesmo hoje são muito lembrados e citados pelas situações romanceadas em que se envolveram, situações essas algo inesperadas quando se pensa na trajetória do homem que as forjou.

Retomando a dúvida de Olívio Montenegro, parece-nos que, em relação a Machado de Assis, a arte escondeu o homem. Mas, que isso não seja tomado em definitivo: Machado de Assis é sempre imprevisível e, de repente, numa de suas crônicas, despretensiosa, poderemos encontrar um desmentido a essa conclusão.

Afinal, para que servem as estatísticas?

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No Brasil que voltou atrás e assinou em favor das sanções ao Irã corre solta uma grande manobra de números. Confesso que sempre tive algum receio de números dado que os especialistas mais hábeis muitas vezes são dados a mágicas numéricas que redundam em soluções muito a gosto dos interesses dos envolvidos. Uma das coisas que mais ouvi na minha vida foi que os números não mentem, no final as coisas se mostram em acordo com os cálculos, a matemática conduz à verdade e por aí afora.

Apesar de meus parcos conhecimentos matemáticos, em varias ocasiões fiz uso da estatística em situações que requeriam estudo mais aprofundado de casos. Assim, não me são de todo estranhos o cálculo de probabilidades, o desvio padrão e coeficientes utilizados em estatística. Daí que muito me incomoda a dança de números que, segundo se noticia, visa a apresentação de dados maquiados com fins eleitoreiros. Esse assunto tem chamado a atenção do público ultimamente, daí ser impossível ignorá-lo.  A toda hora fala-se sobre índices de superávit e PIB per capita acima dos valores reais e até de omissão de dados negativos – tudo isso pode ser lido nos jornais de hoje, por exemplo.

Pois tudo isso é muito irritante já que dos cidadãos se exige muita correção. Um errinho no imposto de renda é lá vem a glosa ou multa, atraso em pagamentos de contas e os juros doem no bolso, isso sem falar no sufoco de impostos cobrados às empresas e aos cidadãos.  Não se pode mentir sob o peso de ser taxado ou punido. Mas, estatísticas enganosas podem ser usadas publicamente.

O bom do Brasil é que ele é grande, forte e aguenta tudo. O mesmo não se pode dizer da democracia. Ela é uma dama muito sensível, veste-se de branco e não se adapta e nenhum tipo de sujeira. Assim, aos mais velhos que já assistiram a filmes como o que agora está sendo exibido no país, aos que viveram sob regimes de exceção, a essas pessoas tudo isso inquieta e muito.

O que se espera é que as autoridades reflitam muito e tenham a credibilidade como ponto de honra. No mais, os cidadãos aguardam desmentidos oficiais e convincentes em relação às notícias que circulam sobre números alterados e estatísticas falsas. Isso é o mínimo que se pode esperar.

Direita e esquerda

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No fundo do quintal da minha casa existiam dois canteiros, cada um deles separado do resto por uma cerquinha. O da direita era bom: o que se plantava nele crescia depressa, semente dava legume, semente dava flor, roseira enxertada dava rosa de cor diferente, misturada, bonita.

No canteiro da esquerda não valia plantar nada: semente morria sem germinar, roseira secava, flor nenhuma se abria ali. Meu pai dizia- era o tempo da ditadura – que a esquerda tinha medo de florescer porque iam cortar a cabeça dela. Minha mãe, mais prática, estudava se o problema não seriam os raios solares, a terra, a sombra do telhado, a qualidade das sementes, a água e até coisas imponderáveis.

Como o problema persistia, tomou-se uma atitude radical: a terra dos dois canteiros foi removida e trocada. A do canteiro da direita foi para o esquerdo, a do esquerdo para a direita. Depois foram plantadas, nos dois canteiros, sementes escolhidas iguais e tomaram-se cuidados semelhantes com a rega e os raios solares.

Depois de algum tempo verificou-se que o problema se mantinha. Minha mãe constatou que enquanto as plantas do canteiro da direita iam em frente, as do esquerdo nem chegavam a nascer. Meu pai viu isso e sentenciou:

- A esquerda não vai em frente nesse país.

Minha mãe, sempre prática, desistiu do canteiro da esquerda. Eu era menino e estranhei. Perguntei a ela por que tinha desistido. Ela passou a mão na minha cabeça e disse:

- Não acredite no seu pai, isso não tem a ver com política. É que não dá mesmo.

Então tinha uma moça da roça que era empregada em casa. Ela ouviu a conversa e encerrou o assunto:

- Tem pedaço de mundo que Deus esqueceu, Ele não toma mais conta. É lugar que quem comanda é o Coisa-Ruim que faz tudo do jeito dele. Esse é o problema ali da esquerda.

Ficou assim.

Escrito por Ayrton Marcondes

12 agosto, 2010 às 12:21 pm

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O fator feminino nas eleições

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Vi na televisão um jornalista dizendo que falta a José Serra presença suficiente para empolgar os eleitores. Serra é articulado, capaz, sério, educado, cortês, mas não dado a repentes que tornem situações embaraçosas favoráveis a ele. Assim, não apaixonaria os que o seguem: vê-se nele o candidato certo, mas a sensação de intimidade com o homem deixa a desejar.

Serra está atrás de Dilma Roussef nas pesquisas e atribui-se ao presidente Lula esse resultado, afinal ninguém sabe ao certo quem é a candidata e do que é realmente capaz. Agora surgem dados de pesquisas demonstrando que Serra vem perdendo força no eleitorado feminino. São as mulheres, portanto, que estão desertando de Serra, daí a sua queda nas pesquisas.

O Brasil nunca teve uma presidenta da República. Nisso a história do país difere da de países vizinhos como a Argentina e o Chile. Teria chegado a hora das mulheres mostrarem a sua força no país?

Obviamente, uma pesquisa com dados que mostram a queda de Serra por conta do eleitorado feminino suscita muita conversa mole - entre os homens, principalmente. Esse é o tipo de coisa que desperta a sempre presente e pródiga macheza do chamado sexo forte. Vai daí que se especula sobre a influência da pretensa ausência de magnetismo de Serra sobre o eleitorado feminino. De um rapaz, estudante de sociologia, ouvi que caso Serra fosse um cara realmente bonito, levaria na manha as eleições. Para esse rapaz Serra não desperta nas mulheres o carinho que se dedica a um pai ou a um amante. Convenhamos que isso soa demasiado porque, além de opinião pessoal, passa-se a exigir de um candidato mais do que capacidade e retidão. Aliás, nesse sentido, não há que se negar que muita gente que vota tem lá alguma inclinação para aprovar certo tipo de safadeza meio encantadora, daquelas relacionadas a feitos de simples macheza - quando não de natureza sexual - a partir de políticos praticantes. No que, aliás, somos diferentes dos norte-americanos que, falsamente ou não, mostram-se muito apegados aos princípios que os puritanos do May Flower fizeram desembarcar nas terras do grande país do norte - Bill Clinton que o diga. Mas, talvez, aí fale mais alto o espírito latino, veja-se o caso Berlusconi na Itália e o estilo inconfundível do ex-presidente Carlos Menen, da Argentina.

Se tudo isso for verdade, se o que as más línguas dizem por aí valer alguma coisa – o que é muito discutível, destaque-se – o PSDB terá escolhido o candidato errado. O que se diz é que Aécio Neves tiraria de letra a diferença com o eleitorado feminino e suplantaria a sua adversária nas pesquisas. Isso em se concordando com a simpatia inerente a Aécio e o sempre presente nome de Tancredo Neves que o acompanha.

Que me perdoem as feministas se acharem que essas mal traçadas visam diminuir as mulheres, sugerindo que não têm inteligência e votam apenas pelo glamour dos candidatos. Pelo amor de Deus, não é nada disso, trata-se apenas do que andam falando por aí. Quanto a José Serra, que não entre nessa: se o problema for realmente o que se diz não se trata de nada que um bom marqueteiro, auxiliado por um especialista do mundo fashion, não consiga resolver. Qualidades não faltam a ele para assumir a presidência da República.

Avante!

Brian Wilson Reimagines Gershwin

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Aí está Brian Wilson reinterpretando a obra dos irmãos George e Ira Gershwin, naquilo que se convencionou chamar de “re-imaginação das músicas dos Gershwin”. O álbum se chama “Brian Wilson Reimagines Gershwin” e se compõe de doze faixas re-imaginadas pelo gênio de Brian.

Não deixa de ser emocionante ouvir a “Rhapsodhy in Blue”, de George, vertida pela imaginação de Brian. Trata-se do encontro atemporal de dois gênios. George Gershwin (1898-1937) compôs para a Broadway e músicas clássicas e populares. Suas composições têm sido gravadas ininterruptamente por artistas de renome e são muito conhecidas. Muita gente ouve composições como “Summertime” e “Love Is Here To Stay” sem identificá-las como de autoria de Gershwin.

George Gershwin morreu precocemente, aos 38 anos, de idade, vitimado por um tumor cerebral. Na ocasião estava em Hollywood, trabalhando numa partitura, e sofreu um colapso; a morte sobreveio durante cirurgia para retirada do tumor.

Brian Wilson é o grande criador dos Beach Boys que mudaram os rumos da música pop nos anos 60. Considerado um dos mais criativos e influentes compositores do século XX, Brian atingiu limites inimagináveis para a sua época com composições incríveis. O álbum “Pet Sounds”, de 1966 é tido como marco da música contemporânea e, quando não o primeiro, o segundo maior de todos os tempos.

Entretanto, o Brian Wilson que se ocupa da obra de Gershwin pode ser considerado como um renascido. No final dos anos 60 Brian começou a apresentar problemas mentais com lapsos que determinaram o fim de sua exuberância criativa. Seguiram-se surtos de depressão e psicose que evoluíram por cerca de 30 anos de tratamento psiquiátrico, internações e desintoxicações. Vez por outra Brian tinha momentos criativos, mas sem o lampejo de antes. Só depois do longo período de afastamento Brian voltou a se apresentar, embora ainda tenha algumas restrições, seqüelas de sua doença. Em 2004 decidiu terminar um álbum interrompido em 1967, denominado “Smile” que, quando lançado, foi aclamado pela crítica e milhares de fãs. Mas, o trabalho original de “Smile” só pode ser retomado com a ajuda de outros músicos dadas as dificuldades de concentração de Brian.

Em “Brian Wilson Reimagines Gershwin” Brian não se apresenta como simples cover dos tradicionais sucessos de George Gershwin. Embora o álbum tenha caráter romântico Brian foge do lugar-comum de muitas interpretações correntes e, mais que isso, reconstrói duas músicas inéditas de Gershwin:The Like in I Love You” e “Nothing But Love”.

Existe um ensaio intitulado “Os Construtores do Mundo” o escritor austríaco Stefen Zweig (1881-1942) afirma que o século XIX não gostava de seus gênios. Cita como exemplos da mão pesada do século, entre outros, o grande poeta e romancista alemão Friedrich Hölderlin (1770-1843), que enlouqueceu aos 35 anos de idade, e o escritor russo Alexandr Serguéievich Pushkin (1799-1837), abatido num duelo em defesa da sua honra.

Não posso deixar de ver no fato de Brian Wilson interpretar tardiamente Gershwin uma ligação estranha entre gênios de alguma forma roubados à sua arte por fatores que afetaram dramaticamente os seus cérebros e criatividade, um deles morrendo, o outro sendo condenado a duradouro exílio criativo.

Drogas no esgoto

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Você sabe o que é benzoilecgonina? Não? Pois esse composto químico é eliminado na urina por pessoas que consomem cocaína. Graças à benzoilecgonina pode-se calcular o consumo de cocaína de uma cidade inteira, num dado período. O método consiste em analisar as redes de esgoto. Através dele pode-se, até mesmo, determinar o consumo de cocaína num dado quarteirão.

Os dados obtidos com análises de Benzoilecgonina são importantes e, segundo notícia publicada pelo jornal Folha de São Paulo, já estão sendo utilizados pela Polícia Federal. Assim, a análise da rede de esgoto das cidades contribuirá para o combate ao tráfico de drogas já que permite identificar as regiões onde elas são mais consumidas.

A análise de redes de esgoto já vem sendo utilizada em outros países. Um estudo feito em 2005 na Alemanha, através de análises na rede de esgotos, demonstrou ser o consumo de cocaína bem maior que o que se supunha.

O consumo de cocaína é um problema mundial de saúde pública com graves consequências de natureza social. Exames toxicológicos que permitem a detecção de produtos biotransformados de cocaína são extremamente úteis para a prevenção e combate ao uso dessa droga.

Eu, consumista?

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Meu caro amigo, olhe para a lente da verdade e responda: você é consumista?

Grande parte das pessoas nega peremptoriamente, embora seja dada ao consumo exagerado. Mas que fazer se este bom e velho mundo se transformou num imenso shopping de atrativos que nos acossam por toda parte, para não dizer por todos os lados? Você liga a televisão e lá estão as propagandas afirmando que está mais que na hora de trocar o seu carro, comprar isso e aquilo…recebe a sua correspondência e, no meio das contas a pagar, encontra aqueles caderninhos com sugestões de produtos variados que podem ser comprados pela internet em suaves dez ou doze prestações…nos sinais de trânsito dá de cara com aquelas moças, entregando folhetos sobre a venda do apartamento dos seus sonhos, tudo financiado…e por aí afora.

No mundo globalizado tudo está á venda, até mesmo o prazer que você pode adquirir, por algumas horas, através dos favores sexuais de uma moça contratada via internet. E que dizer das maravilhas tecnológicas que surgem da noite para o dia como os computadores com os novos processadores, os tais i3, i5, i7? Como é que você, um cara moderno, atualizado, pessoa do seu tempo pode ficar à margem de algo que promete dar mais fluidez ao seu trabalho, à sua vida? E quanto às roupas, os sapatos, as bolsas e os novos cremes que prometem rejuvenescimento, fazendo a delícia das mulheres?

Pois. No mundo de hoje grande parte do lazer foi transformado em comprar, ainda que os custos ultrapassem as capacidades de pagamento. Aliás, não é por acaso que a mídia fala muito sobre o calote dos cartões de crédito que estão sendo usados em proporções gigantescas.

Bem. Falar mal dos outros é bom, criticar a sociedade melhor ainda. E eu? Sou consumista? Que responderei ao olhar diretamente para a lente da verdade?

Embora me ache contido confesso que tenho lá os meus sonhos de consumo os quais, de vez em quando, realizo. As minhas principais taras ligam-se aos avanços tecnológicos. Essas novas filmadoras full HD, as câmeras fotográficas com muitos megapixels e os notebooks… Mas, me diga: quem pode resistir a um Sony Vaio com tela full HD, gravador de bluray e processador i7? Pena que seja tão caro, mas não custa sonhar. De repente aparece uma boa oferta naqueles caderninhos que chegam pelo correio…

Escrevo essas mal traçadas porque hoje de manhã senti certa culpa em relação ao consumismo. Encontrei, aqui no prédio, um vizinho que me propôs uma troca de garagens. A coisa funciona assim: as garagens se localizam no térreo e no mezanino; a minha fica no térreo e a dele no mezanino. Ele propôs a troca, dizendo que não gosta do mezanino. Perguntei por que e ele me disse que para levar o carro ao mezanino há que se subir uma pequena rampa.

- E que tem isso? – perguntei

O vizinho me explicou:

- Ao subir, o carro despende um esforço maior que se faz apenas de um lado, provocando maior desgaste nos pneus do mesmo lado.

Não fiz a troca das garagens porque estou satisfeito com a minha. Mas não consigo me esquecer desse homem que se preocupa com os mínimos detalhes e, certamente, não é dado ao consumo. Tem ele um carro que não é novo, do qual cuida muito bem. É atento ao prejuízo que poderá ter caso um pneu se desgaste mais que outro, ainda que isso leve anos para acontecer dado que a rampa a subir é mínima.

Pelo amor de Deus, não estou criticando o meu vizinho. Ele é feliz do jeito dele, certamente não sonha com um Sony Vaio full HD e deve dar uma grande banana para esse tal mundo globalizado, cheio de ofertas.